Chat GPT e similares se popularizam mundo a fora, e reacendem as discussões sobre a Inteligencia Artificial e suas consequências. Não que o embate entre humanos e máquinas não seja um assunto altamente explorado na cultura pop. Mesmo assim Atlas, filme da Netflix estrelado por Jennifer Lopez, prometia uma "versão 2024" dessas discussões. Infelizmente ficou só na promessa.
Em um futuro não muito distante, a Inteligência Artificial evoluiu e assumiu sua independência, à força! Com o primeiro terrorista de IA, o androide Harlan (Simu Liu), como principal adversário da humanidade. Quando a chance de encurralar o mal feitor surge, a analista de dados brilhante/especialista em Harlan, Atlas (Jennifer Lopez) recruta para a tarefa. O que a obriga a interagir e confiar em uma inteligência artificial, o que vai de encontro com tudo o que a moça acredita.
Atlas é turrona e desconfiada como Sarah Connor, está solitária e sem recursos como Ripley, e tem uma interprete extremamente popular. Mesmo assim, não consegue entregar o carisma necessário para nos fazer se importar com a protagonista. A personagem de J. Lo. não se dá bem com máquinas, tão pouco com humanos, é bitolada em sua missão, e seu senso de humor é raso e baseado e palavrões constantes. É difícil achar um motivo para acompanhar Atlas, a não ser pelo fato de que o filme é contado pela perspectiva dela.
Nem mesmo os flashbacks constantes, de deveriam conferir profundidade à personagem funcionam. Previsíveis e rasos, apenas tornam a jornada mais arrastada e evidenciam ainda mais o maior problema da produção, a falta de tom.
A Netflix o vende como um filme de ação e ficção científica. J. Lo. o encara como um drama, mas precisa inserir piadinhas e a leveza de um roteiro que tenta criar uma aventura de convivência. Enquanto o cenário, a personagem passa grande parte do tempo presa dentro um robô em um planeta alienígena inóspito, sugere um ambiente de tensão. Nessa mistureba de gêneros e sub-gêneros, Atlas não entrega bem nenhum deles.
Irregular, inconstante e raso, a produção não consegue sequer entregar a diversão vazia e descerebrada que o diretor Brad Peyton entregou em filmes como Rampage, ou Terremoto: A Falha de San Andreas. Atlas é tão aborrecido quando sua personagem título.
O visual, cenários, figurinos e design de produção soa genérico ao misturar influencias de várias fontes, como os já mencionados Exterminador do Futuro e Alien. E aposta na escuridão para camuflar a fragilidade de seus efeitos especiais.
O que chama atenção na produção é de fato, seu bom elenco. Além de Jennifer Lopez e Simu Liu, também estão nos créditos Sterling K. Brown, Mark Strong, Lana Parrilla, Abraham Popoola e Gregory James Cohan. Eu disse nos créditos, e não necessariamente em cena, porque suas aparições são estritamente reduzidas. Meros acessórios para a jornada da entediante protagonista, ao ponto de certo personagem ser mantido vivo por mais que o esperado, para apenas previsivelmente se sacrificar pela moça.
Cheio de boas ideias e inspirações, mas incapaz de executá-las com qualidade, Atlas é uma aventura genérica que não se aprofunda em nada a que se propõe. Não explora o melhor de sua personagem título que assim como o personagem mitológico carrega o peso do mundo nas costas em uma analogia barata. Tão pouco discute a IA para além de vilões e mocinhos.
Com um elenco melhor do que merece, é mais uma encomenda do algoritmo da Netflix. Vai sim fazer sucesso e entrar para a lista de "tops" da plataforma, mas apenas por sua natureza calculada. É feito para atingir uma demanda pouco exigente e efêmera, um passatempo vazio. Conseguirá, mas será esquecido antes mesmo que o próximo lançamento por encomenda da plataforma chegar. Reforçando e alimentando um sistema regido por computadores, que ironicamente, apesar de sua proposta, o filme nunca conseguiu discutir.
Atlas
2024 - EUA - 118min
Ação, Drama, Ficção científica
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