A virada de ciclo no Universo Cinematográfico da Marvel, e a reestruturação dos heróis da DC no cinema geraram um efeito colateral curioso. Vários "atores desempregados" em busca de uma nova franquia que lhes dê a estabilidade que os super-heróis ofereceram anteriormente. Gal Gadot a Mulher Maravilha está neste nada seleto grupo, e suas apostas recentes tem sido em ação com a Netflix. Primeiro com o morno Alerta Vermelho, onde divide holofotes com Dwayne Johnson e Ryan Reynolds. Agora, com Agente Stone onde finalmente é o centro das atenções.
Rachel Stone (Gal Gadot) é uma agente secreta de elite que trabalha para a uma agência global independente, que possui a mais valiosa ferramenta de Inteligência Artificial, que comanda toda sua operação. É claro que tal artefato chama a atenção de quem deseja deter este poder por motivos errados, e Stone é a única agente capaz de detê-los.
A ousadia de Ethan Hunt e a estrutura de 007, é o que a agente 9 de Copas, Rachel Stone tenta emular em apenas um filme. Aparentemente ignorando as décadas que James Bond levou para construir sua mitologia, e a meia dúzia de filmes que criaram nosso apego pelo personagem de Tom Cruise. O resultado é um filme que antes mesmo de terminar de apresentar todo seu universo, já aposta em reviravoltas e perdas que necessitariam dessa empatia prévia para ter o impacto esperado no público.
A protagonista tem toda a pose, é apresentada como uma agente incrível, e exige que acreditemos, sem que ela nos mostre toda essa habilidade. Infalibilidade que vai de encontro com as motivações da personagem em muitos momentos, como quando ela coloca o bem estar de terceiros acima da missão. Felizmente, Gadot tem carisma e nossa simpatia o suficiente para que nos esforcemos a abraçar essa premissa, e fisicalidade o suficiente para acreditarmos em suas habilidades. Infelizmente, a atriz não tem a versatilidade necessária para sustentar os momentos emocionais que exigem um pouco mais de expressividade da personagem.
O resultado é uma agente tão excepcional e deslumbrante, que parece invulnerável tal qual sua Mulher Maravilha. O que faz que nunca temamos por sua vida, ou pela capacidade de triunfar no final. O que somado a um roteiro apressado, que na ânsia de criar uma franquia quer surpreender antes mesmo de nos envolver, resulta em um filme confuso, raso e genérico.
Mal entendemos quem é quem, neste cenário mundial e os personagens já mudam de lado. A tentativa de emular outros filmes do gênero, arrasta os personagens de um ponto do mundo para outro, apenas porque isso é o que geralmente se faz. Enquanto as sequencias de ação são longas, grandiosas e apesar de beberem muito de obras anteriores (para o bem e para o mal), devem agradar quem curte ação desenfreada.
Visualmente o filme é bem resolvido, com cenários e locações bem pensados. E claro, muita tecnologia mágica de hollywood para quem tem um alto nível de suspensão de descrença nesse quesito. A própria inteligência artificial em questão, mais parece uma vidente que um supercomputador que trabalha com estatísticas. Até porquê convenientemente esse equipamento milagroso é capaz de prever ações humanas, mas não de calcular a ameaça principal meio óbvia nesse filme.
Talvez eu esteja sendo muito exigente. Afinal, há sim uma lacuna para uma franquia estilo 007 e Missão Impossível, protagonizada por uma mulher. Mas, considerando a enorme quantidade de conteúdo do gênero na qual Agente Stone claramente se inspirou, era de se esperar que a obra fizesse escolhas melhores. Os clichês e conveniências típicas do gênero não são o problema, e sim o mal uso delas.
Além de Gadot, o elenco ainda conta com Jamie Dornan, Alia Bhatt, Sophie Okonedo e Matthias Schweighöfer. A direção fica a cargo de Tom Harper, conhecido por comandar episódios de Peaky Blinders.
Divertido o suficiente para uma distração momentânea, Agente Stone poderia se tornar a referência feminina no gênero. Mas se apressa em se apresentar como franquia, antes de se consolidar como filme. Dependendo bastante da simpatia do público, para prosseguir com as sequencias que tanto deseja e dar a sua estrela um universo para chamar de seu.
Ação
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