Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

Olhando em retrocesso, percebo que fui bastante benevolente com as fragilidades de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald na época de seu lançamento, por acreditar se tratar de um típico caso de "síndrome do filme do meio". Agora que Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore finalmente chegou aos cinemas, fica evidente que as fragilidades são mais complexas do que aparentava. 

Meses após os eventos do filme anterior, Alvo Dumbledore (Jude Law), impedido de agir diretamente contra Grindewald (Mads Mikkelsen), recruta um grupo liderado por Newt Scamander (Eddie Redmayne) para impedir que o vilão execute seus planos. Newt, Theseus (Callum Turner), Yusuf (William Nadylam), Jacob (Dan Fogler), Bunty (Victoria Yeates) e a professora Lally (Jessica Williams), farão isso seguindo um plano ainda mais mirabolante e confuso, que envolve política e animais fantásticos, obviamente. Além de contar com a ajuda de personagens conhecidos como Minerva McGonagal (Fiona Glascott) e Aberforth Dumbledore (Richard Coyle). 

Achou que tem muitos personagens na sinopse acima? Pois lembre-se, ainda ficaram de fora dela Queenie (Alison Sudol), Tina (Tina Goldstein), Creedence (Ezra Miller) e Nagini. Personagens que a autora/roteirista introduziu e dispôs no tabuleiro, mas parece ter desistido de trabalhar ao longo do percurso. Ok, sabemos que a verdadeira história sendo contada na franquia Animais Fantásticos, é a relação, e grande batalha entre Dumbledore e Grindewald durante a primeira guerra bruxa. Mas, uma vez que estes personagens foram apresentados e tratados com certa importância pelo roteiro, não poderiam ser descartados ou diminuídos sem grandes explicações. 

Este é o primeiro grande problema deste roteiro, ou melhor da franquia como um todo. Na ânsia de preencher os cinco filmes anunciados (no projeto original eram três), o segundo filme expande o universo e apresenta diversas sub-tramas que confundiram o público, e por isso agora parecem ter sido descartadas. Nagini sequer é mencionada. Tina é deixada de fora com uma desculpa pouco convincente (sua irmã virou seguidora de um fascista e você apenas deixa pra lá e vai trabalhar?). Enquanto a mudança de Queenie para o "outro time" não apresenta consequências maiores que mantê-la separada de Jacob. E mesmo ista, é resolvida de forma tão simplista quanto foi desenvolvida.

Nada mais frustrante no entanto, que a jornada de Creedence. Foco dos longas anteriores, aqui ele é rebaixado à um capanga confuso e manipulável, cuja existência parece limitada apenas a justificar o título. Abandonando qualquer jornada própria que ele tenha desenvolvido até ali. 


Todo este descarte apressado, poderia ser relevado, se a história de fato evoluísse e intensificasse o grande embate prometido. Ao invés disso, o roteiro inclui mais personagens, amplia a mitologia e o cunho político, apenas para manter o status-quo do filme anterior. À certa altura, Grindewald parece ter finalmente conquistado a posição de ameaça global que todos temem. Mas o roteiro volta atrás e o coloca exatamente na mesma posição do início, com alguns capangas a menos. Até mesmo as grandes sequencias de batalhas não tem peso de real. Uma vez que parecem acontecer em outro plano, semelhante a dimensão espelhada do Doutor Estranho

Diferente do filme anterior, Os Segredos de Dumbledore tem um ritmo mais equilibrado e atos melhor definidos. Embora o primeiro deles exista única e exclusivamente para apresentar o cenário político. Ao ponto que no início do segundo ato, um dos personagens aponta: tudo que fizemos não serviu de nada, voltamos ao início. 

Outros pontos positivos os são bons momentos isolados, como uma sequencia de fuga de prisão, a visita à Hogwarts, e todas as cenas estreladas por Jacob Kowalski. Dan Fogler continua roubando a cena na pele do padeiro trouxa, que é o "avatar" do fã nas cenas. Como um verdadeiro potterhead, até varinha de mentira ele tem, tal qual nossas réplicas de plástico. 

Outro que entrega atuação excelente é Jude Law. Ciente do peso, bagagem e importância do futuro diretor de Hogwarts na história, ele consegue conciliar preocupação e carisma com facilidade. Sua contra parte no entanto, pode dividir opiniões. Substituindo Johnny Depp, após seu afastamento por polêmicas pessoais, Mads Mikkelsen, escolhe um caminho menos afetado para construir seu Grindewald. Ainda cruel, mas com menos maneirismos e mais direto ao ponto. O que pode soar como lugar comum na carreira deste ator com tantos vilões no currículo. 

E já que estamos falando de atuações, como não mencionar a celebrada participação de Maria Fernanda Cândido? A primeira atriz brasileira na franquia tem um papel pequeno nesta trama, mas importante no universo bruxo, que pode, sim, render mais espaço para a personagem no futuro. Porém, eu não me surpreenderia se Vivência Santos fosse descartada para focar em outros personagens - como a franquia já fez nestes três filmes. 

Os potteheads (os super fãs do Wizarding World) também podem ficar divididos. Alguns vão se deliciar com as muitas referências à Harry Potter. Outros podem se incomodar tanto com o excesso, quanto com a forma como as regras deste mundo são burladas para atender ao roteiro. Particularmente, me encaixo no segundo grupo. Algumas referências soam como meras repetições de soluções vistas nos filmes do bruxinho. Outras, como frases de efeito reutilizadas, podem até enfraquecer o peso original. 

Enquanto isso, as mudanças nas "regras mágicas" (sim, por mais fantasioso que seja um mundo ficcional, este tem, e precisa de regras para manter a coerência narrativa) criavam facilitações para o roteiro que me tiravam constantemente da aventura. Questões como: porque fabricar manualmente se podem replicar por magia? Porquê entregar uma mensagem pessoalmente se existe dezenas de meios mágicos de comunicação? Se podiam aparatar ali o tempo todo, porquê se arriscaram andando nas ruas cheias de inimigos?, não paravam de pipocar em minha mente ao longo da projeção. Fãs mais ávidos, talvez encontrem explicações para cada uma destas perguntas, mas as respostas, se existem, deveriam ser fornecidas enquanto assistimos ao filme. E não precisar de pesquisa posterior. 

Ainda sim, o mundo mágico é encantador e visualmente deslumbrante. O esmero na criação de criaturas, cenários e figurinos é de encher os olhos. E os breves momentos de retorno à Hogwarts vão aquecer o coração dos nostálgicos. Completando os acertos, o elenco é eficiente e carismático, mesmo quando tem pouco com o que trabalhar.


Observando do ponto de vista da evolução da história, Os Crimes de Grindewald Os Segredos de Dumbledore, poderiam facilmente ser um só filmeÉ expansão de universo o que ambas as obras trazem, seja ela útil para a história principal ou não. Deixando bem evidente, que a história fora esticada para ocupar cinco filmes ao invés de três. Também soam como capítulos de um livro, talvez reflexo do trabalho de J.K. Rowling como roteirista. Afinal, é com o espaço de centenas de páginas que ela está mais acostumada. 

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore não revela grandes segredos sobre Dumbledore. Ao menos, não o Dumbledore que você imagina! Também não evolui a grande história que pretende contar, o relacionamento, e o embate entre Alvo e Gerardo. Além de abandonar personagens e sub-tramas. Traz bons momentos isolados, alegorias políticas com o mundo real e muitas referências para os fãs. E assim como os capítulos anteriores, a promessa de um propósito maior em suas sequencias.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore)
2022 - Reino Unido - 142min
Aventura, Fantasia

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