Infinito

Infinito é o número de possibilidades que a produção da Paramount estrelada Mark Wahlberg traz em seu argumento. Muito mais limitada, no entanto, é sua execução que valoriza exclusivamente a ação, deixando de lado a riqueza de seu argumento. 

Um pequeno percentual da humanidade possui o do (ou maldição) de acessar todas as memórias e habilidades adquiridas em suas vidas passadas. Dentro deste pequeno grupo, duas facções se enfrentam. Os Crentes, que acreditam que há um propósito maior neste dom. E os Niilistas, que estão fartos desta maldição e acreditam que não há propósito nenhum, a existência é puro caos.

O líder deste segundo grupo  Bathurst (Chiwetel Ejiofor, caricato), anseia o fim de suas reencarnações, e para isso criou um artefato que destruirá todo o mundo, assim ele não teria como retornar à vida. Item desaparecido desde 1985, quando fora roubado por seu ex-amigo e atual rival Treadway (Dylan O'Brien, em ponta de luxo). É 2020 e Evan Michael (Mark Wahlberg), é a nova encarnação de Treadway vítima de um acidente e diagnosticado com esquizofrenia ainda na adolescência, ele não é capaz de acessar memórias de vidas passadas. Mesmo assim, se torna alvo o interesse das duas facções, sua memória é a chave para salvar ou destruir o mundo. 

Reparou como a sinopse acima foi mais longa que o normal? Isso porque o argumento baseado no livro The Reincarnationist Papers de D. Eric Maikranz, tem mitologia própria, rica em história, detalhes e cheia de discussões filosóficas sobre eternidade, propósito e poder. E tem também a trama de ação, que é o grande foco da produção, em detrimento à toda profundidade que seus conceitos permitiria.

Não que o foco na ação seja ruim, mas sim o mau uso dela. Escolhendo os caminhos mais óbvios e rasos para trazer ação para a trama, criando furos de roteiro gritantes. Um bom exemplo é a arma do vilão que aprisiona as almas dos rivais em um chip, interrompendo as reencarnações. Se seu objetivo principal, é deixar de reencarnar porque ele não usa esta tecnologia em si mesmo? Seu mirabolante plano acabar com o mundo soa exagerado e desnecessário, a não ser para criar correria em torno de um artefato mágico mal explicado. Ou ainda, uma instituição que guarda o corpo de seus membros para pesquisar e entender sua natureza, mas aparentemente nunca sequer fez um simples raio-x em um deles. 

Vamos voltar à ação, afinal é isto que a produção se propõe a entregar. E entrega, ação mirabolante e desenfreada, que lembra Velozes e Furiosos nas perseguições, e traz absurdos dignos de Tom Cruise nas sequencias de luta e perseguição. Relativamente bem executada, deve agradar quem gosta desta ação exagerada que desafia as leis da física.

Em se falando de comparações, impossível não pensar em The Old Guard. Que assim como Infinito, fala de seres milenares, versados em muitas habilidades adquiridas com o tempo. A diferença aqui é que o longa da Netflix, explora mais o passado destas entidades, bem como a individualidade no núcleo que acompanhamos, além de deixar ganchos para revelar ainda mais em sequencias. Já a produção da  Paramount +, pouco aproveita do passado de seu protagonista, e praticamente não dá atenção aos demais personagens. 

E por falar no arco do protagonista, este se resume a recuperar suas memórias e lutar com seu grande rival. Seus traumas causados pelo diagnóstico de esquizofrenia, logo são deixados de lado pela a aceitação dos conceitos de reencarnação. Não há grandes dilemas aqui, bem como não há grande mudanças no personagem quando este finalmente alcança suas memórias passadas. As memórias de Treadway, não parecem trazer alguma sabedoria, ou mudança na personalidade do protagonista, que continua o mesmo Evan Michael, que agora sabe onde está o artefato, e ganhou uma ou outra habilidade de luta. Uma delas, anunciada inclusive como um poder sobrehumano, mas que nunca é aproveitado ou explicado em sua totalidade.

Infinito tem argumento rico e inúmeras possibilidades, mas para por aí. O foco da produção adiada pela pandemia, e agora chegou apenas no Paramount+, é ação desenfreada. E isso ela de fato entrega. Bom para quem gosta do estilo, uma pena para quem se interessou pelo potencial e adoraria saber mais sobre este universo de infinitos. 

Infinito (Infinite)
2021 - EUA - 106min
Ação

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