A evolução através dos figurinos em Titanic!

Nada no cinema é por acaso! Bom, ao menos quando o filme é bem feito. E parte da diversão dos cinéfilos e reparar nos detalhes caprichados e cheios de "segundas intenções" das  produções. Um belo exemplo disso, é a forma como os figurinos, e até o cabelo, de Rose em Titanic, filme de James Cameron de 1997, acompanham seu arco de libertação. 

A primeira vez que vemos Rose (Kate Winslet), ela mesma menciona que entrava no navio como uma prisioneira, condenada a um casamento forçado com um homem que detesta. Todo esse sentimento está expresso em seu primeiro figurino, um vestido de listras horizontais escuras em um fundo branco. A semelhança com um caricato uniforme de presidiário, não é mera coincidência. 

Reforçando ainda mais esse sentimento de aprisionamento, um chapéu enorme esconde completamente seus cabelos ruivos. Vale lembrar, cabelos ruivos na ficção geralmente são sinônimo de rebeldia e liberdade. Esconder ou aprisionar as mechas em rígidos penteados, são outra maneira de mostrar o espirito aprisionado da personagem. 


Os vestidos e penteados continuam justos, rígidos e sufocantes, com espartilhos limitadores e muitas camadas de tecidos, faixas, bordados e acessórios complicados até ela começar a se relacionar com Jack (Leonardo DiCaprio). Conforme a moça se envolve no romance, e começa a desafiar a mãe e o noivo, esses elementos gradualmente se tonam mais soltos, leves e livres. 

Prova disso é que depois da noite em que Rose visita a terceira classe, vemos uma cena de sua mãe (Frances Fisher), amarrando e apertando o espartilho da moça, enquanto faz um discurso da importância do casamento com Carl (Billy Zane). Uma metáfora para a tentativa da mãe em mantê-la presa ao papel que a sociedade lhe impõe. 

Mas já era tarde demais para frear o desenvolvimento da filha, conforme o filme avança os cabelos se soltam ainda mais, com apenas um ou outro adereço. Enquanto as roupas ficam cada vez menos rigidas e visualmente mais simples, deixando de lado detalhes rebuscados e opulentos. Até o momento em que Rose se liberta completamente e posa completamente livro, ou seja desnuda, para Jack desenhá-la. 

Depois disso, ela deixa os cabelos completamente soltos. Abandona o espartilho apertado, e coloca o icônico vestido de chifon azul claro, leve e de poucos detalhes que vai usar durante toda a sequencia do naufrágio. Existe coisa que denota mais liberdade que cabelos ao vento (ou no caso, ao vapor das caldeiras), e um vestido esvoaçante? O navio pode estar afundando, mas Rose cumpriu seu arco de desenvolvimento e está completamente livre. 

Liberdade essa, que ela mantém nos figurinos até o fim da vida. Como podemos ver nas fotos que a velha Rose (Gloria Stuart) carrega , nas quais ela usa até calças ainda na década de 1910!

Chegamos então ao último figurino usado por Rose, quando ela retorna para o navio após a morte. Um vestido justo, acinturado e enfeitado, que interromperia seu "fluxo de libertação". Entretanto, este vestido é uma réplica quase exata do vestido que a moça usa na noite da festa na terceira classe. O dia mais feliz que ela teve no navio, com uma única diferença, esta versão é completamente branca, para representar a passagem para o além e sua chegada ao paraíso. E claro, o cabelo também acompanha, parcialmente solto, em um luxuoso penteado. 

Aposto que não tinha reparado nestes detalhes ao longo do filme. Ao menos não de forma consciente, mas lá no fundo, o cérebro percebe essas mudanças e incorpora essa percepção à nossa compreensão e envolvimento com a história. Como eu disse, nada no cinema é por acaso. 

Gosta de posts assim? Conta aí nos comentários, que talvez eu faça mais.


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