Um simples par de brinco move a história, fazendo conexões e influenciando a vida dos personagens. Este é Desejos Proibidos (Madame de... no original), considerado um dos melhores filmes do cineasta alemão Max Ophüls. A produção franco-italiana, é inspirado por um romance de Louise de Vilmorin, embora o resultado tenha ficado bastante diferente do original. Segundo o próprio diretor, apenas as jóias e a vida vazia da protagonista permaneceram. Conteúdo suficiente para a vitrine da vida dos abastados que Ophuls pretende criar.
A Condessa Louise tem um casamento sem amor com o General André, levando uma vida de regalias e sendo cortejada por muitos homens, mesmo quando acompanhada pelo marido. Graças à vida frívola e superficial que leva, a moça parisiense acaba se endividando sem que o marido saiba e resolve vender um par de brincos e fingir que os perdeu. O general tem uma reação exagerada, e coloca um anuncio de roubo nos jornais, o que assusta o joalheiro que comprou as joias. Ele procura André e que as compra de volta.
Dessa vez, o general presenteia a amante com os brincos, a moça se muda para Constantinopla e perde as joias no jogo por lá. O diplomata italiano Barão Fabrizio Donati as compra e se muda para Paris onde se apaixona por Louise. Eventualmente lhes dá os brincos de presente, e a moça com uma encenação conta para o marido que achou os valiosos objetos a muito perdidos. André então, tem a certeza de que a esposa tem um amante, e decide “resolver” a situação.
Uma verdadeira ciranda, que nos apresenta a pomposa e fria vida da alta sociedade da Belle Époque. Uma vitrine da vida dos ricos, em uma sociedade rígida e cheias de regras, que eles não em receio em burlar. Até porquê se você é rico, e homem, provavelmente não verá as consequências. Os brincos são o fio condutor perfeito para observarmos as falhas dessa sociedade. Começando como um símbolo de posse, como presente do marido. Depois de traição quando vendidos, recomprados e dados amante. Essa moça aí fica por do fator ganância. E finalmente a peça vira símbolo de amor, mas também prova de adultério.
O contexto todo é bastante misógino, tratando a protagonista primeiro como objeto. Depois julgando em suas ações e finalmente a tratando como criatura frágil, e diminuindo até essa fragilidade. À certa altura o marido pede que a esposa restrinja seus muitos desmaios ao tempo de três minutos, mais que isso é inconveniente.
O título original do longa é Madame de..., assim mesmo incompleto. Isso porque o sobrenome da protagonista e seu marido nunca é citado. Sempre que está prestes a ser revelado, um barulho ou corte seco interrompe a cena. Segundo o diretor a intenção é fazer parecer que este casal poderia representar qualquer pessoa (particular, não acho que a maioria da população se identifique com a classe mais abastada). Mas também pode ser interpretado como o anonimato que o dinheiro te proporciona, para burlar regras e viver seus desejos proibidos.
Segundo o IMDB, a versão inicial tinha um final mais longo, mostrando os brincos sendo passados para uma jovem prestes a se casar com um General. Dando a entender que o ciclo se repetirá. Mas o diretor sentiu que este desfecho enfraquecia o destino da protagonista. Eu discordo! A insinuação de a sociedade continua cometendo os mesmos erros, e repetindo tragédias, tornaria o filme muito mais rico.
Ainda sim, a técnica de Ophuls é impecável, bem como suas escolhas para contar a história. Repare na bela sequencia de dança que denota a passagem de tempo. Hoje em dia lugar comum no cinema, naquela época uma novidade. Ou ainda a forma como ele nos apresenta a protagonista através de seus objetos antes mesmo que vejamos seu rosto.
Desejos Proibidos é uma vitrine de um mundo ao qual a maioria não tem acesso, revelando suas falhas e hipocrisias. Certamente causou impacto em sua época, ao mostrar o lado mais feio da vida dos abastados. Mas para o público de hoje, é bastante esquecível. Não entra para minha lista de essenciais!
Desejos Proibidos (Madame de...)
Max Ophuls
1953 - França, Itália - 1h45min
Drama, Romance
O Projeto 1001, é um desafio cinéfilo que está rolando aqui no blog e em meu TikTok. Nele eu tento assistir as produções listadas no livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer de Steven Jay Schneider. Sempre deixando minhas impressões, apontando detalhes e curiosidades.
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