Tartarugas Até Lá Embaixo

É curioso como os títulos dos romances de John Green raramente abrangem diretamente o tema de suas tramas, mesmo assim se encaixam perfeitamente no contexto quando sua relação é revelada. Não tão simples é este processo para quem resolve adaptar suas obras para as telas. Que precisam transformar momentos corriqueiros que mudam vidas em cenas chave sem perder a naturalidade do momento. 

Tal dificuldade também se impõe à Tartarugas Até Lá Embaixo, a mais recente adaptação de um livro do autor, que fala sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo.  Aza (Isabela Merced) é uma adolescente cuja mente é dominada por um TOC bacteriofóbico, que tenta enfrentar os dilemas adolescentes entre crises de ansiedade e pensamentos intrusivos. 

Quando um bilionário da cidade desaparece a protagonista é convencida por sua melhor amiga, Daisy (Cree), a começar uma investigação, aproveitando-se de uma antiga conexão com seu filho para reclamar a recompensa. É claro que tal rapaz, Davis (Felix Mallard), é um crush de infância da moça. E a reconexão com ele a fará desafiar seus próprios limites, deixar sua zona de conforto e finalmente começar enfrentar sua condição.

A explicação pode parecer longa, mas trata-se de um típico romance adolescente de amadurecimento. Onde um evento (ou talvez dois) desencadeia a evolução do protagonista. O evento que dá o ponta pé para a jornada aqui é a investigação sobre o sumiço do milionário, mas o que realmente movimenta a jornada da moça é o romance com seu filho. E talvez essa seja a grande falha do filme, o foco perdido e dividido da trama. 

À certa altura, quando o caso de sumiço finalmente é resolvido, percebemos que já havíamos esquecido de sua existência. Mesmo sendo um evento chave para o interesse romântico da protagonista. O abandono do plot, talvez seja uma tentativa fracassada de emular a forma como o cérebro da protagonista se perde em si mesmo. Mas que no final soou apenas como recurso barato para iniciar a história. 

Felizmente, a trama fracassada de investigação é o único grande equívoco do roteiro, que acerta ao retratar as dificuldades da jovem. A forma como sua condição a domina, e interfere nos relacionamentos com a mãe, o namorado e principalmente a melhor amiga é tocante, mesmo para quem não sofre do mesmo mal que a moça. Assim como a percepção de que apesar de tudo, ainda trata-se de uma adolescente como outra qualquer, descobrindo o mundo, com entusiasmo e brilho nos olhos. 

Méritos de Isabela Merced, que consegue oscilar do entusiasmo adolescente, para o encarceramento do TOC, em segundos de forma crível. O restante do elenco a acompanha, servindo de apoio para suas mudanças. O destaque fica para Cree, relação mais constante em cena, que proporciona o carisma e a jovialidade que por vezes a protagonista propositalmente não é capaz de oferecer. 

Enquanto isso, a direção de Hannah Marks não cria nada de novo, ou excepcional, mas é eficiente naquilo que precisa transmitir. No caso, a forma como a mente da protagonista se perde, em pensamentos intrusivos, e imagens aterrorizantes (para ela, no caso). É assim que o TOC, ou uma crise de ansiedade funcionam? Não exatamente. Mas o recurso escolhido é eficiente para passar a sensação de confusão e descontrole da condição. No mais a diretora entrega, um romance juvenil tradicional, bem executado. 

Tartarugas Até Lá Embaixo é uma adaptação eficiente que deve agradar os fãs do autor, sem alienar os não seguidores. Fácil de se relacionar, mesmo para quem não tem nenhuma condição mental, basta ser humano para se identificar com a dificuldade. 

Depois disso só resta a pergunta: o que as tartarugas tem a ver com isso? Bom, descobrir enquanto assiste é melhor do que qualquer explicação que eu possa dar, então... recomendo a sessão.

Tartarugas Até Lá Embaixo
2024 - EUA - 111min
Drama, Romance

Tartarugas Até Lá Embaixo foi lançado diretamente no MAX, e estreia em junho na HBO. 

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