A Mulher do Viajante no Tempo - 1ª temporada

Imagina como deve ser bom se apaixonar na ordem certa! - exclama Clare em um certo momento de frustação em seu complexo relacionamento com Henry. Se apaixonar, é sobre isso que fala A Mulher do Viajante no Tempo. Uma relação de construção constante, onde pessoas transformam e são transformadas umas pelas outras.

Baseado no livro homônimo de Audrey Niffenegger, a série da HBO acompanha a complexa relação entre Clare Abshire (Rose Leslie) e Henry DeTamble (Theo James). Marido e mulher que tem um histórico complicado. Ele é um viajante no tempo, habilidade da qual não tem controle, o que faz com que ela espere por ele por toda uma vida.

Se relacionar com outra pessoa já é uma tarefa complicada por natureza, imagina se essa relação é construída em uma ordem completamente aleatória. Graças a sua habilidade involuntária, Henry adulto conhece Clare ainda criança, e ao longo de anos de encontros aleatórios constrói uma relação de afeto e confiança com a jovem. Esta por sua vez, cresce aspirando conhecer melhor aquele homem idealizado por curtos encontros secretos. Eventualmente, a dupla se encontra no tempo certo, mesmo ainda precisam alcançar o mesmo passo em sua relação. 


A ficção-científica é usada para exagerar e amplificar uma dificuldade bastante comum à todas os relacionamentos, não apenas amorosos. Os diferentes estágios da vida, e consequentemente de nossas interações com os outros. Perdas, desencontros, imprevisibilidade, diferentes níveis de maturidade, e outras dificuldades da vida compartilhada é ilustrado de forma potencializada, na construção do romance entre Clare e Henry.

O roteiro transporta todos estes temas das páginas para as telas, de forma dinâmica e eficiente. Saltando entre um tempo e outro, usando os temas, e não a cronologia, como linha guia. Assim, vamos dos primeiros encontros (são diferentes para ele e para ela) no primeiro episódio, ao casamento em seu desfecho, com todos os percalços que existem entre eles, e vislumbres da vida futura. 


O criador Steven Moffat, que tem nada menos que Doctor Who no currículo, sabe exatamente como utilizar a viagem do tempo à seu favor narrativamente, criando conflitos e paralelos entre diferentes linhas temporais. Bem como, já deve ter analisado bastante, como um romance fora da ordem afeta os envolvidos. Quem aí lembra de River Song, esposa do Doutor?

Apesar de tudo, vale mencionar. A Mulher do Viajante no Tempo é mais romance que ficção-científica. E apesar de construir uma mitologia sólida em torno da viagem no tempo, não está preocupada em explicá-la. O foco é a forma como esta afeta os personagens. 

E por falar em personagens, a Clare de Rose Leslie é inteligente, atrevida  e carismática. conquistando público com facilidade. Theo James demora um pouco mais para convencer, mas o faz, assim que as muitas facetas de Henry se fazem presentes. E por falar em diferentes versões, ambos os intérpretes se saem muito bem em compreender em que momento seus personagens estão a cada cena, bem como a química da relação em cada situação. Diferenciando bem seus diferentes anseios e maturidades conforme a idade, a evolução pessoal e a relação com o parceiro. Tudo isso apesar da maquiagem de envelhecimento um pouco forçada nas versões mais maduras do casal.

Outro fator importante da distinção entre um período e outro, são a direção de arte a fotografia, que constroem visualmente a diferença entre os momentos do tempo. Enquanto a montagem pontua bem as viagens de Henry, que sempre cai pelado e um lugar inesperado, garantindo muitos momentos cômicos no roteiro. Outras passagens que emulam um documentário, possibilitam que os próprios personagens transmitam diretamente o que estão pensando e sentindo, além de trazer falas icônicas do livro.

Com apenas seis episódios, esta primeira temporada cobre apenas parte do livro. Mais especificamente o encontro e romance entre o casal, mas apresenta dilemas para uma temporada futura. Deixando algumas perguntas em abertos. Até o momento, não há confirmações sobre um segundo ano. 


Um romance inusitado, inteligente e adorável, com potencial de fazer rir e chorar, toques de ficção-científica e produção impecável. A Mulher do Viajante no Tempo é uma das melhores surpresas da TV em 2022. Uma pena ter tão poucos episódios, e não finalizar toda a história, nos fazendo querer viajar para o futuro para acompanhar logo um necessário segundo ano.

A Mulher do Viajante no Tempo tem seis episódios com cerca de uma hora cada, foi exibida pela HBO e está disponível na HBO Max

O livro de Audrey Niffenegger já foi adaptado para o cinema, em um filme de 2009 que no Brasil ganhou o título de Te Amarei Para Sempre.


Post a Comment

أحدث أقدم