Geralmente eu tento não criar expectativas sobre uma obra, antes de assisti-la. Obviamente, algumas vezes é impossível. Como foi o caso do super elogiado documentário A Primeira Barbie Negra, distribuído pela Netflix, que me pareceu mais raso e confuso que o esperado.
O documentário é dirigido por Lagueria Davis, que se afirma desde o início não fã de bonecas, mas que tem uma tia que trabalhou na fábrica da Mattel. E parte do relato dela, Beulah Mae Mitchell e outras duas funcionárias, Kitty Black Perkins (que trabalhou na criação da boneca), e Stacey McBride-Irby que ainda trabalha na empresa de brinquedos, para contar a história da criação da boneca.
Uma coisa deve-se apontar, quando falam da A Primeira Barbie Negra, não se trata da primeira boneca no modelo adulto negra lançada no mercado, tão pouco a primeira da linha da Mattel. Mas sim, da primeira a ser vendida sob o nome "Barbie". A primeira a ser oficialmente protagonista, e a dar as meninas de pele escura, o gostinho de ser protagonista da história.
O que não significa que a obra não passe pelos degraus galgados antes dessa conquista. A ausência de bonecas negras em absoluto, as bonecas rústicas estereotipadas, as primeiras bonecas bebê negras, a chegada das bonecas adultas e as coadjuvantes negras que a Barbie ganhou, antes dela mesma ter uma versão afrodescendente. E não para por aí, o relato ainda mostra o cenário pós lançamento da icônica boneca, onde os avanços seguem ainda hoje, à passos de formiga e sem vontade. Com relatos de pessoas envolvidas no processo, celebridades e anônimos, sobre suas relação com os brinquedos.
À esta altura, você deve estar se perguntando: mas se o documentário cobre tudo isso? Porque você achou raso e confuso? - A resposta, é pelo formato!
Admito, parte da culpa pela decepção é provavelmente minha mesmo, já que fui assistir ao filme com os ótimos episódios do documentário Brinquedos que Marcaram Época em mente. E o tom de A Primeira Barbie Negra é mais pessoal, ao ponto que o olhar da diretora sobre o brinquedo é apontado a todo momento.
Entretanto isso não justifica, a linha do tempo confusa, e a presunção de que o público tem conhecimento da história e costumes estadunidenses. Não me interprete mal, não há nada de errado em centralizar sua história em uma localização e cultura. Mas a Barbie é um ícone mundial, a luta pela representatividade negra também, e mesmo assim a identificação para quem é de fora, não é tão grande. Arte da linha do tempo apresentada pelo próprio documentário, inclusive, evidencia essa confusão, ao saltar datas, ignorar eventos registrados lá, e ser percorrida quase em zigzag, deixando quem nunca a viu por completo (ou seja, todo mundo) perdido.
Enquanto os depoimentos, quando saem do âmbito histórico e passam para a representatividade, e relação pessoal, são repetitivos e rasos. São várias pessoas com a mesma visão e argumentos sobre o tema. Sem nunca trazer novos pontos, ou uma análise mais complexa.
Escapa por exemplo, como esta primeira Barbie não branca, abriu caminho para outras etnias, corpos, culturas e condições. O que fica evidente ao vermos uma das entrevistadas negras usando um hijab. E mais ainda quando uma criança asiática entrevistada afirma: nenhuma dessas bonecas se parece comigo! Pois, é nem a Barbie negra.
Apesar de levar doze anos para ser produzido, contar com nomes relevantes e muita pesquisa, a obra soa como um trabalho de conclusão de curso de faculdade. Um trabalho nota dez, caprichado e bem intencionado. Mas ainda um trabalho, ingênuo e cheio de sonhos como um recém formado.
A Primeira Barbie Negra é um bom ponto de partida para conhecer a boneca. Mas para mim ainda não foi suficiente. Eu queria mais!
A Primeira Barbie Negra (Black Barbie: A Documentary)
2023 - EUA - 94min
Documentário
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