Crescendo Juntas

Não se deixe enganar pelo genérico título nacional que este filme baseado em um livro de Judy Blume ganhou no Brasil. A obra cujo título em tradução literária seria algo como "Deus, você esta aí? Sou eu, Margaret." é um honesto vislumbre do amadurecimento de três gerações de mulheres, através do ponto de vista da mais jovem delas. 

Margaret (Abby Ryder Fortson) de onze anos tem sua vida virada do avesso, quando seu pai consegue um emprego melhor em Nova Jersey, fazendo com que a família se mude da metropolitana Nova York para um pacato subúrbio. Como se passar pela pré adolescência já não trouxesse mudanças o suficiente, a garota ainda tem que enfrentar uma nova escola, fazer novos amigos, e se afastar da avó. 

Falando assim, não parece um roteiro muito surpreendente, mas é a forma como esses dilemas são abordados que destaca o filme de centenas de outras obras de amadurecimento. Roteirizado e dirigido por Kelly Fremon Craig, o filme trata seus temas com a honestidade e sensibilidade de alguém que já passou por isso. Conversando facilmente com meninas que enfrentam este momento, as que anseiam por ele, e principalmente, as que já o viveram. Sem deixar de lado o público masculino, que se disposto, vai descobrir um universo completamente novo de coisas com as quais nunca se preocuparão.

E se engana quem pensa que o longa fala apenas em mudanças no corpo, menstruação, pressão para agradar as amigas e interesse por garotos. É claro, esses temas tem bastante espaço e importância, já que se relacionam diretamente com a protagonista. Mas há também espaço para uma discussão religiosa saudável de verdade. A família de Margaret em duas origens religiosas, e oferece à menina a liberdade para escolher. O que ela faz, todo o tempo, mesmo sem perceber, bastar prestar atenção ao título original.

Além da menina, o longa também mostra o amadurecimento de personagens que outras obras tratariam como maduras. A mãe Barbara (Rachel McAdams, sempre excelente) abriu mão de tudo para apoiar o marido nesta nova vida. Sem trabalho, e sem o perfil de "dona de casa", ela se sente perdida e diminuída ao tentar se encaixar na vida de "mãe do subúrbio", antes de descobrir um novo caminho para si. Enquanto Sylvia (Kathy Bates), a avó que ficou para trás, lida com a solidão, o sentimento de abandono, e a necessidade de seguir em frente. O que ela, também faz. 

Tudo isso de forma simples, realista, e com um gostinho de sessão da tarde. Situado no finalzinho dos anos 1960, antes de celulares, e até do excesso de televisão, mostra uma vida com ritmo diferente. Uma infância mais ingênua, e um olhar feminista mais sutil. Em outras palavras, é um filme doce, sincero, e até um pouco nostálgico. 

Abby Ryder Fortson que já tinha mostrado sua fofura, nos dois primeiros longas do Homem-Formiga, carrega o longa com facilidade e carisma. Nos fazendo embarcar facilmente nessa tão conhecida jornada de amadurecimento. 

Crescendo Juntas está longe de ser genérico como seu título brasileiro sugere. Tem um argumento já muito explorado, é verdade, mas encontra seu jeito próprio de abordá-lo. Uma forma adorável, e muito gostosa de assistir. Pena que a obra chegou tão discretamente direto na HBO Max!

Crescendo Juntas (Are You There God? It's Me, Margaret.)
2023 - EUA - 106min
Drama, Comédia

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