Os Órfãos

Mansões mal-assombradas e ocupantes desavisados são provavelmente o tema mais clássico em histórias de terror. Ao ponto de ser contraditoriamente um assunto já saturado, mas que também surpreende quando bem executado. Logo, Os Órfãos, nova adaptação do marco da literatura de terror, A Outra Volta do Parafuso de Henry James, tem potencial para ser incrível, quanto apenas mais do mesmo.

Kate (Mackenzie Davis) é contratada para ser tutora, em uma rica e isolada mansão, da pequena Flora (Brooklynn Prince), que perdeu os pais em um acidente de carro. Não demora muito para estranhos eventos na residência, e o retorno de Miles (Finn Wolfhard), irmão adolescente da menina transformarem o trabalho em uma experiência nada agradável.

Com uma premissa bastante conhecida, o romance de James foi lançado em 1898 e tem ganhado adaptações e inspirado outras histórias desde então, fica a cargo da execução tornar esta nova versão algo novo. E a intenção é claramente esta. A direção de Floria Sigismondi é eficiente explorando bem os espaços da estranha mansão, e criando, ao lado da fotografia, uma atmosfera incômoda e sombria.

Enquanto isso a personagem de Brooklynn Prince, foge do esperado estereótipo de criança macabra. Flora é sim traumatizada pela morte dos pais, e vive em uma casa estranha, com hábitos estranhos, mas isso não a impede de agir como criança na maior parte do tempo. O mesmo não se pode dizer de Miles, que na tentativa de ser um personagem instável, soa apenas mimado e irritante. Já Mackenzie Davis entrega um trabalho eficiente, embora uma apresentação melhor de Kate pudesse conferir mais coerência às suas ações e reações.

É roteiro que explora pouco seus personagens, a mansão e sua história, preferindo apostar no acontecimentos estranhos, tensão e sustos. Ao mesmo tempo usa essa escassez de detalhes para criar dúvida no espectador. O que de fato funciona. Assombrações, pessoas vivas mal intencionadas, acobertamento de um crime e alucinações da professora, estão entre as possibilidades que passam na mente do espectador durante a projeção. O que oferece um leque de possibilidades para seu desfecho, que vai desde a confirmação de alguma destas possibilidades, o surgimento de novas, e até o final em aberto proposital.

Entretanto o caminho escolhido é uma quebra abrupta e mal finalizada, que soa como trabalho trabalho inacabado. Para os roteiristas, que provavelmente conheciam bem passado e motivações dos personagens, talvez faça sentido. Mas, como escolheram desenvolver pouco estes detalhes no roteiro, para o público a sensação é de "ué?! Acabou?".

Cheio de potencial, como uma boa história,  direção, fotografia e elenco, Os Órfãos não atinge seu melhor por causa do roteiro que não explora bem o bom material que tem. Os pontos positivos conseguem criar a tensão e manter o espectador interessado, mas o final anti-climático, o fará sair da sala escura confuso e com a sensação de experiência incompleta.

Em um gênero com tantas mansões mal assombradas, esta adaptação de A Outra Volta do Parafuso, não será esquecido rapidamente como outras produções com o tema. Mas, provavelmente será lembrado pelos motivos errados. Ao menos, vai render uma boa discussão pós sessão com os amigos.

Os Órfãos (The Turning)
2020 - EUA - 94min
Terror

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