Com um ano e meio de hiato entre a primeira e segunda temporadas, e não é surpresa perceber o primeiro ano de A Roda do Tempo como esquecível, literalmente! Muitos elementos e detalhes da fantasia não conseguiram se manter na mente de quem não conhece a trama pelos livros, assim como muitas explicações para que tudo seja compreendido pelo público expectador haviam sido dadas. A esperança era que a segunda temporada, que acaba de ser encerrada no Prime Video, entregasse um trabalho mais eficiente e marcante.
Cerca de de seis meses após os eventos do desfecho da temporada anterior, reencontramos os personagens separados em vários núcleos. E passamos os primeiros episódios reapresentando o tabuleiro. Quem está onde, fazendo o quê. Uma explicação morosa, e pouco eficaz que se estende por mais de dois episódios, mas que claramente visa garantir a permanência de novos espectadores. Não garante!
Apesar de parar para reexplicar boa parte dos eventos, a série continua falhando em dar peso e importância aos elementos daquele mundo. Uma Aes Sedai estancada, o que é? Há pessoas com conexões com animais? Existem reinos em guerra? Escravagistas? O quão distantes estão esses amigos? Falta à serie, aqueles apêndices com mapas, arvores genealógicas e outras informações de construção de mundo que toda publicação de fantasia costuma ter.
Sim, é difícil colocar tanta informação no roteiro sem cair no marasmo e didatismo, mas é possível. O Senhor dos Anéis, Game Of Thrones e até One Piece são provas disso. Essa dificuldade de equilibrar trama e construção de mundo em A Roda do Tempo, já era visível na primeira temporada. Agora, conforme a história evolui e se complica, fica ainda mais gritante.
E por falar em desequilíbrio, o mesmo acontece com a escolha de divisão por núcleos. Enquanto alguns se alternam em ganhar nosso interesse, outros sequer conseguem gerar o mínimo de curiosidade. E todos se repetem bastante, rediscutindo temas solucionados em cenas anteriores.
São os núcleos de Moiraine (Rosamund Pike) e Nynaeve (Zoë Robins) os que se alternam em alcançar e perder nosso interesse. Não por acaso, Pike e Robins são as melhores em cena. As únicas realmente cientes das camadas de suas personagens. Moiraine sem poderes, mas ainda sim determinada a salvar o mundo, ganha nossa atenção, quando finalmente se põe em movimento (o que demora!). Enquanto Nynaeve tem os melhores embates ao longo de seu treinamento de Aes Sedai. Mas também é aquela que passa o clímax da série, sentada no chão em pânico.
Já a jornada e Egwene (Madeleine Madden) tem um interessante e inesperado crescimento, ao introduzir a escravidão neste universo. E principalmente o cruel caminho para submeter uma pessoa ao trabalho forçado. É com o elenco masculino que os maiores problemas se encontram.
O roteiro não sabe o que fazer com Lan (Daniel Henney) e Mat (Dónal Finn), mas não tem coragem de tirá-los de cena, e resgata-los apenas quando preciso. Perrin (Marcus Rutherford) tem tão pouco com o que trabalhar que seu núcleo apenas se repete até o clímax. Enquanto os atos de Rand (Josha Stradowski) são incoerente e oscilantes, mesmo com o bom resgate de Logain Ablar (Álvaro Morte) para seu arco.
Todos correm separadamente, cada um em seu ritmo próprio. Um descompasso que fica ainda mais evidente quando o clímax reúne à todos. E o desenvolvimento distinto de cada um no mesmo periodo de tempo fica evidente. Enquanto o esperado reencontro é grandioso, explosivo e absurdamente corrido. Ou seja, não há tempo para desfrutar da recompensa de vê-los juntos, após tantos episódios de espera.
Personagens menores, novos e antigos, entram e saem da trama conforme necessidade, sem grandes explicações ou apresentações. Dentre estes Elayne (Ceara Coveney) é a que parece ter mais futuro, ao indicar que se unirá ao quinteto principal.
O design de produção, cenários e figurinos estão mais estilizados e caprichados, ainda que alguns detalhes beirem o cafona (o que são horrendas as "chupetas" douradas das canalizadoras escravizadas?). Conferem grandiosidade à muitas sequências, mas sozinhos não são suficientes para manter nosso interesse.
Confusa, repetitiva e cansativa, a segunda temporada de A Roda do Tempo até evolui a história (a passos lentos), mas falha em nos ambientar nesse mundo. E a sensação de estar perdido, é o pior inimigo da alta fantasia. Temos que conhecer e entender esses mundos e moradores para embarcar em suas jornadas. Coisa que os desnecessariamente longos e instáveis episódios falham em fazer. Conhecer o mundo pelos livros não pode ser obrigatoriedade para acompanhar a série, ela tem que funcionar por conta própria.
A série teve sua terceira temporada confirmada antes mesmo do lançamento da segunda. Mas diante do descompasso deste segundo ano, e da incapacidade da obra de corrigir suas falhas e evoluir, será que é preciso mesmo?
A Roda do Tempo tem duas temporadas. Cada uma com oito episódios com cerca de uma hora de duração, todos já disponíveis no Prime Video.


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