Warrior Nun - 1ª temporada

A primeira vista, a proposta de Warrior Nun soa bastante absurda e exagerada. O que de fato a série é! Entretanto, a produção da Netflix parece ter consciência de sua proposta, abraça sua proposta duvidosa, tira o melhor proveito dela, e não tem medo de rir de si mesma. O resultado, é uma produção juvenil divertida e com mitologia própria.

Recém falecida, a órfã tetraplégica Ava (Alba Baptista) acorda em um necrotério, com total controle do seu corpo. Sua ressurreição se deve à um artefato mágico escondido em suas costas, que também lhe concede poderes sobrenaturais e sobre-humanos. Trata-se da mais poderosa arma de um grupo de freiras que secretamente combatem demônios há séculos. Enquanto a igreja tem urgência em recuperar o artefato, a jovem deseja apenas experimentar a vida pela primeira vez.

É isso mesmo que você leu, freiras que combatem demônios, trajando "hábitos táticos" e empunhando armas, e na maioria adolescentes, ou jovens adultas. Esta última parte pode soar irrealista, mas é coerente com a ideia de que a vida de uma guerreira desta ordem é curta, e poucas chegam à maturidade, além de dar o tom da produção. É uma aventura juvenil, com ares de Buffy, a Caça-Vampiros, ou Supernatural nas temporadas mais recentes e piadistas.


É por causa dessa natureza adolescente, que a série demora um pouco a engrenar. Enquanto já estamos interessados no "Halo" (o tal artefato), e toda a história por trás da ordem, Ava ainda quer ser uma adolescente comum. Assim, a primeira metade da série soa mais arrastada do que deveria para quem não está tão interessado assim em intrigas juvenis. O que é agravado por uma narração intrusiva e redundante da própria protagonista.

Entretanto, quando a protagonista finalmente aceita o chamado para a aventura, a série deslancha. A narração é deixada de lado, a série fica focada, desenvolve sua mitologia, intrigas e apresenta as habilidades de suas guerreiras. E sim, elas tem muitas, as cenas de luta são bem coreografadas e divertidas. Os efeitos especiais não são os melhores, mas combinam com o tom absurdo e atendem ao que a trama exige.

Em um arco secundário, Shotgun Mary (Toya Turner) investiga a conspiração que causou a morte da portadora do halo anterior. E uma curiosa subtrama que contrapõe ciência e magia. Eventualmente, estas jornadas se encontram e completam no ápice da aventura.

Os diálogos são exageradamente didáticos, mesmo para quem não está habituado com mitologia de anjos e demônios. Mas o carisma de seu elenco jovem compensa a verborragia. Alba Baptista segura bem o protagonismo, mesmo no início quando a personagem age de forma mais egoísta. Toya Turner consegue imprimir toda a determinação de sua freira renegada. Enquanto o restante do elenco jovem, consegue marcar bem as as características bem definidas de suas personagens. É fácil diferenciar e compreender as motivações de cada uma, mesmo que todo mundo fique meio parecido em seus hábitos pretos.

Entre o elenco experiente, o destaque fica com Joaquim de Almeida. O ator português que volta e meia faz trabalhos aqui no Brasil, encarna perfeitamente aquela imagem de autoridade corrompida, que existe e assombra a igreja católica há séculos. 

E por falar na igreja, a série tanto critica seu sistema hierárquico, que abriga indivíduos com intenções escusas, quando elogia a entrega e determinação dos bem intencionados. As críticas são sutis, afinal é uma série juvenil, e não chegam perto da comoção que a HQ em que foi inspirada. Warrior Nun Areala de criada por Ben Dunn, foi lançada em 1994, sua trama serve de inspiração para a série, embora a personagem principal seja outra.

O figurino das freiras é estiloso e irreal, no bom sentido. Enquanto as locações na Espanha surpreendem com cenários antigos e belos. A sensação de se estar acompanhando uma história dentro da igreja católica, é em grande parte mérito dos prédios históricos e imponentes que abrigam a produção.

Warrior Nun começa devagar, mas quando deslancha, diverte e surpreende. Sim, existem algumas reviravoltas guardadas. A satisfação pós-maratona, seria de 100%, não fosse o obrigatório final em aberto para criação de uma franquia, e o temor da não renovação que vem com ele (ainda não foi confirmada uma segunda temporada). Uma pena apenas que a Netflix deixou passar a oportunidade de o título, afinal o sonoro "Freira Guerreira", completaria o pacote acertado e propositalmente absurdo da série.

A primeira temporada de Freira Guerreira tem 10 episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix.

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