Raya e o Último Dragão

 É uma pena que Raya e o Último Dragão tenha chegado para a maioria nós apenas via Disney+. A nova fantasia da casa do Mickey é um deleite visual merecedor da tela grande, e uma obra incomum dentro de seu catálogo. 

O reino mágico de Kumandra se separou em cinco, e vive e conflito, desde que os Dragões deixaram de existir. Um desses embates liberta uma força obscura que transforma as pessoas em pedra. Sozinha no mundo, Raya (Kelly Marie Tran) está convencida que ainda existe um último dragão, sai em uma jornada que pode salvar seu mundo.

E esta jornada é longa, seis anos após o eficiente prólogo, que constrói todo um universo novo e complexo em poucos minutos. Riqueza de detalhes e originalidade, são algumas das características mais marcantes de Raya e o Último Dragão. Kumandra, tem uma geografia única e cheia de significados para cada um dos povos que ali vive. Povos estes por sua vez, que tem identidade e cultura distintas, bem apresentadas e representadas. À certa altura, a aventura traz personagens de todas as terras para a jornada, tornando o desfecho uma conquista ainda mais importante.

Entretanto é Raya a grande heroína, uma guerreira forte e confiante, porém solitária em um mundo pós-apocalíptico. Além de salvar o mundo, reaprender a confiar em outras pessoas é sua grande jornada. Aprendizado que ela adquire principalmente por causa de Sisu (Awkwafina, cuja atuação é reconhecível mesmo na versão dublada!), o tal último dragão do título, otimista, amigável e cheia de fé no próximo, mas que não vê grande valor em si mesma.


Enquanto ajudam uma a outra a crescer, Raya e Sisu percorrem toda a Kumandra buscando fragmentos perdidos de uma joia mágica, em uma aventura conversa com a linguagem dos videogames, em visual, narrativa e até nas lutas. 

E por falar em cenas de luta, é provável que você nunca tenha visto uma animação com sequências de combate tão bem executadas. Coreografias complexas, que exploram as habilidades de cada personagem e até o ambiente a sua volta, com posicionamento de câmera e fotografias bem pensadas. 


Ainda no quesito técnico, Raya é exemplar. Cores vibrantes, texturas realistas e designs criativos criam uma Kumandra de cultura rica, povos distintos e paisagens variadas que vão de desérticos canions à cidades cercadas por água. Além é claro, dos mágicos fluidos e coloridos dragões orientais. Infelizmente a maioria de nós não poderá assisti-lo em sua melhor forma, nas grandes telas do cinema, pois o visual é de encher os olhos. Ainda sim, o Raya e o Ultimo Dragão é deslumbrante, mesmo relegado as nossas TVs, computadores e tablets. 

A parte curiosa é que em sua estrutura, esta produção tem muito mais semelhanças com obras da Dreamworks, do que com a fórmula da Disney. Em outras palavras Raya, que é uma filha de chefe, pode estar inaugurando uma nova era para a franquia de Princesas Disney. 


E isso inclui um universo mais vasto. A magnitude da ameaça, é muito maior que as enfrentadas por Moana ou Mulan, logo Raya age na vida de muito mais pessoas. Interesses amorosos nem são uma questão neste universo apocalíptico. Enquanto os vilões, são menos simplistas. Ao invés do mal encarnado, ou o completo oposto da heroína, os antagonistas são apenas pessoas que também tentam fazer o que acreditam ser melhor para o seu. 

Chegamos aqui em outra mensagem. Enquanto Virana (Sandra Oh), Namaari (Gemma Chan) e outros líderes querem salvar seus povos, Raya quer salvar o mundo. É o sacrifício pessoal para o bem coletivo, coletivo mesmo, sem nacionalidades e fronteiras. Uma discussão muito bem vinda no momento de pandemia em que a produção fora lançada. 


Raya e o Último Dragão é diferente de tudo que a Disney, já apresentou (e incluo aqui as produções da Pixar também). É um fôlego novo para uma empresa tradicional, que aos poucos se desprende de sua já acertada fórmula, para alçar voos mais arriscados, sem deixar de lado a experiência de décadas contando histórias. Raya traz esses novos rumos, no voo suave e sinuoso de um lúdico e deslumbrante dragão. 

Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon)
2021 - EUA - 107min
Animação, Aventura

*Raya e o Último Dragão estreou nos cinemas e no Premiere Acesse do Disney+ em Março, com preço extra na plataforma. Desde 23 de Abril o filme está disponível gratuitamente para todos os usuários do serviço de straming.

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