The Crown - 3ª temporada

A terceira temporada de The Crown tem um desafio curioso, estabelecer um elenco completamente novo, ao mesmo tempo que avança a história dos personagens apresentados por Clair Foy e companhia nos anos anteriores. Em outras palavras, precisa fazer você acreditar que se tratam da mesma pessoa, sem abandonar o ritmo da história.

Passado por volta da década de 1970, quando a rainha está prestes a comemorar 25 anos no trono, o Jubileu de Prata. Uma monarca já estabelecida e confortável no poder, tem agora como desafios as mudanças do Século XX, que questionam os paradigmas e tradições da coroa.

Nenhuma, no entanto, tão impactante quanto os dilemas das temporadas anteriores. Isto porque o terceiro ano soa como uma grande preparação, para as verdadeiras mudanças que estão por vir. Ao mesmo tempo que os episódios mostram uma Elizabeth (Olivia Colman) ciente de sua posição, e de certa forma acomodada nela, também dão indícios dos desafios futuros. Desde desafios políticos, passando pela função da família real na sociedade, até os romances do Príncipe Charles (Josh O'Connor).

O resultado é uma temporada desequilibrada, conforme alterna o foco entre personagens, temas e passgens históricas em cada episódio. Assim temos o bom Aberfan (episódio 3), que trata do desabamento de uma mineradora na cidade título, que funciona isoladamente. O sonolento Coup (episódio 5), que mostra a monarca aprendendo sobre cavalos enquanto personagens menos carismáticos criam problemas. E os excelentes Dangling Man e Imbroglio (episódios 8 e 9), que fazem um paralelo entre a vida amorosa de Charles e de seu tio-avô o Duque de Windsor (aquele que renunciou ao trono para se casar).

O formato episódico é comum à série, mas aqui os capítulos, pouco se complementam, ainda que façam parte da mesma evolução de personagens. Isso quando os personagens evoluem, já que Príncipe Philip (Tobias Menzies), e a Princesa Margareth (Helena Bonham Carter) parecem estar fadados a protagonizar a mesma história. Ele lamentando o que perdera por viver a sombra da esposa, ela entrando em conflito por sua personalidade expansiva. A irmã da rainha ao menos ganha um novo dilema, seus problemas matrimoniais. Embora o episódio dedicado a isso, o último da temporada, soe deslocado e um desfecho anticlimático para o terceiro ano.

Entre os episódios que melhor funcionam, estão aqueles dedicados à Charles. O príncipe herdeiro, apresentado como uma criança frágil no ano anterior, agora é um jovem cheio de vontades e de personalidade curiosa. Josh O'Connor faz um excelente trabalho ao criar ao dar voz ao príncipe, sem desviar do imaginário popular em torno de sua figura.

E por falar no elenco, a complicada transição é bastante eficiente. Não é difícil acostumar e associar novos rostos aos conhecidos personagens. Colman traz uma Elizabeth ainda mais contida, pela maturidade. Enquanto Menzies traz um Philip ainda cheio de vontades, mas já acostumado a seguir (e eventualmente desviar) os protocolos. Helena Bonham Carter mantém a força e brilho criados por sua antecessora para Margareth, acrescentando um certo cansaço e fragilidade em alguns momentos.

A direção de arte e figurino e maquiagem transportam toda a família para a década de 1970 com eficiência, mantendo suas principais características, como o contraponto entre a sobriedade da rainha e o glamour de sua irmã caçula. É um momento de menos brilho e exagero, porém esteticamente marcante, basta reparar no visual da princesa Anne (Erin Doherty). E que também começa se aproximar das figuras que conhecemos hoje.

Nas primeiras temporadas Elizabeth precisava aprender a governar, e se provar no cargo. Agora a monarca está segura de suas funções e até um tanto acomodada, enquanto o terceiro ano prepara e inicia desafios futuros. É a calmaria antes da tempestade. Este período de transição continua evidenciando a família real como "gente como a gente", mas os problemas menores os tornam menos admirareis, que não compreendem os privilégios que tem.

O resultado é uma temporada menos carismática, e mais desequilibrada, ainda bem produzida e atuada. Ao menos as peças estão em jogo para um mais intrigante, e já em produção, quarto ano. Que venham Diana e Tatcher, para espantar este marasmo!

The Crown tem três temporadas, com 10 episódios cada, todos disponíveis na Netflix. Leia as críticas do primeiro e segundo anos da série.

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