Verônica Torres (Tainá Müller) é uma escrivã da Delegacia de Homicídios que após presenciar um suicídio, decide ir a campo para investigar dois casos de abusos contra mulheres. Com muita habilidade, determinação, mas pouca experiência e apoio dentro de uma delegacia corrupta.
O primeiro caso, de um golpista que abusa e rouba mulheres é a porta de entrada para uma investigação maior e mais complexa. É pela repercussão do primeiro, que Janete (Camila Morgado), esposa submissa de um policial de alta patente que faz muito mais que maltratar a mulher. A dificuldade não é apenas proteger a vítima e investigar o marido, mas ultrapassar a proteção que a alta patente concede ao Tenente Coronel Brandão (Eduardo Moscovis).
Da descoberta ao confronto, o roteiro equilibrado segue em um crescente constante que coloca investigadora e vítima em um perigo gradual e enervante. A cada novo passo a tensão aumenta e os inimigos também. Ao mesmo tempo que apresenta as pequenas e grandes violências sofridas por mulheres ao longo da vida. Do bullying por não atender os padrões de beleza na infância, passando pela desvalorização, assédio, até a total submissão.
E por falar em submissão, é a atuação de Morgado como a submissa esposa de Brandão o ponto alto da produção. A atriz consegue passar com excelência, o medo, desespero, a falta de esperança e principalmente a confusão causada pela manipulação de Brandão. Este por sua vez, encontra em seu intérprete a postura dominante, e a psicopatia que precisava, em um excelente trabalho de Moscovis, em completa sintonia com Camila Morgado.
Cabe à Tainá Müller construir uma personagem empática, com a qual nos identifiquemos facilmente e que consiga nos levar junto em sua jornada. Sua Verônica é carismática, forte, determinada, heroica, mas também bastante humana, que erra, tem raiva e receios como qualquer pessoa. Ao mesmo tempo que passa a confiança que sua profissão deveria causar, mesmo quando não pode fazer muito.
Atual e realista, não é nada surpreendente que os dois casos abordados em Bom Dia, Verônica retratem diferentes tipo de agressão contra mulheres. É um retrato fiel e cruel da realidade brasileira, uma crítica ao sistema, à sociedade, e um alerta para quem assiste.
Mas também é um excelente suspense policial, com muita tensão e algumas reviravoltas. A boa mistura de ficção e realidade é herança do romance homônimo de Ilana Casoy e de Raphael Montes, em que é baseado. Com elenco e produção impecável, a série não deixa à dever para nenhuma produção gringa, e ainda tem o apelo extra de mostrar a nossa realidade, por mais difícil que seja encará-la.
Bom Dia, Verônica tem oito episódios com cerca de uma hora cada, todos disponíveis na Netflix, que já confirmou a segunda temporada da série.
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