Fazendo Meu Filme

Sendo cinéfila, apenas pelo título e capas, sempre tive curiosidade de ler a Fazendo Meu Filme de Paula Pimenta. Mas, por um motivo ou outro, os volumes da série literária nacional nunca entraram para a minha coleção. Logo, fiquei contente em descobrir que uma adaptação cinematográfica estava chegando ao Prime Vídeo. Uma produção anunciada em 2020, rodada em 2021 (em plena pandemia?!) e que além de demorar para chegar ao público, não foi para os cinemas como planejado, mas direto para o streaming. 

Fani (Bela Fernandes) é uma adolescente comum que ama filmes, compreende e expressa seu mundo usando-os como referência. Até que seu cotidiano é bagunçado pela possibilidade de fazer um intercâmbio em outro país (sonho de sua mãe, não dela). Com os sentimentos exacerbados pela combinação de mudança e adolescência, ela finalmente percebe estar apaixonada por seu melhor amigo Leo (Xande Valois), e agora corre contra o tempo para entender e compartilhar esse sentimento antes da fatídica viagem.

Apesar de simples, a trama de Paula Pimenta tem potencial de franquia de sucesso semelhante à Para Todos os Garotos que Já Amei. Quebrando a quarta parede para conversar com audiência tal qual Ferris Bueller, e brincando com referências cinematográficas toda vez que a protagonista viagem em sua própria imaginação. 

Uma pena que nem roteiro nem direção conseguem transpor a jornada da adolescente para as telas. Criando uma colcha de retalhos, pouco coerente, que ignora a lógica de causa e consequência. Enquanto os personagens cometem ações que não fazem sentido, mesmo se relevarmos muita coisa pelo fato de estar lidando com adolescentes com emoções em ebulição.   

Eventos relevantes são contados ao invés de mostrados, como a tal entrevista de intercâmbio na qual a protagonista foi excepcional ao ponto de passar em primeiro lugar, e dá o pontapé inicial na trama. Outros são abordados com pouco peso, como os três dias de suspensão que ela pega, nos quais toda a dinâmica da escola muda.  A passagem de tempo é confusa, a montagem é apressada e desconexa, e tudo é mais contado, do que mostrado de fato. Enquanto personagens mal apresentados somem e desaparecem de acordo com a necessidade do roteiro (quem é aquele casal que estava com eles no aeroporto?)

Já a possibilidade de enriquecer o universo de Fani com a metalinguagem, é frequentemente esquecido. E trazido de volta aleatoriamente, sem critério algum, e por vezes contando com conveniências, como a a desculpa esfarrapada criada apenas para construir uma tradicional sequencia de despedida romântica no aeroporto. Não é problema trazer esses clichês. Pelo contrário, de acordo com a proposta, são mais que bem vindos, se bem feitos. O tal filme sendo feito do título, por exemplo, só se justifica na última meia hora de projeção. Então de forma óbvia e didática, e esvaziando a metáfora de que todos estamos "fazendo o filme de nossas vidas", enquanto as vivemos.

Há muita vontade por parte do elenco mirim, mas a molecada parece perdida em seus papéis. Muitas vezes entregando falas ensaiadinhas, como em comerciais de margarina, ao invés da emoção por trás delas.  Bela Fernandes é simpática e bem intencionada, mas não entrega nem a garota comum com quem facilmente nos identificaríamos, tão pouco a excepcional que justificaria a forma como é tratada. Fani, é apenas uma menina, padrão privilegiada, com dramas típicos de adolescentes. Novamente, não haveria problemas com estas características, se o roteiro e atuação nos convencesse a torcer por ela. 

O restante do elenco jovem segue esse padrão, alguns se saindo melhores que outros. Enquanto os adultos não tem muito espaço, mas é bom ver  Samara Felippo de volta as telas. 

Fazendo Meu Filme tinha uma base sólida e simples, na qual poderia construir algo criativo, ou mesmo apenas o básico bem feito. Não faz nem um, nem outro! Entrega uma transposição, não uma adaptação. Que talvez agrade os fãs fervorosos, mas deixará os não iniciados entediados, não pela previsibilidade e clichês, mas pela confusão em tela. 

Uma pena, e uma propaganda negativa das obras literárias. Felizmente eu sei que adaptação e livros não são a mesma coisa. E vou manter a saga de quatro volumes na minha interminável lista de leituras futuras. Um dia, volto à jornada de Fani, e tomara que seja uma experiência mais proveitosa.

 Fazendo Meu Filme
2024 - Brasil - 95min
Romance

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