Um Lindo Dia na Vizinhança

Após minha sessão de Um Lindo Dia na Vizinhança, não pude evitar buscar o documentário Won't You Be My Neighbor? (2018), que fala da carreira do apresentador de TV Fred Rogers. Isso porque o longa de ficção, mostra o encontro entre o icônico Mr. Rogers e o jornalista Lloyd Vogel, com o foco no personagem menos interessante desta relação.

Lloyd Vogel (Matthew Rhys), jornalista famoso por expor os podres daqueles que retrata, é escalado para escrever o perfil de Fred Rogers (Tom Hanks). Um apresentador de programa infantil que marcou gerações, com reputação marcada por sua empatia e habilidade de se comunicar com as crianças, com responsabilidade e abordando conceitos complexos.

Um jornalista amargurado tem suas crenças confrontadas por uma visão de mundo oposta. Já vimos esta história algumas vezes, a diferença aqui é a figura desafiadora em questão. Altruísta e empático, a benevolência de Mr. Rogers, soa suspeita aos olhos cínicos de hoje em dia, e também do jornalista que o entrevistou em 1998, na ficção e na vida real.

O encontro é inspirado na relação real entre o apresentador e o jornalista Tom Junod. E é pelos olhos dele que acompanhamos a história. Infelizmente, Vogel não é a parte mais interessante dessa relação. E não ajuda muito a forma como o roteiro constrói o protagonista, ele não é apenas amargurado, é aticítico, mesmo com as pessoas com quem supostamente se importa, como a esposa (Susan Kelechi Watson) e o filho. Matthew Rhys entrega uma atuação honesta, mas não alcança o carisma necessário para fazer o público se conectar com um personagem tão negativo. Especialmente em comparação com o seu oposto.

Do outro lado da conversa, Tom Hanks imprime todo seu carisma e empatia em uma figura igualmente carismática e empática. Replicando trejeitos e tom de voz, mas também imprimindo camadas nesta figura supostamente inabalável. Desconhecido para nós Rogers, é uma figura icônica da TV estadunidense. De caráter irrepreensível, há quem ainda procure, ou crie, sem sucesso, falhas em sua desconcertante benevolência. Hanks, consegue recriar sua empatia, mas também deixa transparecer sua humanidade, e as frustrações com as quais ele escolheu lidar de forma única.

Marielle Heller aposta na estética do programa de TV de Rogers, para trazer um lado lúdico ao mundo "pé no chão" de Vogel. E acerta na maior parte do tempo. Também há referências a frases e momentos icônicos da vida e carreira de Rogers. O roteiro é previsível, mas bem conduzido técnica e narrativamente.

Histórias de "indivíduos quebrados" existem aos montes. Jornadas de pessoas que escolheram viver de forma altruísta, e de fato conseguiram, mesmo com a pressão da mídia, estão ficando cada vez mais raras. Talvez por isso, e pelo fato de Hanks se encaixar tão bem no personagem, ambos demonstram o mesmo carisma e empatia, que não nos interessamos com o protagonista como deveríamos.
Um Lindo Dia na Vizinhança conta o encontro entre de Vogel com um ícone da TV, mas é o ponto de vista de Rogers que gostaríamos de ver. Um produção correta, mas que escolheu colocar seu foco sobre a figura menos interessante. Apresentou a vizinhança de Mr. Rogers, e deixou a vontade de acompanhar a biografia completa do apresentador. Descobrir se ele era realmente esta figura admirável fora da televisão (espero que sim), e que apesar disso tinha falhas. E de preferência com Hanks novamente no papel.

Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood)
2019 - EUA - 109min
Drama, Biografia

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