Por Lugares Incríveis

Por mais que seja tendencia atualmente, equilibrar problemas de saúde e romance adolescente em uma obra de ficção é uma tarefa difícil. Especialmente quando estes problemas são de saúde mental, naturalmente mais complexos de retratar e explicar para o público, e cuja discussão ainda é cercada de tabus como depressão e suicídio. Por Lugares Incríveis, adaptação da Netflix para livro homônimo de Jennifer Niven, tenta navegar por estes temas de forma responsável.

Violet Markey (Elle Fanning) está sob o parapeito de uma ponte, quando Theodore Finch (Justice Smith) a conhece. O incomum encontro desperta o interesse do garoto pela moça, e forçados a fazer juntos um trabalho de classe - no qual visitariam os tais lugares incríveis - a dupla passa a conviver e ajudar um ao outro a trabalhar suas cicatrizes emocionais e distúrbios psicológicos, na medida do possível, dentro do conhecimento de adolescentes.

Você compreendeu certo, o filme já começa com uma situação de suicídio. Aborda também, luto, depressão, bullying e bulimia, todos distúrbios complexos que atingem jovens dessa geração.  Há um esforço visível para tratar destes temas de forma honesta, sem glamorizá-los (lição que a Netflix aprendeu à duras penas com a polêmica de 13 Reasons Why).

Embora acertado, esse excesso de zelo também ameniza o aprofundamento mais didático destas questões. A discussão aqui precisa ser mais clara e direta, já que é voltada para um público bastante jovem. Mesmo os mais velhos, nem sempre tem conhecimento destas condições e suas consequências. O caso da bulimia é ainda mais gritante, já que sua existência é apenas citada, nunca discutida. Soando como se inserido por uma obrigatoriedade de tratar todos os temas do livro. A abordagem contida acaba por tirar parte do peso da condição, e isso se reflete na trama.

Enquanto acompanhamos o processo de luto de Violet, a trama nos apresenta um Finch meio maluquinho e aparentemente apaixonado pela vida. É apenas na metade da produção, que a trama inverte o foco e resolve mostrar as mazelas que o rapaz esconde por traz de sua persona impulsiva. Mas nesse ponto, há pouco tempo para explorar sua condição.

O relacionamento do casal, também sofre com um desenvolvimento brusco e um tanto apressado. Esta falha no entanto, é compensada pelo carisma e química de seu casal de protagonista. Fanning, já experiente em dramas, faz um trabalho eficiente ao criar uma gradual superação do luto para Violet. Já Smith, mais visto em "filmes pipoca" como Jurassic World e Detetive Pikachu, surpreende ao acompanhar o nível de sua parceira de cena, deixando transparecer as muitas camadas de Finch, mesmo antes do roteiro resolver abordá-las.

A direção trabalha no lugar comum do gênero, ocupada em criar belos momentos do casal, e emocionar a audiência no final. Fotografia e trilha sonora seguem o mesmo estilo familiar. O elenco coadjuvante traz rostos conhecidos como Alexandra Shipp, Luke Wilson e Keegan-Michael Key, em papéis sem grande destaques ou desafios.

Por Lugares Incríveis acerta em escolher abordar sem glamorizar, mas não consegue equilibrar este bom senso com o peso que estes temas merecem. É um bom começo de discussão, mas poderia ser mais. No geral, passeia por lugares familiares do sub-gênero romance adolescentes com condições complexas, para contar com responsabilidade, uma história que funciona, mas não engaja o público.

Por Lugares Incríveis (All the Bright Places)
2020 - EUA - 107min
Drama, Romance


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