Manto e Adaga - 2ª temporada

Manto e Adaga é assumidamente uma série de opostos que se completam. Luz e trevas, esperança e medo, bem e mal, são a base da história de Tandy e Tyrone. Logo, é bastante curioso que em seu segundo ano a série decida mostrar quem nem sempre é tudo preto e braco. São as possibilidades da área cinzenta entre os estremos que impõe desafios aos protagonistas. O que não significa que o programa vai abandonar sua acertada dinâmica de opostos.

Os acontecimentos da temporada anterior inverteram as posições de Tandy Bowen (Olivia Holt) e Tyrone Johnson (Aubrey Joseph). A garota que antes vivia nas ruas de pequenos golpes, ajustou sua relação com a mãe e retomou seus estudos de balé. Enquanto o garoto que já fora um aluno modelo com futuro promissor, agora vive escondido, fugindo da justiça por uma falsa acusação de assassinato. Isso sem deixar de lado, a quebra de estereótipos que a produção promovera em sua estreia, afinal Ty é inocente, e Tandy ainda sabe praticar seus golpes. Apenas reforçando a discussão sobre preconceito, e a insistência da sociedade em rotular pessoas apenas por sua aparência.

Partindo deste cenário, provar a a inocência de Ty, contornando um sistema policial corrupto, é o objetivo principal da dupla. Entretanto, tudo nesta série vem em pares lembra? Assim uma nova ameaça à cidade se apresenta para Tandy. Abuso doméstico, violência física e psicológica contra mulheres e escravidão sexual estão entre os temas que esta nova ameaça discute. As duas tramas segue paralelas, inevitavelmente afetando uma a outra, seja por eventos em comum, seja porque seus heróis compartilham uma jornada.

E por falar na dinâmica entre os protagonistas, agora eles sabem da importância que tem na vida um do outros, e tem sua fidelidade testada eventualmente. Embora não tenham completa compreensão de como, ou porque, são dois lados da mesma moeda. Ainda sim evoluem juntos como personagens e heróis. Inclua aqui a evolução dos poderes isoladamente, tanto isoladamente quanto, combinados. Holt e Joseph trazem de volta a acertada química da primeira temporada, e parecem cada vez mais confortáveis tanto em seus papéis, como no "trabalho em equipe".


Um "membro honorário" desta equipe é a detective Brigid O'Reilly (Emma Lahana, eficiente), cuja jornada própria concite em conciliar dois lados de sua personalidade, literal e figurativamente. Seu lado vigilante implacável, a Mayhem, também é efeito colateral dos eventos do ano anterior. É aqui que a série começa a mostrar que nem tudo é preto no braco, já que as duas versões da moça tem acertos e erros.

Outra personagem que ganha destaque é Evita (Noëlle Renée Bercy), ela é a porta de entrada para o misticismo. Apenas apontado na primeira temporada, o vudo agora torna-se elemento chave na evolução dos poderes de Manto e Adaga, e principalmente na construção do vilão, através de divindades chamadas Loa. Outra quebra de paradigma aqui, realista ou não, raramente vemos religiões de matriz africanas tratadas de forma tão complexa, e livre de esterótipos em programas de TV.

A serie também acerta tem tornar físicos conceitos espirituais. Entre eles a forma como o vilão cessa medos e esperanças de suas vítimas se destaca, ao na forma de uma loja de discos também fornecer o tom musical para a temporada como um todo. Por outro lado, o excesso de conceitos complexos volta e meia se perde em suas próprias regras. Limites são estabelecidos e depois repensado em prol da trama e da compreensão dela. Embora a própria mudança deixe alguns aspectos bastantes confusos.

Outro ponto fraco é a demora na apresentação do vilão, que em prol do "plot twist" é atrasada. Obrigando a narrativa a recuar e diminuir o ritmo, para apresentar suas motivações apropriadamente, em um ponto em que a história desveria está se encaminhando para o fim. Felizmente, ao menos, suas motivações, são complexas e coerentes com a temática da temporada. E o ator responsável por apresentar suas mazelas (não vou dizer o nome, para não revelar o vilão antes da hora) consegue encontrar o tom entre a dor e a soberba do personagem.

Tem boas cenas de ação e com efeitos especiais continuam contidos, que funcionam. Mesmo porque, aqui eles são apenas o complemento aos dramas e discussões dos personagens e da sociedade em que estão inseridos. E estes são atuais e relevantes. Alguns deles trabalhados desde de o ano anterior, outros novos, todos trabalhados de forma clara e bem inserida na vida dos personagens.

Menos afinada que em sua estreia, a esta temporada tem um ritmo oscilante. Além de alguns espaços no roteiro que podem, ou não ser resolvidos em um terceiro ano, ou no crossover já anunciado com Marvel's Runaways. Funciona melhor em maratona, enquanto o carisma dos protagonistas mantém o interesse quem prefere assistir aos poucos.

Equilibrada como sua temática de opostos que se complementam, Manto e Adaga tem segundo ano mais fraco, porém ainda cheio coragem para fugir do previsível, e excelentes temas e discussões. É uma pena que os fãs da Marvel, sempre empolgados com adaptações da marca, ainda não tenham destinado um olhar mais atento para esta série.

Cada temporada da série tem 10 episódios No Brasil é exibida pelo Canal Sony, o mesmo de Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D. e Marvel's Runaways, a primeira temporada também está disponível na Netflix.

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