Andor - 1ª temporada

"Criado pela guerra Cassian não tem limites nos atos pela causa." - essa foi a descrição que dei ao personagem de Diego Luna, na minha crítica de Rogue One - Uma História Star Wars, anos atrás. Andor, série do Disney+ focada no personagem, pretende mostrar esta "criação rebelde" de seu protagonista. 

A surpresa fica por conta de descobrir que Cassian foi sim criado por revolucionários, mas a causa nem sempre esteve em seu sangue. É apenas na idade adulta, e por circunstâncias além de sua vontade que ele se descobre a revolução. E muitas vezes, suas escolhas que beneficiam a luta, são tomadas por razões completamente egoístas. Como este Cassian se transforma naquele que vemos em Rogue One? Esta é a pergunta que a série vem responder. Mas ela acaba mostrando muito mais coisas.

Além do protagonista também vemos as jornadas de Luthen Rael (Stellan Skarsgård), Mon Mothma (Genevieve O'Reilly), Syril Karn (Kyle Soller) e Dedra Meero (Denise Gough), todas de uma forma ou de outra, influenciando a de Andor, e culminando em um grande clímax. À exceção aqui talvez seja a Senadora Mon Mothma, com o arco mais distante do protagonista, é ela quem navega pelos altos escalões do império, jogando um jogo arriscado enquanto tenta alimentar a revelião.

Dedra Meero e Syril Karn são a mão do império. Ela, bem articulada e eficiente, ele rebaixado e obcecado por uma causa que apenas ele defendem. Ambos soam patéticos e manipulados, em suas falsas soberbas como peões de um império que começa a perceber que tem falhas. Já  Luthen Rael é o recrutador, agindo nos dois campos da disputa, em prol da rebelião. Há ainda personagens que circulam estes nucleos e ajudam a história a avançar, como Bix, Vel Sartha, Major Partagaz e  Maarva Andor (Fiona Shaw).


Reparou que citei muitos personagens? E posso garantir, muitos ficaram de fora. Isso porque o universo vasto é ao mesmo tempo os pontos forte e fraco de Andor. Se por um lado, expande nossa compreensão do funcionamento da galáxia, seus meandros e detalhes. Por outro, a amplitude confunde e afasta muita gente, além de conferir um ritmo mais compassado a narrativa. Fator que se complica ainda mais para quem não viu todos os derivados da saga, como as animações que explicam outros detalhes e personagens como Saw Guerrera (Forest Whitaker). Talvez por isso a série não tenha feito tanto barulho quando o esperado entre os fãs.

Para passear por tantos cantos da galáxia a construção do protagonista por vezes é arrastada e repetitiva. A sensação é que o personagem passa boa parte do tempo perdido, sem entendimento da situação em que está se envolvendo. E talvez esteja mesmo, mas para a audiência comum pode parecer cansativo. Diego Luna é carismático, e mesmo com estes empecilhos consegue nos fazer se importar com o protagonista.


Aliás o elenco com um todo é eficiente, dentro do que seus papéis exigem. Especialmente a experiente Fiona Shaw, que compõe sua personagem já frágil pela idade, com incomum força e sabedoria. Seu monólogo no clímax, resume com sentimento exato, tudo que a série tem defendido até ali.

A divisão da trama em arcos de três ou quatro episódios é uma ideia que deveria conferir dinamismo à narrativa, mas a divisão se arrasta demais em alguns arcos, e se apressa em outros. O arco do roubo é o mais gritante, são pelo menos dois episódios, apenas planejando a ação e mesmo assim mal a apresenta para o público. Já o arco da prisão tem ritmo e duração exatos para engajar o espectador o na causa.


É esse detalhismo de mostrar como o universo funciona, dos planetas mais distantes, aos corredores do império, e principalmente o discurso contra o totalitarismo do império que engrandecem a série. Pela primeira vez Star Wars está explicando clara detalhadamente os males desta ditadura, e a importância da luta pela liberdade. O que antes eram apenas temas indicados entre lutas de sabre e batalhas de navezinhas, agora é destrinchado, explorado, exemplificado, e ainda cria paralelos assustadores com a vida real. Especialmente para nós, brasileiros que vivem no atual governo.

Mas calma, ainda tem uma outra batalha de nave e muitos embates corpo a corpo. Os sabres de luz ficaram de fora, mas isso era esperado, devido ao período em que a história se passa. Tudo isso com o padrão de qualidade já conhecido da franquia, que aqui aposta em cenários, e figurinos para construir universo e atmosfera. Recorrendo à computação gráfica apenas quando necessário. 


Andor podia ser mais ágil, dois ou três episódios à menos não lhe fariam mal. Bem como um desenvolvimento mais firme de seu protagonista. Ao menos Cassian é carismático o suficiente para nos preocuparmos com seus passos na já confirmada segunda temporada. Enquanto a série aproveita bem este tempo extra para reforçar seu discurso, e desenhar para quem ainda não entende: Star Wars é política sim, e nenhuma ideia é mais relevante e natural que o desejo de liberdade!

Andor tem doze episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis no Disney+.

Leia mais sobre Star Wars. Confira a crítica de Rogue One - Uma História Star Wars.

Post a Comment

أحدث أقدم