Cinco anos atrás, o filme Buscando surpreendeu ao trazer um mistério narrado apenas através de telas. Tudo que assistíamos era mostrado através das telas (computador, celular, TV) com as quais o protagonista, um pai em busca da filha adolescente interagia. Oferecendo uma experiência diegética incomum. Agora os mesmos produtores repetem a fórmula invertendo os papéis (agora é a filha que busca pela mãe) e tentando oferecer uma linguagem mais moderna através da sua protagonista zilenial.
A mãe de June (Storm Reid) desapareceu nunca chegou da viagem à Colombia com o namorado. Sozinha em Los Angeles, a adolescente vai usar toda a tecnologia ao seu alcance para descobrir o paradeiro de Grace (Nia Long) e seu namorado Kevin (Ken Leung). Entre mistérios e reviravoltas, a garota se depara com revelações surpreendentes.
A fórmula é a mesma do filme de 2018, a diferença aqui é que June tem muito mais intimidade com a tecnologia. O que oferece mais ferramentas que a investigação anterior. Sites, portais, aplicativos e afins são usados para oferecer as pistas. Pistas estas que são muitas, literalmente, em vários momentos há tanta informação na tela, que a vontade é pausar o filme para analisar cada uma delas. O que me lembra: opte pela versão dublada, já que a produção já tem muita informação em cena, além das legendas.
Um problema no uso de apenas telas como recurso para contar a história, é a forma como a protagonista é mostrada. Para ter a moça sempre em cena, o roteiro faz com que a personagem matenha o aplicativo de câmera constantemente aberto, mesmo quando não conversa com outras pessoas. Ninguém usa o computador com uma câmera mostrando a própria imagem para si mesma todo o tempo.
E por falar na tela do notebook de June, por vezes a produção opta por usar zoom, e movimentar a câmera freneticamente naquele espaço, o que causa certa confusão visual em muitos momentos. Essa escolha, cria uma linguagem mais jovial e dinâmica, mas eventualmente precisa ser deixada de lado. É justamente no clímax, que a produção precisa recorrer a uma fotografia mais parada, criando certa incoerência de ritmo. Nada no entanto, que afaste quem já estava envolvido até ali.
De volta ao filme, a profusão de pistas oferece o cenário perfeito para que o público, mesmo que passivamente, investigue junto com June. Elemento essencial para construir uma obra de mistério envolvente. É verdade porém, que o excesso de reviravoltas, acabam tornando o desfecho previsível, já que tantas opções são oferecidas e descartadas. Sim, você provavelmente vai matar a charada antes da adolescente. Mas até lá, é divertido indagar tudo e todos.
Sempre em tela, Storm Reid desperta nossa empatia facilmente, assim como deixa claro a personalidade e temores de June. Uma adolescente comum, que tem desentendimentos com a mãe típicos da idade, mas obviamente fica desesperada pela perspectiva de perdê-la. O impasse geracional, é uma das poucas discussões apontadas aqui. E assim como as demais, golpes cibernéticos e violência doméstica, é um tema apenas insinuado, nunca de fato desenvolvido. O mistério é o foco aqui, os outros temas são apenas escada para criar os empecilhos e descobertas.
O restante do elenco entrega bem o que lhes é pedido, sem grandes surpresas. A não ser pela aparição de Joaquim de Almeida. Um dos "latinos oficiais de Hollywood", o ator, que na verdade é Português sempre entrega uma atuação eficiente e carismática.
Desaparecida repete a proposta do excelente Buscando (será este o surgimento de uma franquia?). Sem o frescor da novidade, e não tão assertivo, mas ainda, bem produzindo, intrigante e dinâmico o suficiente para proporcionar um entretenimento envolvente e divertido.
Desaparecida (Missing)
2023 - EUA - 111min
Suspense, Drama
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