The Handmaid’s Tale - 5ª temporada

Após assistir o quarto ano de The Handmaid’s Tale, eu poderia jurar que a quinta temporada seria a última. Qual não foi minha surpresa quando seus roteiristas mostraram que ainda há alguns aspectos dessa história para preencher também um sexto ano. Apesar de alguns personagens aparentarem já ter terminado suas jornadas. Esta resenha pode conter spoilers!

A diplomacia não é eficiente o suficiente para June (Elisabeth Moss), que após matar Fred Waterford no final da temporada anterior, continua impacientemente buscando formas de resgatar Hannah. Sem marido, Serena (Yvonne Strahovski) é um elemento com o qual Gilead não sabe lidar. Isolar e rebaixa-la é a solução encontrada. Enquanto isso Nick (Max Minghella) e o Comandante Lawrence (Bradley Whitford) crescem na hierarquia do regime, que agora tenta "exportar" suas ideias, ao mesmo tempo que estimula a antipatia dos canadenses pelos imigrantes foragidos de Gilead.

June, Serena, Gilead. São estas as três principais linhas que acompanhamos neste quinto ano. O que acaba deixando de lado, ou relegando à participações de fundo outros personagens que antes tinham mais tempo de tela. O exemplo mais gritante é Moira (Samira Wiley) que não tem história nenhuma nesta temporada, ela apenas existe e convive com June e Luke. Rita (Amanda Brugel) faz aparições pontuais, como uma espécie de conselheira, enquanto Emily desaparece, uma vez que sua interprete Alexis Bledel abandou a produção. Dentro de Gilead, o espaço de tela dos personagens parece mais equilibrado. Ainda sim, o arco de Esther (Mckenna Grace) é completamente esquecido no desfecho da temporada. Por outro lado, as linhas narrativas que ganham foco, crescem e evoluem muito mais com o tempo extra.

Serena vai do céu ao inferno. Vista quase como uma rainha ao organizar o funeral que transforma seu marido em um mártir, e faz uma declaração de guerra velada a June. Para logo em seguida, perceber que não tem mais lugar no regime, e ser relegada ao papel de aia não oficial. Sua luta agora, é a mesma de June, e a série não usa sutilezas ao apontar que a personagem está experimentando do próprio veneno e toda a ironia da situação.

Já nossa protagonista começa a jornada inebriada pela glória da vingança, e sedenta por mais, em alguns momentos à beira da loucura. Em constante conflito entre a pessoa que deseja ser, e a pessoa moldada por Gilead. Cada uma vencendo em diferentes situações, June luta tanto com os meios legais e a diplomacia, quanto com unhas e dentes. Seja para resgatar Hannah, seja para se defender, já que como símbolo de resistência, ela é uma ameaça e alvo ambulantes para Gilead. Mais complicada é sua relação com sua antiga "empregadora". Oscilando entre ódio e empatia com Serena, as personagens criam uma conexão tão forte quanto indesejada por ambas, que devem determinar seus caminhos no próximo ano. 

Outra que evolui bastante é Tia Lydia (Ann Dowd). A personagem desenvolveu um carinho por Janine (Madeline Brewer), ao mesmo tempo que começou a notar a hipocrisia do sistema em que está inserida. E assim começa a tentar contornar essas "falhas", proteger os seus e exigir reparações. Uma grande mudança pode ser esperada de Lydia para os próximos episódios. Janine, por outro lado continua fazendo o que faz de melhor, sobrevivendo. Sem perder a empatia, a consciência de sua classe, e se tornando um pilar para as outras aias. 

Os personagens masculinos tem como maior função mover a trama, mas mesmo assim tem seus pequenos arcos. Luke (O-T Fagbenle) pode finalmente assumir uma posição de luta. Enquanto Nick, passa boa parte da temporada "em cima do muro" antes de finalmente se sacrificar. Embora as escolhas de roteiro para a luta dos dois possam ser questionadas. Nick pôs tudo a perder ao enfrentar Lawrence. Enquanto Luke tinha outras opções para proteger June na estação. 

É Lawrence quem realmente se destaca, ocupando o vácuo de poder deixado por Waterford, o arquiteto de Gilead, começa a reestruturar seu regime. Se diz arrependido, ao mesmo tempo que faz escolhas duvidosas, tornando impossível descobrir suas verdadeiras intenções, ou deduzir seus próximos passos. 

A situação dos refugiados de guerra é outro tema que ganha destaque, e chama atenção pelos paralelos com a realidade. Temos uma grande população de imigrantes, que antes foram recebidos com hospitalidade, mas agora parecem estar incomodando alguns dos anfitriões. A hostilidade é crescente ao longo da temporada, culminando em ataques no clímax, que mudaram completamente a dinâmica dos personagens para os episódios futuros. 

Se em temática e discussões a série surpreende por ainda encontrar vieses não explorados. Tecnicamente ela mantém a qualidade que mostrou ao longo de todas as temporadas até então. Com figurinos e direção de arte cheia de simbolismos, que constrói toda uma cultura própria de Gilead, além da bela fotografia. Elementos que se destacam principalmente no sétimo episódio. "No Man's Land" (Terra de Ninguém em português), episódio que aborda o parto de ares bíblicos de Serena. Indicando que pode haver muito em torno do nascimento do bebê Noah, que nasceu de uma "mãe estéril", no feno de um celeiro abandonado. 

Soa até como redundância, elogiar o trabalho desse elenco que mantém a qualidade das atuações desde o primeiro ano. O destaque é claro, fica com Elisabeth Moss, que também ocupa brilhantemente a cadeira de diretora de alguns episódios, além de dar vida a e sua complexa e visceral June. Yvonne Strahovski, é seu contraponto perfeito, a dinâmica de ódio e empatia entre as duas é irretocável. Enquanto Bradley Whitford, transmite com exatidão a ambiguidade de Lawrence, Ann Dowd, Madeline Brewer e Mckenna Grace, também se destacam pela imensa carga dramática de suas atuações. 

Outro aspecto interessante a se notar, é o grande número de mulheres na cadeira de direção. Apenas um episódio foi comandado por um homem. A predominância de diretoras certamente, influenciou na forma mais eficiente, e menos apelativa de abordar a violência contra mulheres. Uma mudança bem vinda considerando a temática da série, e as acusações de buscar audiência através da violência (o tal "torture porn"), que a série enfrentou em temporadas passadas. 

A quinta temporada de The Handmaid’s Tale poderia sim ser a última. Felizmente, a série surpreende, e mostra que ainda tem alguns temas a explorar, e o faz de forma rica e eficiente. Além de posicionar todos os personagens para a derradeira temporada. O sexto ano da série já foi confirmado, e será desfecho da jornada. 

Todas as temporadas de The Handmaid’s Tale  estão disponíveis no Paramount+. O Globoplay também tem as quatro primeiras temporadas da série.

Leia mais sobre The Handmaid’s Tale.

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