Adolescentes resolvendo crimes são sempre aposta de sucesso na ficção. Seja por nosso desejo de ser relevantes ainda jovens como os personagens, seja pelo gosto por mistérios e reviravoltas. Logo, adaptar o o livro de Holly Jackson, Manual de Assassinato para Boas Garotas era uma aposta certeira para a Netflix.
Acompanhamos Pip Fitz-Amobi (Emma Myers) determinada em solucionar um crime mal resolvido em sua pacata cidadezinha britânica. Cinco anos atrás, Andie Bell (India Lillie Davies) desapareceu. Foi supostamente morta pelo namorado Sal Singh (Rahul Pattni), que cometeu suicídio após confessar. Mas Pip não acredita na culpa de Sal, e usa um projeto para conseguir uma vaga na faculdade como pretexto para investigar.
À partir daí a fórmula é bastante conhecida para quem acompanha obras do gênero. A protagonista engaja uma investigação amadora, que de alguma forma é mais eficiente e detalhista que a profissional, mesmo com a moça eventualmente fazendo as perguntas erradas. E tá tudo bem, pois a graça desse tipo de obra é investigar junto, e eventualmente ultrapassar os personagens nas deduções e descobertas.
E a história do livro de Jackson é bastante eficiente em criar uma trama rocambolesca e cheia de reviravoltas para nos entreter ao longo da investigação. Tudo é claro, sustentado no clichê de cidadezinha do interior cheia de esqueletos nos armários dos moradores. É a criatividade na criação desses segredos e na forma como interferem no mistério, que fazem a brincadeira de detetive valer à pena.
Outro fator que prende o público são os personagens. Tanto a protagonista, única de quem temos certeza da inocência, e que tem um motivo pessoal por trás da investigação. Quanto os aliados e suspeitos, que trocam de posições a todo tempo. Ao longo dos seis episódios desconfiamos de praticamente todos em cena, em algum momento. Até mesmo do parceiro de investigação Ravi (Zain Iqbal), e dos pais da protagonista, ainda que destes desconfiemos por outros motivos que não o crime.
Emma Myers é eficiente como âncora que move a trama, e nos representa ao longo da investigação. Em outras palavras, carrega bem a série. Enquanto o restante do elenco acompanha o bom trabalho, criando a atmosfera onde todos podem ser culpados.
Já o charme da cidadezinha britânica cheia de construções antigas, que serve de cenário, é outro ponto alto na criação deste mundo de fachada perfeita, mas com podres na superfície. Um lugar bucólico onde parece que crimes não aconteceriam, mas que abrigam "Festas do Apocalipse" em suas florestas mágicas e cavernas ocultas.
A resolução do caso, por sua vez, surpreende até o último minuto. Embora precisemos relegar uma ou outra conclusão tiradas da cartola por Pip, todas as conexões são coerentes, apesar do emaranhado de histórias e personagens que o roteiro usa para nos confundir. O desfecho do caso em questão é definitivo, mas a espaço para novas investigações, como acontece na versão literária que já tem uma sequencia. Uma segunda temporada é possível, mas não obrigatória, o caso de Andie Bell foi encerrado. Resta esperar a renovação da Netflix.
Adolescentes enxeridos investigando crimes que adultos não desvendaram - ou desvendaram errado, como é o caso - não são novidade. Nem por isso Manual de Assassinato para Boas Garotas deixa de ser um entretenimento gostoso de acompanhar. Intrigante o suficiente para fisgar os mais experientes, e principalmente empolgante para os jovens que acompanham suas primeiras histórias de detetives. Mesmo que não ganhe segunda temporada, é uma boa adição ao catálogo da plataforma.
Manual de Assassinato para Boas Garotas tem seis episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix!
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