Eli

Histórias de pessoas que precisam viver em total isolamento, por graves alergias ou falta de imunidade, são tão fascinantes quanto tristes. Não é surpresa que a ideia da necessidade de viver em uma bolha de plástico seja premissa para os mais diferentes tipos de obra, desde o drama (O Menino da Bolha de Plástico), passando pela comédia (Jimmy Bolha) e até o romance adolescente (Tudo e Todas as Coisas). Eli traz o argumento para o universo do terror.

Eli (Charlie Shotwell) tem uma doença auto-imune que o torna alérgico a praticamente tudo. Em um último esforço, seus pais gastam todo o dinheiro da família no tratamento milagroso da Dr. Horn (Lili Taylor). Aos poucos a clínica, uma antiga casa transformada em ambiente estéril, começa a abrigar fenômenos que indicam que nem tudo é o que parece.

Falta um pouco de foco na construção do terror aqui. A princípio o grande medo é ser exposto os elementos que podem matar o protagonista em instantes, mas logo a ameaça é substituída por entidades que assombram a casa. É aqui que o roteiro peca em ritmo e originalidade, antes de entregar uma curiosa reviravolta.

Enquanto apresenta personagens e condição da vida de Eli, o roteiro de David Chirchirillo, Richard Naing, Ian Goldberg, acerta na construção da tensão e mistério em torno da doença e do tratamento. É isso que garante a permanência do espectador durante o segundo ato, que cai nos clichês típicos dos filmes de fantasmas, trilha sonora que prepara o susto, objetos que se movem sozinhos, aparições em espelhos e cantos escuros, e por aí vai.

A recompensa fica por conta do desfecho que muda nossa percepção em relação aos personagens, e dá sentido a detalhes que poderiam ser considerados falha de pesquisa para espectadores mais atentos. Especialmente no modus operante da doença de Eli, que assim como em  Tudo e Todas as Coisas, em muitos  momentos soa falsa propositalmente. Uma pena que o roteiro não tenha plantado outras boas pistas sobre a verdadeira natureza da história, em benefício dos fantasmas clichês do segundo ato.

Ao menos são clichês bem construídos. O diretor Ciarán Foy tem um bom conhecimento das técnicas de terror, e faz bom uso do cenário para apresentar as manifestações. As sequências nunca estão confusas, ou recorrem à escuridão excessiva para criar a atmosfera ameaçadora. A fotografia de Jeff Cutter (Rua Cloverfield 10, A Órfã) aposta em cores sem vida, que somadas à direção de arte cria um ambiente mais depressivo e desesperançoso do que de fato estéril.

As boas atuações completam a lista de acertos Lili Taylor, esta confortável no gênero terror. Enquanto as atuações de Max Martini e Kelly Reilly se complementam, embora ela lute constantemente com uma caracterização (leia-se penteado), que parece estar limitando sua expressão. Sadie Sink é eficiente em seu trabalho de tirar o protagonista do raciocínio óbvio. Já o protagonista mirim Charlie Shotwell é um pouco verde nas cenas dramáticas, mas entrega nos momentos físicos e de confronto, e é suficiente para carregar o filme.

Eli faz parte da corrida da Netflix para aumentar seu catálogo próprio, apostando em nome promissores ainda não tão expressivos na indústria. Tem um segundo ato meio lento e repetitivo, mas recompensa aqueles que ficarem com um desfecho que surpreende, que usa de forma curiosa a premissa do "menino na bolha". Não é excepcional, mas também não está entre os grandes erros da produtora, de fato é um bom entretenimento para quem procura algumas horas de diversão aterrorizante.

Eli
2019 - EUA - 98min
Terror

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