
Logo, mesmo que eu raramente dê spoilers sem aviso por aqui, não vou ficar chateada se você decidir pausar a leitura por aqui e retornar depois de ver o filme. Vai continuar assim mesmo? Já assistiu e está de volta? Ótimo, vamos seguir.
Sobrevivendo com sub-empregos, vivendo em um insalubre meio-porão, a família Kim vê uma oportunidade quando o filho mais velho Ki-woo (Choi Woo-sik) consegue o emprego de tutor de inglês de uma adolescente de família rica. Não demora muito para que, através de planos e esquemas, o pai Ki-taek (Song Kang-ho), a mãe Chung-sook (Jang Hye-jin) e a filha Ki-jung (Park So-dam) também consigam prestar serviço para a a abastada família Park.
Não se engane, quando eu digo que assistir Parasita é uma experiência prazerosa, não significa que seja um filme isento de peso, ou crítica. Prazerosa é a forma como a produção transita entre gêneros e tons, para construir uma critica inteligente, que conversa com pessoas de todas as partes do mundo.
Há o tom cômico nos momentos em que trama se assemelha à um film de golpe. O suspense pelo mesmo golpe dar errado. O humor da diferenças entre as classes, o drama envolvendo estes mesmo extremos. E até o terror que pode vir do desconhecimento do que acontece ao seu redor. O filme oscila entre os gêneros, aproveitando o melhor que cada um deles oferece para extrair o melhor da história que pretende contar.
Trata-se sim da já conhecida disputa de classes, mas nada é tão simples ou previsível, ao mesmo tempo talvez seja exatamente isso. Já que sabemos que nada de positivo sairá desta disputa, mas ainda sim ficamos surpresos com os rumos que esta história em particular toma.

A família Kim por sua vez, tem suas"más intenções" bem determinadas, mas é impossível não torcer por eles, diante da situação desfavorecida em que se encontram. O resultado é te fazer e importar com as duas famílias, mesmo sabendo que ambas estão cometendo erros enormes, de uma forma ou de outra.
O eficiente elenco, bem ciente das personalidades, qualidades e falhas, de seus retratados é parte determinante na criação desta empatia. Os intérpretes da família menos favorecida, contam ainda com a excelente transformação entre suas versões reais em casa (abarrotados, cansados, sujos) e as versões que apresentam para os Park (alinhados, bem arrumados e dispostos). Park So-dam é quem mais se destaca, ao oscilar entre a versão verdadeira, cínica e cheia de personalidade, e a jovem refinada e contida do golpe.
A direção de arte ressalta ainda mais as diferenças entre estas duas famílias, através de suas distintas residências. Bong Joon Ho utiliza bem os espaços não apenas para reforçar a crítica, mas para avançar na história, junto com o roteiro inteligente que insere pistas e metáforas, sem nunca ser didático a ponto de desvendarmos toda a trama.

Caso você não tenha notado os nomes diferentes, Parasita é uma produção sul-coreana, mas sua história é universal. Relata de forma exagerada (ou talvez nem tanto), uma realidade inerente ao capitalismo. É um retrato inteligente, empático, dramático e com humor negro da desigualdade social. Esta curiosamente é igual em praticamente todo canto do mundo.
Parasita (Gisaengchung)
2019 - Coréia do Sul - 132min
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