Historiadores apontam, existem mais dúvidas que certezas quando se fala de lendas arturianas. Com diversas versões construídas ao longo de séculos, e muito presente no imaginário popular, parece que sempre há uma nova adaptação da história chegando às telas. Escolhendo detalhes da lena, de acordo com o público que pretende atingir, temas que quer discutir ou mensagens que deseja passar. A série Cursed: A Lenda do Lago, da Netflix, é a mais recente delas.
Nimue (Katherine Langford de 13 Reasons Why) é uma jovem feérica que é hostilizada em sua vila, por ter poderes incontroláveis. Sua vida toma novos rumos, quando seu povo é atacado, e ela recebe a missão de levar uma espada para Merlin (Gustaf Skarsgård). Fugindo da igreja católica que persegue e elimina feéricos e dos reis que reivindicam a relíquia em forma de arma.
Não trata-se apenas de uma história “pré-Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”. É uma nova possibilidade para os acontecimentos que criaram o mito do Rei Arthur, com universo rico e mitologia própria. Uma disputa de poder entre reis e a igreja, e o extermínio de um povo.

Assim, temos um Arthur mercenário e negro (Devon Terrell,carismático e eficiente), apontando diversidade de elenco coerente com o discurso sobre tolerância e diversidade da história. O povo feérico não é apenas diferente dos humanos, mas tem características distintas de acordo com seu clã de origem. Diferenças que aumentam ainda mais a intolerância e violência contra eles.
Katherine Langford tem presença e carisma, e sustenta bem o protagonismo, apesar das mudanças bruscas nas escolhas da personagem, especialmente nos últimos episódios. Particularmente, eu gostaria de ver um trabalho corporal mais esforçado nos momentos “cotidianos”. Fora de grandes momentos épicos, propositalmente “posados”, os trejeitos e postura da moça me lembram constantemente que ela é uma jovem do século XXI em roupas de época. Outro destaque do elenco é Gustaf Skarsgård, que consegue imprimir tormenta e bagagem, em seu Merlim de aparência jovem, desprovido de magia e desgostoso da vida.


Sequencias de luta e efeitos especiais não trazem grandes surpresas. Seguem o padrão de qualidade Netflix e atendem à trama. Belas locações ajudam o design de produção à imaginar os cenários místicos que dão o tom de fantasia. Assim como a maquiagem, que criam diferentes espécies com eficiência. O figurino se saia relativamente bem, até resolver caracterizar duas personagens da mesma forma, nos confundindo e criando um estranho efeito de espelho quando estas se encontram em batalha.

A primeira temporada de Cursed: A Lenda do Lago tem dez episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix.
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