Asteroid City

Personagens peculiares, em uma época peculiar compartilhando uma experiência peculiar! Essa seria uma descrição precisa de Asteroid City novo filme de Wes Anderson. Agora você deve estar pensando, mas toda filmografia deste diretor não é assim? Sim, é um fato. Mas aqui a observação da peculiaridade parece ser o principal, talvez o único propósito. 

Asteroid City é uma "cidadezinha" fictícia que gira em torno de um asteroide caído por lá há centenas de anos. Se é que podemos chamar um hotel de beira de estrada, uma oficina, um viaduto inacabado e uma lanchonete de cidade. Nesta ocasião em particular, a localização está recebendo uma convenção de cientistas mirins, e por isso reuniu um grupo inusitado de pessoas. E esse grupo vai presenciar um evento de proporções globais que mudaria a história do mundo.

Simultaneamente, acompanhamos a criação da peça Asteroid City. Guiados por um narrador, que nos apresenta os bastidores da peça/filme desde as ideias do autor, até os empecilhos no palco. Os personagens que conhecemos na outra linha narrativa, aqui são seus intérpretes, os atores. 

Duas tramas paralelas, simultâneas e conectadas, distintas pela fotografia. Os bastidores são em um pesado preto e branco, com razão de aspecto reduzida. Enquanto a "história" em um amplo, brilhante e ensolarado colorido. Cada uma recheada de pequenas e pontuais histórias, sem nunca escolher um protagonista. A não ser, talvez, a própria Asteroid City. Falar mais do que isso, seria estragar a experiência, já que descobrir as peculiaridades de cada personagem, e a forma como esses indivíduos reagem a esse evento compartilhado é a parte mais interessante do longa. 

Para povoar essas duas linhas narrativas, Anderson convoca um batalhão de competentes estrelas, que talvez seja o maior atrativo da produção. Além, é claro, do estilo próprio do diretor que muitos já admiram. Tom Hanks, Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Jeffrey Wright, Bryan Cranston, Edward Norton, Maya Hawke, Rupert Friend, Sophia Lillis, Steve Carell, Tony Revolori, Jeff Goldblum, Hong Chau, Tilda Swinton, Willem Dafoe e até Seu Jorge, apenas para citar os nomes mais conhecidos. Alguns com papéis mais longos como o pai em luto de Schwartzman e a estrela de cinema de Johansson. Outros com apenas uma cena como Goldblum. É interessante brincar de "quem é quem", bem como a sensação de grande reunião de amigos que a união de tanta gente passa. 

Já a direção de arte e fotografia, transpõem esses cenários para a visão particular do diretor. As cores, o enquadramento, os longos planos, o ritmo mais compassado, levam a melancolia e a visão própria do diretor para os bastidores do teatro, e para o meio do deserto em um Estados Unidos paranoico com a Guerra Fria, e entusiasmado pela corrida espacial. Que aliás são um dos temas apontados pelo roteiro mas nunca realmente explorados por ele. A disputa pelo espaço, e contra os soviéticos, luto, tédio, genialidade, a criação dramatúrgica, estão entre as muitas discussões que Anderson apresenta, mas deixa a cargo do público fazer.  

Temos um lugar incomum, um bando de pessoas estranhas, e um evento extraordinário, vamos descobrir o que sai dessa união? Pronto, já vimos, podemos partir! - Asteroid City parece um filme sem propósito. E talvez seja, de propósito despropositado. Sem grandes jornadas ou objetivos além de se entreter por algum tempo com um evento pontual e peculiar. Coisa que pode afastar os desavisados, mas certamente vai agradar quem gosta do estilo Wes Anderson de contar histórias. 

Asteroid City
2023 - EUA - 105min
Comédia, Drama

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