Kimi: Alguém Está Escutando

Filmes com inspiração no clássico Janela Indiscreta parecem não se esgotar nunca. Talvez porque cada nova geração traz características distintas ao cotidiano de quem observa algo à distância. Em Kimi: Alguém Está Escutando, estas particularidades são o uso intensivo da tecnologia, e os efeitos do isolamento social gerado pela pandemia de Covid-19. Características que perdem força, em um desfecho previsível ainda que dinâmico.

Angela Childs (Zoë Kravitz) trabalha ouvindo áudios e contornando erros da inteligência artificial chamada Kimi. Presa em casa desde o início da pandemia, seu cotidiano é abalado quando recebem áudios do que parece ser um crime. A moça então precisa sair de sua zona de conforto, física e mental, para tentar fazer o que acredita ser o certo.

Steven Soderbergh que curiosamente retratou a pandemia com assustadora fidelidade em Contágio, anos antes de ela acontecer. Agora retrata com igual honestidade as consequências psicológicas do lockdown. É nos trechos focados no isolamento da protagonista que a produção traz seus melhores momentos. Zoë Kravitz entregando uma personagem, ansiosa, paranoica, completamente ciente de suas limitações ainda que nada disposta a muda-las.

É na segunda metade do filme que o roteiro parece se perder, mudando de tom tão abruptamente, quanto a decisão de Angela de finalmente sair de casa. A partir daí, a introspecção e os dilemas pessoais são deixados de lado, em prol do confronto mais físico. Seja o enfrentamento do mundo lá fora, seja a luta com toques de Esqueceram de Mim mais violento contra os vilões.

 E por falar nos antagonistas, estes são revelados através de uma reviravolta bastante previsível, ainda que apresentado de forma eficiente. Já o desfecho dado à eles é raso, não indo muito além do embate com os capangas. Existe uma grande organização tentando acobertar o crime que Angela testemunhou, mas o roteiro não parece interessado em encerrar devidamente esta trama. 

Outro tema que a produção não tem medo de desapegar, é nossa dependência tecnológica. Os prós e contras de estar conectado todo o tempo, e a invasão de privacidade que dispositivos como a Alexa, podem representar. Os temas estão lá, o filme escolhe apontá-los, e pouco discuti-los. 

 De volta ao que o filme discute, Soderbergh usa a câmera de forma inteligente, para transformar o apartamento de Angela em um ambiente ao mesmo tempo confinante e confortável, nunca claustrofóbico. Já quando a moça sai, a câmera se inclina, corre, oscila, em harmonia com a postura corporal da acuada protagonista.

Além da boa atuação de Zoë Kravitz, o restante do elenco entrega o que o roteiro pede, sem grande destaques. Também estão em cena, Jaime Camil, Rita Wilson, Erika Christensen, Devin Ratray e Byron Bowers.

Lançado exclusivamente na HBO Max, com apenas uma hora e meia de duração, Kimi: Alguém Está Escutando parece dois filmes em um. Inicialmente um suspense introspectivo com fortes inspirações em Hitchcock, e outro mais frenético e ansioso com inclinação para a ação. Surpreende pela honestidade com que fala do psicológico pós pandemia, mas não o suficiente para torná-lo marcante. Entretém ao longo de seus noventa minutos, e apenas isso. 

Kimi: Alguém Está Escutando (Kimi)
2022 - EUA - 89min
Suspense, Drama

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