Enola Holmes 2

O primeiro caso que Enola Holmes resolveu foi seu batismo de fogo. O mistério caiu em seu colo, e a garota não tinha outra opção além de resolvê-lo. Agora, ela está experiente e pronta para mais um serviço, que não vem tão fácil assim. A protagonista precisa se provar como detetive em uma sociedade que a descarta por ser mulher, jovem, e por não ser seu irmão famoso. E assim que reencontramos a irmã de Sherlock em Enola Holmes 2, da Netflix.

Depois de algum tempo tentando se tornar uma detetive longe da sombra do irmão, e quando está prestes a desistir, um caso finalmente surge para Enola (Millie Bobby Brown). Trata-se do desaparecimento de Sarah Chapman (Hannah Dodd), uma operária da fábrica de fósforos cujo desaparecimento deixou sozinha sua irmã menor Bessie (Serrana Su-Ling Bliss). É claro, o que parece um caso simples, logo se desenrola em uma trama maior que envolve corrupção no governo, e que vai de encontro no caso em que Sherlock Holmes (Henry Cavil) está empacado.

Assim como os dois casos se cruzam e se misturam, os Holmes também se perdem e reencontram no caminho. Tanto Enola quanto Sherlock tem o mesmo problema, a incapacidade de aceitar ajuda e aliados. Esta é a lição a ser aprendida aqui por ambos, reconhecer o apoio um do outro, e daqueles que os cercam. A escolha por reforçar a relação entre os caçulas Holmes é uma faca de dois gumes. Se por um lado rendem cenas divertidas e adoráveis entre Millie Bobby Brown e Henry Cavil, e amadurece os personagens. Por outro faz exatamente o que a protagonista teme, a coloca sob a sombra do irmão. Oficialmente este ainda é um filme dela, mas volta e meia ele aparece para "salvar a pátria". Além disso, muitas concessões são feitas para construir o universo dele, incluindo referências e personagens.

O emaranhado dos casos complica o roteiro, que fez com que seus roteiristas receassem que o público alvo (infanto juvenil, e jovem adulto), não acompanhassem sua evolução. Trazendo de volta uma característica negativa do primeiro filme, a repetição e o excesso de explicações. Alongando o filme mais que o necessário em alguns momentos. 

Uma característica que retorna melhorada da aventura anterior é a quebra da quarta parede. Antes mais intrusivas e redundantes, agora as interferências estão mais sutis e  orgânicas. Acontecem sem atrapalhar o andamento da história, ou interrompê-la apenas para uma gracinha ser feita para o público. 

Apesar de ainda baseada na personagem de Nancy Springer, que por sua vez se inspirou no universo de Sir. Arthur Conan Doyle, este filme não adapta nenhum livro específico. Ao invés disso, tem como base um caso real, a Greve das Matchgirls (as garotas dos fósforos). Liderada por liderada por Sarah Chapman em 1888, que protestavam contra as condições insalubres de trabalhos. A maioria mulheres jovens, adolescentes e crianças, tinham jornadas de até quatorze horas de trabalho, nas quais lidavam com o fósforo branco tóxico que causava deformidades na mandíbula, danos cerebrais e eventualmente a morte. O tema escolhido conversa bastante com a protagonista, uma jovem mulher tentando encontrar seu lugar em um mundo que apesar de em constante transformação, não pretende evoluir em prol do sexo feminino. 

Millie Bobby Brown e Henry Cavil tem uma dinâmica interessante juntos, e estão mais confortáveis em seus papéis. A jovem também tem uma quimica foca com Louis Partridge, fazendo com que torçamos por Enola e Tewkesbury, mesmo que seu romance não seja a prioridade da história. Ainda retornam com atuações eficientes e pontuais Helena Bonham Carter, Susan Wokoma e Adeel Akhtar. Entre os nomes novos, além de Hannah Dodd e  Serrana Su-Ling Bliss, chamam atenção as aparições de David Thewlis e Sharon Duncan-Brewster.

A reconstrução da era vitoriana aqui é bem mais limpa e colorida que a realidade, mesmo na insalubre fábrica de fósforos. Mas, o tom mais lúdico combina com o tom da produção e com o filme anterior. Além de nos presentear com belos cenários e figurinos, como os disfarces de Enola, e o curioso apartamento de Tewkesbury. 

Enola Holmes 2 é divertido, dinâmico, de linguagem ágil e inteligente. Em alguns momentos se perde em explicações, ou confunde um pouco sua mensagem feminista, e quase eclipsa sua protagonista com o irmão mais famoso. Mas ao final da jornada tudo se encaixa, Enola se prova como detetive, como personagem título, e o recado é entregue com eficiência. É a reafirmação não apenas da irmã de Sherlock, mas de uma franquia bem sucedida, e com muitas possibilidades pela frente!

Enola Holmes 2 
2022 - Reino Unido - 129min
Aventura/Mistério

Leia a crítica do primeiro filme!

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