As duas primeiras aventuras do Homem-Formiga tinham uma característica incomum no MCU. Isolamento e escala, mesmo quando haviam participações de outros personagens, a trama principal era auto-contida. Assim como a problemática e as batalhas, que fugiam da megalomania dominação/destruição do mundo e focavam na tecnologia Pym. Com isso em mente, é impossível não notar a curiosa proeza de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. A terceira aventura dos heróis com nome de inseto é grandiosa, tem importância no grande esquema do MCU, mas continua contida em sua família chave. Tal como seus protagonistas, pode ser grande e pequeno dependendo do momento.
Na vida pós Ultimato, Scott Lang (Paul Rudd) tem um cotidiano até pacato, vivendo de contar suas aventuras em livros e podcasts. Já sua filha Cassie (Kathryn Newton) é uma ativista empolgada com a tecnologia quântica, e faz seus próprios experimentos com a ajuda de Hope e do Dr. Hank Pym (Evangeline Lilly e Michael Douglas). E um de seus experimentos acaba sugando Scott, Cassie, Hope, Hank e Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) para o Reino Quântico. Local que não é tão vazio quanto acreditávamos até então.
Nada dos amigos de Scott, agentes de condicional, a mãe e padrasto de Cassie, ou qualquer outra coisa do nosso mundo faz parte dessa aventura. Acompanhamos esses cinco personagens desbravarem esse admirável mundo novo, que tem criaturas, civilizações e regras próprias, além de estar passando por uma fase crítica sob a tutela de Kang, o Conquistador (Jonathan Majors). A história é grandiosa no sentido que envolve um mundo todo, mas é contida quando pensamos que só envolve uma família em um mundo subatômico, fora do espaço e do tempo, que não interfere em nada com o "nosso mundo".
Já entre os mocinhos, relacionamentos e personagens são desenvolvidos ao longo da jornada. À começar pela relação entre Scott e Cassie. Ele precisa entender a garota está amadurecendo, enquanto ela que pode confiar e aprender com seu pai. Hank e Hope, precisam enfrentar o passado de Janet, enquanto descobrem tudo que ela viveu nos trinta anos que esteve sumida, e escondeu deles. A matriarca por sua vez, precisa se abrir com a família, e mostrar quem realmente se tornou ao longo dos anos.
Outro atrativo é o Reino Quântico em si, há muito a ser descoberto por lá. Desde criaturas e locais que lembram mundos alienígenas como os vistos em Star Wars e Star Trek, até as regras que regem esse lugar vibrante e colorido. Alguns personagens secundários inclusive geram bastante interesse, será que um dia os veremos novamente, ou saberemos mais sobre ele.
É preciso comentar também que o Reino Quântico como foi concebido, é criado completamente em GCI, apesar de criativo e deslumbrante, o excesso de computação gráfica pode sim cansar os sentidos. Além de tirar um pouco do impacto, dos poderes do personagem. Sem objetos do cotidiano para a comparação, não é tão impressionante ver algo encolher ou aumentar. Admito que senti falta do bom uso da mudança de tamanho, e principalmente fiquei cansada com a fotografia saturada necessária para criar esse mundo. Acredito que isso varie de acordo com a sensibilidade de cada um.
O que nos leva as sequencias de ação. As lutas são as menos inspiradas e mais confusas de toda a trilogia. Tanto pela coreografia e edição, quanto pelo excesso de informação na tela. A criatividade e a boa dinâmica de usar as mudanças de tamanho durante os embates, presente nos filmes anteriores, não funcionou aqui.
O humor continua presente, já que faz parte da personalidade do protagonista, e contagia quem está a sua volta. Entretanto, as piadas aqui muitas vezes perdem espaço para a ameaça, ou são relegadas à coadjuvantes. Especialmente M.O.D.O.K. (Corey Stoll), personagem icônico dos quadrinhos que tem sua vilania amenizada em prol do humor.
E por falar em M.O.D.O.K. seu visual fiel aos quadrinhos deixa bem claro que Quantumania não tem medo de ser brega e colorido no melhor dos sentidos. Os trajes dos heróis ainda seguem o padrão tático dos filmes anteriores, mas o restante do mundo está cheio de cores extravagantes, acessórios exagerados e capas coloridas.
Aparentemente não há enormes conexões com o MCU, de fato o restante do mundo nem está ciente da aventura. Mas são só aparências, já que a presença de Kang é o chute inicial para a saga do multiverso. Ou seja, Quantumania não tem grande impacto, ainda, como o protagonista insinua muito claramente em certo momento. Quanto mais sobre vilão for desenvolvido, mas as coisas se mostrarão conectadas. As duas cenas pós créditos deixam isso bem definido.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é uma aventura divertida sobre uma família, para toda a família. Não é a melhor aventura destes personagens, mas também não entendia. Dá início a fase quatro, sendo grandioso e contido ao mesmo tempo. E talvez isso seja um pouco confuso, mas muito curioso.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania)
2023 - EUA - 125min
Ação, Aventura, Ficção-científica
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