Em plena Inglaterra vitoriana, pessoas (na maioria mulheres) começam a desenvolve habilidades especiais. É claro, isso muda a dinâmica da sociedade, cria preconceitos e perseguição quanto à essas pessoas. Amalia True (Laura Donnelly) é a grande protetora das "tocadas", e com a ajuda da inventora Penance Adair (Ann Skelly) enfrenta uma missão que pode não ser exatamente o que parece.
Pessoas com poderes especiais diversos, uma sociedade hostil e preconceituosa, um mistério no subsolo, uma serial killer aparentemente pior que Jack, o estripador, grupos de poderosos querendo tanto usar quanto exterminar as tocadas, uma líder misteriosa e cheia de dúvidas. Tem muita coisa acontecendo em apenas seis episódios da série criada por Joss Whedon. Se por um lado a "agenda cheia" dá um bom ritmo à narrativa, por outro torna muito mais fácil não dar devida atenção à todos os núcleos. Especialmente quando o desejo de fazer mistério e surpreender é maio que o de levar o público consigo.
O mesmo vale para o preconceito com relação às "tocadas", e os planos de "homens poderosos mal apresentados" para detê-las. Porquê a caçada é apenas às mulheres, se homens também apresentam essas habilidades? Ou ainda para o misterioso grupo de humanos modificados que sequestra as moças. Quem são? Porque fazem isso?
Felizmente, a produção acerta em todos os outros aspectos, o que somados com a curiosidade, mantém o público atento ao longo de seus seis episódios. Talvez o mais importante deles, seja o carisma de suas protagonistas. Sra. True e Pen estão à frente de seu tempo, tem uma química excelente e intérpretes excelentes.
Donnelly carrega a série nas costas e conquista o espectador, mesmo com sua personagem misteriosa, durona, inacessível e cheia de dúvidas. É difícil não torcer para Amalia True, mesmo sem entende-la completamente. Enquanto Penance Adair é o oposto que a complementa, doce, divertida e criativa.
Já a direção de arte cria uma era vitoriana tradicional, onde elementos steampunk começam a aparecer. Outro elemento de estranheza que chega junto com as "tocadas". Os efeitos especiais atendem acertadamente às necessidades das habilidades incomuns. E as cenas de luta são bem coreografadas e filmadas. Além de o fato de ser prazeroso ver, as outrora reprimidas, mulheres de espartilho arrebentando homens com o dobro de seu tamanho.
O resultado é uma obra que gera sentimentos conflitantes. Adoramos os personagens e as boas ideias, mas lamentamos não conseguir compreender todos o contexto que os cercam. A construção do universo é rica e criativa, enquanto os diálogos, soam incompletos na tentativa de parecer mais inteligentes do que realmente são. Gostamos do ritmo ágil criado pelos poucos episódios, ao mesmo tempo adoraríamos mais alguns capítulos para explorar melhor este universo. Especialmente após as reviravoltas do season finale, que acerta ao focar na Sra. True, mas para isso acaba deixando os demais personagens de lado.
The Nevers é excelente ao criar um mundo novo, mas falha ao não convidar o espectador a participar mais de seus mistérios. Há muito potencial envolvido ali, esta meia dúzia de episódios, são apenas uma introdução para algo muito maior. Resta torcer por uma nova temporada, finalmente nos leve para dentro desta história e entregue a riqueza de temas que ela promete.
The Nevers é exibida pela HBO, e está disponível na HBO GO.
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