Influência

A Netflix continua em sua corrida para criar catálogo próprio, agregando e produzindo obras à toque de caixa. A intenção parece ser boa, oferecer oportunidade para os mais diversos criadores e assim diversificar as escolhas para o assinante. Entretanto, parece que o excesso acaba interferindo na qualidade e para cada acerto (I Am Mother), existem um monte de produções medianas (Tal pai, tal filha) ou ruins mesmo (Bright). A estreia do espanhol Denis Rovira van Boekholt na direção de longas-mentragens, Influência, engrossa a terceira categoria.

Após anos sem contato, Alícia (Manuela Vellés), retorna para casa onde cresceu para ajudar a irmã Sara (Maggie Civantos), a cuidar da mãe em estado terminal. Acompanhada do marido Mikel (Alain Hernández) e da filha Nora (Claudia Placer), ela precisa enfrentar não apenas as memórias e rancores da infância, mas também uma influência maligna que parece interessada na menina.

A intenção é desenrolar aos poucos e simultaneamente dois "mistérios": a crescente influência da entidade interessada em Nora, e desvendar aos poucos o passado que protagonizara Alícia ao ponto da moça cortar laços com a família. Mas falta fluidez, não apenas entre os momentos distintos, mas em cada linha narrativa isoladamente. Não há continuidade entre as cenas, fazendo com que as ações e escolhas dos personagens pareçam perdidas e sem sentido. A quantidade de vezes que afirmam estar indo embora da cidade, mas na cena seguinte permanecem lá, ainda desconfortáveis, sem que nada os impeça de sair, chega a ser irritante.

O longa também falha, em nos fazer prezar pelo bem estar destes personagens, ao jogar o espectador imediatamente na "nova vida" da família. Sem apresentar suas personalidades, relações, motivações ou mesmo o que deixaram para trás. Assim, quando Nora age mal na escola, e os pais dizem que ela não é assim, impossível não nos perguntar: então como ela era? Já que a garota sequer fala antes dos eventos estranhos começarem.

Para combinar com o roteiro confuso e mal resolvido, a direção pouco inspirada, se apoia demais em uma fotografia desaturada e ambiente inexplicavelmente escuros, e um excesso de luzes vermelhas sem origem definida, para criar o clima de ameaça, que por não fazer sentido, pouco funciona. Á certa altura, Mikel, é mostrado consertando as luzes da casa, mesmo assim eles continuam a andar no escuro, mesmo á luz do dia, como se não houvessem janelas na propriedade. No restante do tempo Rovira, apenas replica o básico em produções do gênero, com aparições no canto da tela, gente se movendo lentamente no escuro. Há até uma tentativa de homenagem a O Iluminado, que de tão mal executada provavelmente passará despercebida.

Se roteiro e execução pouco fazem sentido, ou colaboram para nosso interesse. Não há muito que o elenco possa fazer, Vellés oscila entre a expressão rabugenta de quem não queria estar ali, e os olhos arregalados de medo. Hernández e Civantos, entregam o que seus personagens precisam, e apenas isso. Os maiores destaque ficam com a menina Claudia Placer e Emma Suárez (que dá vida à mãe Victória), ambas entregam intensidade, embora estejam presas à caricatura que o roteiro lhes ofereceu.

O argumento, apesar de não ser completamente original (quem viu A Chave Mestra, provavelmente vai desvendar o mistério antes da metade do filme), não é ruim. Mas se perde na construção da própria mitologia, além dos já mencionados problemas de execução.

Nada funciona bem Influência, deixando evidente a pouca experiência de Denis Rovira van Boekholt, que estreia e longas-metragem tanto na cadeira de diretor, quanto no roteiro. Dar chance à gente nova, é sempre digno de nota, aplausos para a Netflix por isso, seja produzindo ou apenas distribuindo. Entretanto, prezar pela qualidade, mesmo que prejudique a quantidade, também é necessário.

Influência (La influencia)
2019 - Espanha - 99min
Terror

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