Bom Dia, Verônica - 1ª temporada


Um feminicida em série, um ladrão abusador de mulheres, e uma investigadora subestimada que não apenas vai lutar contra esses mal feitores, mas também vai enfrentar um sistema policial corrupto. Não, não se trata de mais um procedural estadunidense, estilo CSI. Muito menos de um lançamento de um astro de ação de Hollywood. Bom Dia, Verônica é uma produção nacional da Netflix, que vem mostrar que o audiovisual brasileiro, sabe muito bem abordar diferentes gêneros. 

Verônica Torres (Tainá Müller) é uma  escrivã da Delegacia de Homicídios que após presenciar um suicídio, decide ir a campo para investigar dois casos de abusos contra mulheres. Com muita habilidade, determinação, mas pouca experiência e apoio dentro de uma delegacia corrupta.

O primeiro caso, de um golpista que abusa e rouba mulheres é a porta de entrada para uma investigação maior e mais complexa. É pela repercussão do primeiro, que Janete (Camila Morgado), esposa submissa de um policial de alta patente que faz muito mais que maltratar a mulher. A dificuldade não é apenas proteger a vítima e investigar o marido, mas ultrapassar a proteção que a alta patente concede ao Tenente Coronel Brandão (Eduardo Moscovis). 

Da descoberta ao confronto, o roteiro equilibrado segue em um crescente constante que coloca investigadora e vítima em um perigo gradual e enervante. A cada novo passo a tensão aumenta e os inimigos também. Ao mesmo tempo que apresenta as pequenas e grandes violências sofridas por mulheres ao longo da vida. Do bullying por não atender os padrões de beleza na infância, passando pela desvalorização, assédio, até a total submissão.

E por falar em submissão, é a atuação de Morgado como a submissa esposa de Brandão o ponto alto da produção. A atriz consegue passar com excelência, o medo, desespero, a falta de esperança e principalmente a confusão causada pela manipulação de Brandão. Este por sua vez, encontra em seu intérprete a postura dominante, e a psicopatia que precisava, em um excelente trabalho de Moscovis, em completa sintonia com Camila Morgado.

Cabe à Tainá Müller construir uma personagem empática, com a qual nos identifiquemos facilmente e que consiga nos levar junto em sua jornada. Sua Verônica  é  carismática, forte, determinada, heroica, mas também bastante humana, que erra, tem raiva e receios como qualquer pessoa. Ao mesmo tempo que passa a confiança que sua profissão deveria causar, mesmo quando não pode fazer muito. 


Direção de arte e figurino, trabalham para criar uma São Paulo atual e realista. O mundo de Verônica, é extremamente reconhecível para a realidade, são nossas ruas e casas, nossa cidade. A sensação é de que sua história poderia estar se passando em nosso bairro. O que é complementado com a excelente trilha sonora, que traz canções fortes com mensagens diretas. Algumas inclusive ganhando novos significados, como a tensão causada pelo clássico sertanejo É O Amor quando este é usado para retratar o romance entre Brandão e Janete.

Atual e realista, não é nada surpreendente que os dois casos abordados em Bom Dia, Verônica retratem diferentes tipo de agressão contra mulheres. É um retrato fiel e cruel da realidade brasileira, uma crítica ao sistema, à sociedade, e um alerta para quem assiste. 

Mas também é um excelente suspense policial, com muita tensão e algumas reviravoltas. A boa mistura de ficção e realidade é herança do romance homônimo de  Ilana Casoy e de Raphael Montes, em que é baseado. Com elenco e produção impecável, a série não deixa à dever para nenhuma produção gringa, e ainda tem o apelo extra de mostrar a nossa realidade, por mais difícil que seja encará-la.

Bom Dia, Verônica tem oito episódios com cerca de uma hora cada, todos disponíveis na Netflix, que já confirmou a segunda temporada da série.  

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