Paterninade

Pai precisa encarar sozinho o desafio de criar a filha após a morte da esposa. Sim, você já viu esse filme na Sessão da Tarde algumas vezes, em diferentes versões. Paternidade da Netflix, segue a mesma linha, com o diferencial de ter uma família negra como protagonista, o comediante Kevin Hart como estrela, e tentar explorar um pouco mais o drama. 

Matt (Kevin Hart) perde a esposa no dia seguinte ao nascimento de sua primeira filha. Apesar de ser despreparado e imaturo para o trabalho, ele decide criar sozinho a pequena Maddie (Melody Hurd), mesmo sob a desconfiança e protestos de todos à sua volta.

O caminho é aquele bem conhecido de filmes com essa premissa. O pai se desdobra, se sai bem por um tempo até que comete um erro que o faz questionar tudo antes de perceber que é adequado sim à tarefa. Uma premissa e desenrolar já explorados à exaustão, mas que quando bem feitos ainda funcionam.

A produção se apresenta como uma "dramédia" tentando focar mais no luto e nos dramas pessoais de Matt, ao mesmo tempo que tenta ser um "feel good movie" (um filme pra te deixar feliz), mas luta para manter o equilíbrio entre as duas. Um belo exemplo são as piadas longas demais na sequencia inicial que alterna o funeral da esposa, e o nascimento de Maddie. Os comentários do amigo Jordan (Lil Rel Howery), tiram o peso da sequencia do funeral, além de se estender demais.


Esta oscilação desequilibrada entre drama e comédia, o sério e o fofo, se mantém ao longo de toda a projeção, conforme as dificuldades na vida de um pais solteiro se apresentam. Muitos destes desafios são episódicos, e tem pouco peso no quadro geral. Em uma cena, a presença de Maddie estraga uma apresentação do trabalho, no momento seguinte sua fofura consegue uma promoção para o pai. Os problemas são solucionados sem esforço, e geram poucas consequências na vida dos personagens. E a passagem entre alguns deles podem até soar bruscas, como o crescimento repentino da menina. 

Difícil  evitar a sensação de que a produção está riscando uma lista de "ideias obrigatórias": pai ensinando jogos adultos para a criança, cena constrangedora no trabalho, a babá esquisita, a avó mais adequada para criar a criança, a dificuldade de pentear o cabelo da menina, sem se importar em conectá-los à uma narrativa fluida. A última inclusive, pode enganar alguns ao emular vídeos sobre aceitação e identidade afro, mas simplesmente não faz sentido. A menina já tem seis anos, seu pai solteiro, que não tem quem ajude nunca tinha tentado pentear o cabelo dela antes?


Desta lista de obrigatoriedades, apenas uma tem maior relevância na trama, e traz uma discussão relativamente nova. A escolha de vestimenta de Maddie, que recusa a se vestir com os padrões determinados para meninas pela sociedade. Incluindo a previsível cena, da garota ignorando a "sessão rosa" em uma loja. Pode não ser original, mas funciona.

Hart visivelmente se esforça para entregar uma versão dramática convincente, e é competente apenas. Assim como o restante do elenco, que inclui a sempre eficiente Alfre Woodard. É Melody Hurd quem rouba cena oferecendo bastante carisma e personalidade para a pequena Maddie. Uma pena que o filme foque mais nos dilemas do personagem de Hart, do que na relação entre pai e filha.  

Já na parte técnica, a produção trabalha no tradicional, sem grandes invencionices ou riscos. Fotografia, montagem e trilha sonora entregam o básico e funcional. 


Paterninade tem uma premissa bastante conhecida e segue o caminho igualmente previsível. Aposta no carisma de seu protagonista, o que deve agradar os fãs do comediante. Ainda que traga um roteiro episódico, e que não fui bem. Pode render uma boa sessão da tarde, embora facilmente esquecível.

Paternidade (Fatherhood)
2021 - EUA - 109min
Drama, Comédia

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