Ainda Estou Aqui

Uma jovem acaba de perder o noivo de forma trágica e repentina. Contudo, o espírito do rapaz continua com a moça, que recebe a ajuda de uma afro-americana, para interpretar os sinais, e compreender a mensagem que o amado tenta comunicar de outro plano. Não! Esta não é a sinopse de Ghost - Do Outro Lado da Vida. Apesar da semelhança, e da irresistível comparação Ainda Estou Aqui é um filme muito diferente do clássico de 1990. 

Baseado no livro The In Between de Marc Klein, o longa conta a história de Tessa (Joey King). Uma jovem que não acredita em amor após viver anos em lares adotivos. Sua percepção começa a mudar ao conhecer Skylar (Kyle Allen), com quem tem seu primeiro amor verdadeiro. Quando um acidente tira a vida do rapaz, ela começa a notar sinais que a fazem acreditar que o falecido namorado quer se comunicar com ela.

Amor e luto, são os dois temas que o roteiro de Ainda Estou Aqui intercala ao longo do filme, apresentando duas linhas temporais distintas, pré e pós acidente. Nos momentos antes do acidente, acompanhamos o adorável romance, que faz a protagonista derrubar os muros que a distanciava de tudo e todos. No pós acidente, observamos Tessa se distanciar novamente, em um sofrido processo de luto. 

Enquanto o fator sobrenatural pode ser compreendido tanto ao pé da letra pelo espectador. Ou ainda como uma metáfora para os estágios do luto, e o difícil caminho até a aceitação. À certa altura, Tessa afirma duvidar de que todo o romance realmente acontecera, negação. Em outro momento se recusa a comer e sair da cama, depressão. Trata as pessoas mais próximas de forma agressiva, raiva. E finalmente busca reencontrar seu amado através de sinais do "entre vida", a barganha. É esta que finalmente entrega as respostas, sejam elas sobrenaturais ou não, que finalmente oferecem à mocinha a possibilidade de aceitação. 

Partindo do ponto do acidente, e alternando entre o antes e depois desde momento decisivo nas vidas dos personagens. O roteiro equilibra bem a alternância entre as linhas temporais. No passado, há a curiosidade sobre quem são Tessa e Skylar, como se relacionavam, e o que os levou ao acidente. Enquanto no presente, há o mistério sobre os eventos sobrenaturais, e a torcida para que a protagonista supere as dificuldades. Ambas as jornadas, conseguem instigar e atrair a atenção do espectador na mesma proporção. Nunca nos fazendo lamentar a mudança de um momento ao outro.O ritmo no entanto, pode afastar alguns. Mais lento e contemplativo, o roteiro não corre nem acelera os momentos, dando ao público tempo para questionar e refletir. 

As atuações acompanham este ritmo mais contido, sem composições exageradas ou expansivas. O elenco conta também com John Ortiz, Kim Dickens, Celeste O'Connor e Donna Biscoe, mas o destaque é de Joey King. A jovem distingue bem os diferentes momentos da personagem - antes de acreditar no amor, a aceitação de que ele existe, e a agonia da perda repentina -  carregando bem o filme. 

A produção não poupa referências à relação sobre natural, e aos momentos chave na vida dos personagens, seja em músicas ou elementos de cena. Um exemplo nada sutil, é o letreiro do cinema em que um dos personagens trabalha, que mostra os títulos Night of the Accident e Titanic, momentos antes de finalmente descobrirmos o que aconteceu na "noite do acidente", onde o mocinho morre. E claro, aparece um pôster de Ghost - Do Outro Lado da Vida, em algum momento. 


E já que voltamos a falar do longa estrelado por Patrick Swayze, é bom reforçar. Não se deixe influenciar pela premissa aparentemente parecida. Ainda Estou Aqui não poderia ser um filme mais diferente. Focado em quem ficou, não em que partiu. Tem como grande propósito, abordar o amor e a perda. Em alguns momentos de forma piegas (alguns diriam brega, até), mas altamente acessível e honesta. 

Ainda Estou Aqui é uma produção original Paramount+, mas no Brasil chegou através da Netflix

Ainda Estou Aqui (The In Between)
2022 - EUA - 115min
Drama, Romance

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