Landscapers

Precisei pesquisar sobre o caso real de assassinato do casal Patricia e William Wycherley, após assistir Landscapers. A minissérie da HBO relata os fatos à partir do incomum ponto de vista dos assassinos Susan e Christopher, respectivamente filha e genro das vítimas.

Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) sobrevivem com dificuldades financeiras, quando uma falha faz com que a polícia encontre os corpos dos pais dela enterrados no quintal de sua antiga casa, em uma pacata vizinhança britânica. Logo o casal é tido como principais suspeitos do crime, e resolvem contar sua própria versão da história.

Uma versão fantasiosa, cheia de falhas e nada coerente, que é facilmente contestada pela polícia. Mas a série não está interessada nos fatos propriamente ditos, mas na forma peculiar como o casal lida com a investigação. Ela visivelmente uma pessoa que vive constantemente fora da realidade. Ele metódico e super protetor. Ambos com um aspecto inofensivo, e aparentemente muito cooperativos.

Fugindo das escolhas tradicionais das séries de true crime, a produção não tem medo de explorar diferentes linguagem para contar sua "história de amor", que por acaso também tem um crime. Indo assim, de momentos quase documentais, à reconstruções dos filmes que Susan ama, até a quebra repentina da quarta parede, transitando pelos bastidores de um cenário ao outro.

Tudo muito diferente, criativo e lúdico. O que deve surpreender e encantar aqueles que tiverem a mente aberta, ou buscam por algo diferente e inovador. Entretanto, pode afastar os espectadores atraídos pela proposta criminal. Não que as informações sobre o crime sejam insuficientes, elas apenas não são o foco. Existe a história que Susan e Christopher escolheram contar, existem os fatos que a polícia fornece. O roteiro navega nas possibilidades que existem entre estas duas versões, explorando sempre a forma que o casal lida com tudo.

Logo, não é surpresa que a produção se apoie completamente no trabalho de seus dois protagonistas. Thewlis e Colman, constroem com eficiência as muitas camadas de seus complexos personagens. A firmeza metódica dele, que nos faz oscilar entre a certeza de sua devoção pela esposa, e o peso e arrependimento de ter que protegê-la do mundo real. Enquanto ela, transmite fragilidade e o mundo fantasioso que Susan vive, nos fazendo duvidar do que é ensaiado, espontâneo, e principalmente se ela seria capaz de cometer tais crimes.

Caprichada a direção de arte e figurinos, se diverte criando os cenários lúdicos e as reconstruções idealizadas das fantasias de Suzan. Do faroeste e preto e branco, passando por exagerados cenários teatrais de cores chapadas, que contrastam com a realidade fria do departamento criminal, e as casas encardidas que o casal habitou.

Com apenas quatro episódios, Landscapers até consegue esclarecer para o público o assassinato de Patricia e William Wycherley. Mas seu objetivo real é mais complexo, compreender a mente dos assassinos, que até hoje alegam inocência. E para tal a produção não se prende a regras ou estilos, utilizando de todos os formatos que lhe couberem para contar melhor sua história. O resultado é uma mistura inusitada de série criminal, estudo de personagem, e romance lúdico, que pode não agradar alguns, mas certamente, surpreende a todos.