Rebecca - A Mulher Inesquecível


Levar uma obra já existente, como um livro para outra mídia é um risco, que é ainda maior se esta não for sua primeira adaptação. Tudo complica se a primeira versão for um clássico de um dos grandes nomes do cinema. A comparação é inevitável, mesmo quando não se trata de um remake, mas de outra versão do mesmo livro. Logo, é sim admirável a coragem de trazer Rebecca - A Mulher Inesquecível para o século XXI. Dito isso, o longa da Netflix, não é excepcional, mas também não chega a ser um fracasso. É mediano como a maioria esmagadora das produções é. 

Uma jovem recém-casada (Lilly James) precisa lidar com a presença de sua antecessora. A falecida e misteriosa Rebecca, primeira esposa do reservado Maxim de Winter (Armie Hammer), ainda exerce influência no ambiente e nos demais residentes de seu novo lar.


Após as apresentações em um romance fofo em uma locação paradisíaca, o jovem casal retorna à mansão da família. A partir daí o longa muda de cores e tom, na tentativa de criar um mistério e ameaça em torno da figura de Rebecca. O ritmo e intensidade do roteiro são suficientes para gerar uma curiosidade, mas não para construir uma produção suspense ou mesmo terror. Sentimos que a protagonista está sob ameaça, mas não chegamos a nos exasperar por sua segurança. 

O tom é mais próximo do drama, ou romance trágico, e é aí que a produção perde a oportunidade de atualizar os temas abordados, e tornar a discussão mais complexa. Comprometer-se com alguém que mal conhece, e as mazelas que isso pode trazer, que vão de simplesmente não se encaixar na vida do companheiro, à submissão e relacionamento abusivo. Estes elementos, comuns à discussão nos dias de hoje, mas dificilmente em pauta nos anos de 1930 quando o livro fora lançado, estão presentes mas o filme prefere não discuti-los. 


A consequência da falta de profundidade do roteiro, reflete no bom elenco que não tem material para trabalhar. Assim, Hammer entrega um Sr. de Winter mais reservado que de fato atormentado. Lily James não encontra espaço para apresentar gradualmente a ambiguidade que sua personagem mostra ter no terceiro ato. Kristin Scott Thomas é quem mais se destaca já que a Sra. Danvers é a personagem com mais camadas em cena. Já a breve participação da excelente Ann Down, traz um humor curioso para os primeiros minutos de projeção. Entretanto não há grandes atuações, já que o roteiro pouco exige dos atores.

A fotografia e direção de arte, são provavelmente o ponto mais forte do longa.  Caprichadas e conseguem criar uma atmosfera sombria e misteriosa para a mansão, explorando o aspecto labiríntico e intimidador que construções como como essas podem ter. O mesmo vale para as desertas locações no entorno da propriedade, vastas e desérticas. Muitos trabalham e vivem na propriedade, mas nossa protagonista sem nome está sempre sozinha.


Baseado no livro homônimo de Daphne du Maurier, lançado em 1938, a produção parece presa ao período de criação de sua versão original. Não é ruim, apenas simples e raso, e inevitavelmente ofuscado por várias versões da mesma obra para TV e cinema. A mais famosa delas dirigida por Alfred Hitchcock em 1940. 

A questão aqui é: era mesmo necessário uma nova adaptação de Rebecca - A Mulher Inesquecível? Pelo resultado, é provável que muita gente diga que não. Entretanto, não pude deixar de notar, o longa de Hitchcock, não é dos mais acessíveis, materialmente falando. Muitos filmes antigos não estão nos streamings (bateu saudade da locadora né!). 


Se não uma grande obra, esta versão de 2020, é no mínimo um lembrete das que são. Talvez seja a porta de entrada para outras versões e até para o livro. Além de entreter razoavelmente por umas duras horas. Nesse sentido, vejo mais ganhos que perdas.

Rebecca - A Mulher Inesquecível (Rebecca)
2020 - Reino Unido - 121min
Drama, Mistério, Romance
 

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