Caso você ainda não tenha notado, a grande maioria dos filmes é mediana, nem um fracasso total, nem uma obra prima. Entretanto o fenômeno dos streamings parece estar mudando essa balança, ao entregar um maior numero de produções fracas conduzidas pelo que seus algoritmos acreditam fazer sucesso. Fico feliz em apontar Fim da Estrada da Netflix, não é mais uma dessas produções encomendadas confusas e rasas.
Incapaz de manter a casa sozinha após a morte do marido, Brenda (Queen Latifah) vê como melhor opção se mudar com a família para o outro lado do país. O que inclui uma longa viagem de carro ao lado dos filhos Cam e Kelly (Shaun Dixon e Mychala Lee), e do irmão Reggie (Ludacris). Logo na primeira noite o grupo presencia um assassinato, e uma sacola de dinheiro desaparecida os colocam na mira assassinos.
A partir daí, uma viagem que já era longa, desconfortável e hostil (antes mesmo do crime, a família já é desafiada por racistas) se torna uma corrida contra o tempo e pela vida. Brenda se desdobra para resolver tudo, lutar contra todos, e manter seguro os seus. Entre escolhas ruins de quem a acompanha, e antagonistas que parecem brotar de todos os lados.
Queen Latifah faz de tudo um pouco, comédia, ação, musical drama... ela não tem medo de arriscar. E, apesar de sua persona se impor em todos os personagens (é sempre a Queen Latifah), a emoção e vivência investida em cada um deles estão sempre corretos. Aqui, é possível ver a mescla de cansaço, tristeza e o ultimo fio de esperança de uma mãe enlutada dar gradualmente espaço a temor, desespero, e garra que a personagem precisa para salvar sua família.
E por falar na família, Shaun Dixon e Mychala Lee entregam o que lhes é pedido, o garotinho fofo e a adolescente impetuosa. É Ludacris quem tem o trabalho mais difícil, de construir um personagem que só faz escolhas ruins, em alguns momentos realmente burras, sem perder a empatia do público.
A trama não traz nada realmente inovador, alguns passos são até previsíveis, mas o roteiro bem equilibrado constrói um crescendo de tensão e desafios que consegue manter o espectador interessado. Conseguindo até inserir momentos de humor, em seu argumento mais tenso. Já a boa apresentação da família, que conquista facilmente nossa torcida por ela.
Um ritmo interessante, desafios crescentes e personagens pelos quais nos importamos, eis a fórmula para um bom thriller. O que lhes dá até permissão para extrapolar em algumas soluções. E daí que é improvável que uma mãe de família, mesmo que bem treinada, de conta de uma dezena de pessoas sozinha? Queremos ver Brenda triunfar sobre aquele grupo de nazistas.
A direção de Millicent Shelton, estreante em longas-metragens, mas com vasta experiência na TV, é simples e competente. Não traz escolhas marcantes, mas funciona bem, até em sequencias de luta e perseguição, que mesmo em cenas noturnas nunca soa confusa ou mal elaborada.
Fim da Estrada não é uma obra prima, mas também não é a mal ajambrada colcha de retalhos criada por um algoritmo. É, assim como a maioria, um filme mediano. Um bom filme, que entrega o que propõe, entretenimento eficiente por noventa minutos, e apenas isso.
Fim da Estrada (End of the Road)
2022 - EUA - 89min
Drama, Ação
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