Você ainda precisa assistir Westworld, e eu posso provar!

Após uma terceira temporada problemática, Westworld parece estar voltando aos trilhos. Há muito o que reparar dos danos causados pelo terceiro ano, e muitas de suas características marcantes foram perdidas, é verdade. Mesmo assim, com quatro episódios do quarto ano exibidos, a série da HBO, tem trazido de volta a narrativa complexa e intrigante que conquistou o público em sua perfeita temporada de estreia. 

Logo, achei coerente trazer de volta um texto que escrevi anos atrás em uma parceria com o site Pllano Geral, que apresenta e relembra os motivos para assistir a produção. Além de dar meu parecer atualizado sobre o que a série tem apresentado nos últimos tempos. 

Você precisa assistir Westworld, e eu posso provar!

Caso você tenha ficado preso em um parque de diversões nos últimos anos, e ainda não conheça Westworld, este texto vai te apresentar e explicar porque você precisa ver esta série da HBO. A produção é um dos melhores, mais complexos e bem produzidos programas da atualidade.

Lançada em 2016, a série criada por Lisa Joy e Jonatham Nolan (irmão e co-roteirista frequente do Christopher Nolan), já teve duas temporadas exibidas. É inspirada no filme Westworld - Onde Ninguém Tem Alma de 1973, escrito e dirigido por Michael Crichton (ele também escreveu o livro O Mundo Perdido, que mais tarde virou o filme Jurassic Park). 

Westworld é um parque de diversões com temática de faroeste onde, ao pagar uma pequena fortuna, os visitantes podem não apenas vivenciar a experiência do velho-oeste, mas também dar vazão aos seus mais íntimos desejos. Sem regras ou consequências. Isso porque o parque é habitado por “robôs” extremamente realistas que, obviamente, não tem a menor noção de sua condição, e convenientemente tem as memórias das atrocidades que os humanos fazem com eles apagadas regularmente. Mas, e se eles começassem a se lembrar? E se eles começassem a questionar a natureza de suas realidades? 

É aqui que eu interrompo a sinopse para evitar spoilers, e começar a enumerar os motivos para você precisa assistir esta série:

1 - Ficção científica + faroeste + o que mais for possível!

A série mistura faroeste e ficção cientifica de forma curiosamente eficiente. Os temas se complementam, e mais tarde o universo se expande. Não faltando possibilidades e temas a serem incluídos na trama. 

Como faroeste é excelente, com toda a ação, situações e estereótipos característicos do gênero, a mocinha, o cavaleiro solitário, o bandido procurado, o saloon. Ao mesmo tempo, a série não tem medo de subverter e tornar mais complexos cada um destes ícones, quando necessário. 

Como ficção cientifica, além dos avanços tecnológicos, gadgets e afins, traz uma gama de questionamentos filosóficos e críticas sociais que toda boa obra do gênero tem. Humanidade, consciência, empatia, escravidão, livre arbítrio, desejos reprimidos, complexo de deus, realidade e ficção estão entre os questionamentos de seu roteiro. 

2 - Múltiplas narrativas

A forma como esta história é contada também foi escolhida para ajudar a conta-la. Núcleos distintos, loops e diferentes momentos no tempo criam um complexo quebra-cabeças que desafia o espectador, tanto quanto recompensa. Nada mais satisfatório ao perceber ao final da jornada que aquele monte de pedaços aleatórios, foram apresentados para criar uma história coesa, rica e sem furos. 

3 - Qualidade técnica

Para não deixar toda essa colcha de retalhos ficar confusa, a qualidade técnica também precisa acompanhar a narrativa. É ela que difere tons, atmosferas, além de rechear a narrativa de ecos, rimas, ciclos, símbolos e pistas. Nenhum cenário, movimento de câmera ou figurino é escolhido ao acaso, tudo está ajudando a contar esta complexa história. É bom ficar atento a cada detalhe.

4 - Personagens complexos

Ninguém é apenas bom ou mal em Westorld. Mesmo os “robôs”, criados para serem estereótipos do velho oeste, são criaturas complexas com arcos próprios e função na trama. Não raramente, nos surpreendem ao quebrar seus estereótipos enquanto revelam sua verdadeira natureza. Isso ajuda a criar a próxima qualidade do programa...

