De Volta ao Baile

Em época de excesso de informação e rotina acelerada, impossível evitar a sensação de que o tempo passou num piscar de olhos. Sensação ocasional de ter ficado para trás, enquanto o mundo corre para frente também é comum. Na nova produção estrelada por Rebel Wilson para a Netflix, esse "salto de tempo" é literal e, entre uma piada e outra, aponta com bom humor situações e sentimentos comuns às gerações atuais. 

Stephanie (Angourie Rice) estava no auge de sua vida no ensino médio. Era popular, namorado gato, favorita à rainha do baile e capitã das líderes de torcida, quando um acidente em uma acrobacia a coloca em coma. A moça acorda vinte anos mais tarde, na pele Rebel Wilson, ainda com uma mente de dezessete anos, e determinada a continuar a vida de onde parou, reconquistando seu status de abelha rainha, mesmo que o mundo a sua volta tenha mudado.

São as diferenças entre os clichês de colégio do inicio dos anos 2000 e dos tempos atuais, e especialmente o que é ou não aceitável em 2022, que criam as melhores piadas de De Volta ao Baile. A escola não é mais um campo de panelinhas liderado por abelhas rainhas, ser nerd não é mais um crime e o bullying é limitado e censurado sempre que possível. Não que o ensino médio atual seja um mar de rosas, o excesso do politicamente correto, e a dependência das redes sociais criam novos dilemas para os estudantes. 

Curiosamente, o humor desbocado, sexualizado e bobo de Rebel Wilson, que geralmente incomoda esta blogueira que vos escreve, é perfeito para criar esse conflito de gerações. Stephanie é a combinação perfeita de clichês já descartados do high school, loirinha padrão, manipuladora, sexualizada, iludida e limitada à uma vida perfeita de revista. E por mais que as piadas da protagonista sejam exageradas, e por vezes se estendam mais do que necessário, são coerentes com a proposta especialmente em seu início. 

Infelizmente o humor não evolui junto com a personagem. Stephanie aprende que alguns tipos de humor não são mais aceitáveis em 2022, para de fazer piadas com os pontos mais críticos, como homossexualidade, mas não abandona completamente as piadas datadas e ruins. Especialmente em relação a sexualização, principalmente do próprio corpo. Felizmente a gordofobia deixou de ser material de piadas para a humorista, desde que esta mudou sua silhoueta.

Já quando critica os clichês de filmes do high school e as expectativas irreais que criam, a produção é inteligente e direta. Afinal, faz parte da jornada da protagonista, abandonar a vida de aparências e aprender o que realmente tem valor. Descobrir que a vida vai além da escola e que o baile não é tão importante assim. E por falar em baile, é digna de nota a versão "revisada" da tradicional cena entre pai da moça e pretendente antes de um encontro.


Direção, design de produção e figurinos, não trazem nada de revolucionário, ou digno de nota. Entregam o básico que a história pede, e pronto. Já a trilha sonora traz de volta alguns bons sucessos de duas décadas atrás. 

O elenco é diverso, e marca bem a distinção entre as gerações de adolescentes. A escalação também acerta na escolha e caracterização das versões jovens e mais velhas dos personagens. Entretanto, não há grandes entregas além dos estereótipos do gênero, sejam eles de 2000 ou 2022. Assim, temos abelha do rainha, o atleta cafajeste, o amigo nerd apaixonado, na geração mais antiga. E na mais nova, a influencer, o gay estiloso, a menina étnica inteligente, e por aí vai. Além de Wilson e Rice, também estão em cenas nomes como Mary Holland, Sam Richardson, Zoe Chao, Justin Hartley, Jeremy Ray Taylor, Avantika e Chris Parnell.

Para os mais jovens, uma simples comédia de gerações, com tradicionais críticas à vida idealizada. Para os adultos, uma premissa que traz algumas reflexões curiosas sobre a passagem de tempo, e o que construímos ao olhar para trás. 

De Volta ao Baile, tem um argumento curioso e muitas possibilidades. Explora algumas melhor que outras, e perde força quando dá espaço para as piadas cansativas e repetitivas de Rebel Wilson. Menos divertido que Megarrromântico, mas ainda uma distração bastante eficiente, e curiosa.

De Volta ao Baile (Senior Year)
2022 - EUA - 111
Comédia

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