Uma boa história é um excelente ponto de partida, mas sozinha não faz um grande filme. Roteiro, direção e montagem coerentes com a boa premissa também são essenciais. A trama de Justiceiras, novo filme teen da Netflix é inteligente, cheia de reviravoltas e críticas a sociedade e ao mundo adolescente, mas tudo fica perdido em um desenvolvimento confuso e cansativo.
Apesar de ser pobre e bolsista, Drea (Camila Mendes) passou a vida construindo a imagem perfeita na escola particular que frequenta. Grupo de amigos popular, namorado mais cobiçado do colégio e grandes chances de entrar em Yale. Trabalho que vai por água à baixo quando o tal par romântico vaza um vídeo íntimo da moça, e por ser rico sai impune. É aí que a personagem une forças com Eleanor (Maia Hawke), aluna nova que também tem um desafeto no colégio. Juntas as adolescentes resolvem fazer justiça uma pela outra e tornar a vida de seus "inimigos" um inferno.
Sim, esta sinopse traz situações bem semelhantes a outros filmes sobre vinganças e intrigas no ensino médio. E tudo bem, volta e meia estas histórias são mesmo recontadas com atualizações para a geração atual. Além disso, a trama de Justiceiras, traz algumas boas reviravoltas que justificam a repetição do tema. O problema é o caminho para chegar a esta recompensa.
Desde as primeiras cenas, o ritmo da produção é confuso. Adotando uma velocidade que abusa de saltos temporais e omissões. Os planos de vingança das moças são relativamente simples, mesmo assim elas levam meses inteiros para executá-los. Por outro lado as consequências de seus atos são mostrada de forma relativamente breves, tenham eles dado certo, ou não.
A alternância entre narradoras, tanto Drea quanto Eleanor nos contam a história em momentos diferentes e com pontos de vista distintos, também confunde e cria uma redundância desnecessária. Porque falar, quando é mais eficiente mostrar. Nem os bons plot-twists escapam de uma verborragia didática, que menospreza a paciência do público. Os romances que de tão obrigatórios, são quase burocrático, também roubam tempo de um desenvolvimento mais interessante relevante para a trama principal, a construção da amizade entre Drea e Eleanor.
Inspirado por outros filmes adolescentes como Meninas Malvadas, As Patricinhas de Beverly Hills e Todas Contra John, a produção parece se esforçar para construir sua própria identidade, e tentar ficar entre as produções memoráveis do gênero. Esforço que é visto principalmente no figurino, seja na construção de identidades visuais marcantes para as protagonistas, seja através dos fofos, porém nada realistas uniformes escolares. Se o trabalho vai gerar resultados e se tornar icônico, só o tempo dirá. Particularmente acredito que não.
De volta ao roteiro, ainda há espaço para incluir temas atuais nos embates, apesar de os discutir de forma bastante rasa. Desde a defesa de pautas importantes apenas para ganhar espaço midiático, como o "clube feminista" do boy lixo Max (Austin Abrams), passando pela difamação nas redes e o impacto na vida real das pessoas, e até o protagonismo não branco. Embora este último seja usado de forma duvidosa, pela protagonista latina.
Duvidosa, essa é a palavra! As personagens e ações de Justiceiras são completamente duvidosas. Apesar de nos apegarmos à dupla de protagonista com facilidade (principalmente por causa do carisma de suas interpretes), ninguém naquele ensino médio é o que parece. Por isso os rumos da história são interessante, apesar de sua execução problemática.
Mendes e Hawk, esbanjam carisma, mas não entregam nada muito diferente de seus trabalhos em Riverdale e Stranger Things, respectivamente. Outra destaque do elenco é a breve e hilária participação de Sofie Turner. Sarah Michelle Gellar completa o pacote evocando filmes teens de outros tempos. Já a ausência total de pais ou responsáveis na vida destes adolescentes causam uma incômoda estranheza.
Justiceiras tinha trama e potencial para se tornar o Meninas Malvadas dessa geração. Mas sua execução fraca, desperdiça as boas ideias e as protagonistas que já trazem uma base de fãs. Estes fãs vão amar passar um tempo com suas estrelas favoritas. Para os demais espectadores, é apenas mais um filme teen esquecível.
Justiceiras (Do Revenge)
2022 - EUA - 118min
Comédia
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