Raising Dion - 1ª temporada

Criar um pequeno ser humano é difícil. Fazer isso sozinho e ainda cuidar do sustento familiar é uma tarefa hercúlea. Imagina então se a condição da criança requer uma atenção nunca enfrentada antes? Este é o tema de Raising Dion, série de ficção-científica Netflix, baseada no quadrinho e curta-metragem homônimos criados por Dennis Liu.

Nicole Warren (Alisha Wainwright), ainda não superou psicológica, financeira e organizacionalmente a morte de seu marido Mark (Michael B. Jordan). Ainda com dificuldades de equilibrar as contas e dar a devida atenção ao filho de sete anos Dion (Ja'Siah Young), a moça encara um desafio maior ainda quando o garoto começa a demonstrar habilidades especiais. Para compreender o que está acontecendo, ajudar o menino a controlar suas habilidades, e protegê-lo de quem gostaria de se aproveitar delas, ela conta com a ajuda do melhor amigo de seu marido, o crianção prestativo Pat (Jason Ritter).

Caso a origem dos quadrinhos não tenha denunciado, vou ressaltar: Raising Dion brinca, e muito, com o universo de super-heróis. Abre-se espaço aqui, para as referências e citações à cultura pop que a Netflix usa para agradar a audiência desde Stranger Things (que aliás, também é referência). Mas estas não são intrusivas quanto nas aventuras de Eleven, afinal, Dion tem apenas sete anos. Os personagens superpoderosos são a melhor forma do garoto entender e explicar pelo que está passando. Assim a maioria das alusões aparecem de forma mais orgânica.

Também inspirada nos quadrinhos é a jornada pela qual mãe e filho passam neste primeiro ano. A descoberta dos poderes, a busca por respostas, a ameaça iminente, encontro com aliados e inimigos. Tudo bastante comum ao universo dos super-heróis, e o ritmo em que a história se desenrola segue um tradicional crescente. 

A diferença aqui é a pouca idade do herói em questão que nos coloca no ponto de vista da mãe. Ele pode ter superpoderes, mas é ela quem tem que protegê-lo. Alisha Wainwright, é eficiente em nos fazer acreditar que personagem está perdida com a morte do marido logo nos primeiros minutos, e também o esforço e desgaste que ela enfrenta para deixar o filho seguro.

Eficientes também, são Jason Ritter como amigo bem intencionado, porém sem jeito; Jazmyn Simon a irmã médica/cética Kat; Ali Ahn a ambígua diretora da empresa de biotecnologia Biona, Suzanne Wu e Deirdre Lovejoy como a misteriosa Charlotte Tuck. Enquanto Michael B. Jordan, evolvido também na produção, se mostra dedicado em sua participação especial de luxo.

Mas são as crianças quem chamam mais atenção. Ja'Siah Young convence em retratar a inocência, medo, encantamento por suas habilidades e a confusão criada por tantas mudanças na vida de alguém tão pequeno. Sammi Haney é carisma puro, ao dar vida a esperta e otimista Esperanza. O tratamento dado à personagem, é uma lição à parte para a molecada que deve assistir a série. Cadeirante de verdade, sua condição vira questão apenas quando o pequeno Dion, através de uma boa ação atrapalhada, percebe que isto não a faz diferente, e aprende sobre os limites (não limitações) de cada um. 

Além de diversidade, a série também traz discussões sobre mudanças climáticas, racismo, bullying, luto, sacrifício e até relacionamento abusivo. Muitos destes temas são apenas apontados pelo roteiro, sem longas discussões que talvez espantassem os mais jovens, mas plantando uma semente na mente deles. Os temas estão inseridos no cotidiano de Nicole e Dion, ou fazem parte da trama principal, estando bem encaixados na narrativa.

Caprichada na construção do universo em que Dion vive, cercado de legos, quadrinhos e super-heróis em um mundo bem parecido com o nosso, a produção escorrega apenas no quesito efeitos especiais. Especialmente nos poderes de levitação que envolvem objetos flutuantes em um nada realista CGI. Muito provavelmente, restrições de orçamento de uma série que conta com bastante efeitos especiais. Há também tecnologias absurdas, "ciência maluca", e uma ou outra licença em prol da narrativa (quem viu ao menos uma série médica, sabe que o Centro de Controle de Doenças não age da forma como é mostrado na série). Nada no entanto, que já não estejamos acostumados a relevar em obras de ficção-científica.

Raising Dion encontra um ponto de vista diferente em meio ao já saturado universo de super-heróis. Com produção caprichada, com elenco carismático e até um plot twist, diverte o suficiente para relevarmos uma ou outra falha. E mais, nos faz ficar engajados o suficiente para desejar acompanhar um pouco mais da curiosa criação do pequeno Dion.

A primeira temporadada de Raising Dion tem nove episódios, todos já disponíveis na Netflix.

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