O Pálido Olho Azul

Levar personagens reais para tramas ficcionais, não é exatamente uma novidade. Tão pouco rechear essas tramas com referências e estilo destas personas, especialmente se são autores de produções artísticas. Logo, O Pálido Olho Azul, da Netflix,  não tenta reinventar a roda ao de certa forma trazer Edgar Allan Poe para uma atmosfera que ele mesmo criaria em seus escritos. 

Augustus Landor (Christian Bale) é um detetive aposentado, que se tornou um bêbado recluso após a morte da esposa e a partida da filha. Quando um macabro assassinato ocorre na Academia Militar dos EUA em West Point, ameaçando o bom nome da instituição, ele é convocado para desvendar o caso. Preferencialmente de forma ágil e discreta. Coisa que ele faz com a ajuda de um observador cadete (que também é um dos suspeitos) chamado Edgar Allan Poe (Harry Melling).

Baseado no best-seller de Louis Bayard, o longa propõe explorar uma série de assassinatos sinistros, através do estilo gótico adotado por Poe em seus romances. Inserindo o autor em seu próprio universo, ressaltando e utilizando sua personalidade incomum como ferramenta. 

Com uma excelente atuação de Melling, Poe é observador, instruído, de interesses suspeitos e isolado de seus colegas cadetes. Características que chamam atenção do detetive Landor tanto para o bem, quanto para o mal, com o personagem servindo ora como suspeito, ora como parceiro do detetive. O que cria uma relação interessante entre a dupla. É aí que o roteiro começa a se perder. 

Apesar de Landor oficialmente ser o protagonista, o roteiro em vários momentos demonstra mais interesse em sua figura histórica real, que do personagem principal. Oscilando entre as jornadas do detetive e do futuro autor, nunca decidindo de fato qual abraçar. E perdendo a oportunidade de trabalha-los como dupla, e explorar melhor sua relação. Quem sai perdendo com isso é o crime!

Preocupado com as personalidades Scott Cooper acaba por escolher uma forma de contar a história, que não envolve o público no caso. Permitir brincar de desvendar charadas juntos com os personagens, é característica crucial em filmes do gênero. Além de nunca nos permitir isso, o diretor desvia o foco do caso, e apresenta uma linha temporal confusa, nos fazendo perguntar: ué, eles não tinham pressa? Parece que ninguém está investigando nada!

Enquanto a investigação não anda, o público apenas aguarda e observa Poe. O que deve deliciar fãs e conhecedores do autor, mas deixa de fora todo o resto do público não iniciado. Ao menos a espera é composta por belas paisagens já que Cooper, aproveita a paisagem nevada, para evidenciar toda a dureza, frieza e crueldade daquele mundo. 

Abusando de tons frios em sequencias externas, e da escuridão à luz de velas de cenários desgastados, e sujos nos ambientes internos. Se o mundo lá fora é frio e inóspito, as casas são deprimentes e sem esperança. Igualmente, os figurinos são de cores tristes, apertados, exagerados e embolorados, sufocantes como as rígidas regras daquela sociedade.

Sem esperança assim como seu desfecho, que tentar surpreender com um boa reviravolta, mas apenas confunde quem já tinha dado o caso como encerrado. Como eu disse, sem deixar o "público participar da investigação", a reviravolta apesar de interessante, parece jogada as pressas nos últimos instantes. Indicações mais consistentes precisavam ser inseridas, mesmo que de forma discreta ao longo de toda a projeção.

Além das boas atuações de Bale e Melling, a produção conta com bons trabalhos de nomes bastante conhecidos. Timothy Spall, Toby Jones, Robert Duvall e Gillian Anderson estão entre os rostos que você deve conhecer com facilidade. 

O Pálido Olho Azul tem boas ideias e intenções, mas se perde em sua execução ao admirar demais seu personagem histórico, em meio ao mundo fictício.  Entretém quem conhece a obra de Edgar Allan Poe através da forma e referências, e agrada quem é fã e conhecedor do autor para além dos seus trabalhos. Para os não iniciados, é apenas mais uma história interessante, que poderia ser muito melhor aproveitada. 

O Pálido Olho Azul (The Pale Blue Eye)
2022 - EUA - 128min
Suspense, Policial, Terror

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