5 - Reviravoltas e teorias

O público atual é viciado em plot-twists, e Westworld tem os seus. Construídos de forma bem pensada ao longo dos episódios, possibilitam que o público tente adivinhar e criar teorias ao longo da temporada. Discutir Westworld durante a semana entre os episódios é parte da diversão. E quando a reviravolta surge, ou a teoria absurda se realiza, não soa como uma ideia “tirada da cartola”, inventada apenas para surpreender. Tudo é coerente com a narrativa e a jornada dos personagens.

6 - Planejamento

É isso que possibilita tudo. Reviravoltas, teorias, narrativa não linear, personagens bem construídos. Segundo seus criadores, a série tem planos bem definidos para todas as temporadas. Ou seja, nada de final duvidoso como em Lost ou Game of Thrones. O planejamento também conta com alguns episódios com cenas pós-créditos enervantes. Outra coisa que o público atual ama!

7 - Elenco

Anthony Hopkins, Evan Rachel Wood, Ed Harris, Thandie Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, James Marsden, Aaron Paul, Vincent Cassel e Rodrigo Santoro estão entre os nomes de peso no elenco. Mas fique de olho também nos rostos menos conhecidos, e participações especiais, como Louis Herthum. O ator arrancou elogios ao fazer o rancheiro Abernathy, ter uma pane que parecia tanto uma máquina defeituosa, quanto um humano com problemas neurológicos. 

E então veio a odiada terceira temporada!

O primeiro ano foi unanimidade entre o público. Já o segundo continuou excelente e ainda mais complexo, confundindo parte dos espectadores, o que pode ter influenciado os criadores, que resolveram simplificar a terceira temporada. E não vou mentir para você, o negócio desandou. E muito!

Saem a complexidade narrativa, as várias linhas temporais e até o tema de velho oeste que da nome à série. Entram uma narrativa linear simplista, motivações confusas, roteiro cheio de furos e uma valorização da ação em detrimento da história. A série ficou irreconhecível! Leia mais detalhes sobre isso na minha crítica da terceira temporada.

Então porquê voltar para a quarta temporada?

Tecnicamente, ainda não posso garantir que o quarto ano traga a redenção de Joy e Nolan. O que posso afirmar é que nestes quatro episódios já apresentados até o momento de publicação deste texto, a série parece estar retomando suas melhores características. Cronologia complexa, narrativa não linear, motivações mais claras, ecos, símbolos e até o jeitão de "faroeste" em alguns momentos, estão de volta. Bem como questionamentos filosóficos e científicos como livre arbítrio, eternidade, e até novos como machine learning, estão sendo introduzidos na narrativa. 

Ainda existem muitos danos a serem contornados, é fato. Afinal, a história não ignora os acontecimentos do terceiro ano, e precisa lidar com toda a bagunça criada nele. É muito trabalho, mas a série parece estar encontrando o caminho. Mas tempos que esperar o final da temporada para ter certeza. Volte neste blog, certamente vou escrever sobre. 

E aí, vai assisir?

A quarta temporada de Westworld é exibida semanalmente na HBO (aos domingos 22h), e também está disponível na HBO Max, assim como os três anos anteriores. As duas primeiras temporadas tem dez episódios, a terceira e quarta tem oito, todos com cerca de uma hora cada. 

Uma trama imprevisível, complexa, inteligente, para maiores de dezoito (sim, tem violência, sexo, drogas e rock and roll – fique atento às canções tocadas na pianola!), com qualidade técnica impecável e elenco de peso. Apesar da terceira temporada, não faltam motivos para ver ao menos os dois primeiros anos de Westworld. E agora que você está consciente das qualidades desta série, corre lá! Coloca sua maratona em dia, e vem com a gente questionar a natureza da nossa realidade.

Leia também as críticas da primeira, segunda e terceira temporadas. Descubra o filme Westworld – Onde Ninguém Tem Alma. Ou venha descobrir o que fazer quando sua série fica ruim

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