Meu Amigo Robô

Em plena era de animações 3D, e de produções complexas que misturam diversas técnicas como a franquia Aranhaverso, uma animação tradicional de traços e cores simples, e que dispensa até diálogos parece impensável. Mesmo assim, Meu Amigo Robô chega para mostrar que as vezes a simplicidade é o melhor caminho para dizer muito. Conquistando inclusive uma vaga entre os indicados ao Oscar de animação de 2024. 

A animação franco espanhola, se passa em uma Nova York dos anos 1980, habitada por animais antropomórficos. Lá acompanhamos um solitário cachorro, que encontra felicidade ao encomendar um amigo robô. Felizes e fazendo tudo juntos, certo dia a dupla vai à praia. Mas a combinação água salgada e robô de metal não dá certo, e a dupla acaba sendo separada pelas circunstâncias. 

Uma doce crônica sobre a solidão das grandes cidades, mostra os obstáculos e empecilhos que cruzam a vida desta dupla (talvez um casal, depende da interpretação), as tentativas de superá-los e a descoberta de que nem sempre é possível. De que a vida muda, e que por mais que desejemos, nem sempre é possível voltar atrás. 

Tudo isso, sem emitir uma única palavra. O que não significa que o filme seja mudo, a efervescente e encantadora NY deste mundo é cheia de músicas e sons. Como a canção  September, do Earth, Wind & Fire, música tema da dupla (casal?) que ganha novos significados conforme sua jornada evolui. De hino à felicidade compartilhada, à saudosa memória de outros tempos. 

O traço simples, e as cores sólidas da animação, que acompanham o estilo da graphic novel de Sara Varon em que foi inspirada, também ajudam a criar essa cidade cheia de vida e oportunidades. Nova York é o cenário perfeito, já que tão enraizada na cultura popular é facilmente compreendida por audiências de todo o mundo. 

Também carrega as muitas oportunidades de uma metrópole, em contra ponto com a solidão que ela também pode proporcionar. Trazendo à tona a terrível sensação de estar só mesmo cercado de pessoas, ao mesmo tempo as oportunidades constantes de mudar essa realidade. E além de tudo, a versão da cidade mostrada aqui é extremamente charmosa e nostálgica. 

Não que Cão e Robô, precisem de ajuda do ambiente para nos conquistar. Enquanto o protagonista canino é extremamente relacionável, ao ter os mesmos anseios que a maioria de nós, ser amado. Robô é a criatura mais doce, amigável e ingênua que se pode desenhar. A felicidade deles juntos só não é invejável, pois a produção não abre espaço para sentimentos mesquinhos. Mesmo quando tudo parece jogar contra a relação da dupla. O que torna a luta para se manter juntos mais admirável, o sofrimento pela separação mais tocante, e a aceitação de que a vida precisa seguir em frente surpreendentemente madura. 

Meu Amigo Robô e seu diretor Pablo Berger provam que não é preciso tecnologias complexas, um show pirotécnico em tela, ou mesmo diálogos, para se contar uma história rica, cheia de camadas e reflexões. O cinema é capaz de fazer isso, com a mais tradicional das técnicas (o que não significa fácil), e sem recorrer a verborragia. Mostrando que a riqueza pode muito bem vir da simplicidade, quando inteligente e honesta. Divertindo e emocionando ao mesmo tempo que nos faz refletir.

Meu Amigo Robô (Robot Dreams)
2023 - França/Espanha - 102min
Animação, Drama

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