Marianne - 1ª temporada

Atmosfera constantemente sombria, imagens inquietantes, lendas bem construídas, jump scares, gore, tem um pouco de tudo em Marianne. A nova série de terror da Netflix consegue equilibrar diferentes formas de assustar para manter o espectador envolvido na história da pequena cidade francesa de Elden, e uma de suas residentes mais famosas.

Emma Larsimon (Victoire Du Bois) é uma famosa escritora de terror que acaba de encerrar a saga sobre a heroína Lizzie Larck e a bruxa Marianne. Mas o lançamento de seu último livro parece dar partida a eventos estranhos que a forçam a voltar para sua cidade natal. Em Elden, a protagonista precisa enfrentar demônios atuais e passados, que ameaçam sua família e amigos.

A história é relativamente simples, bruxa parece saltar da ficção para atormentar seu criador. É na execução que a série francesa se destaca, ao explorar bem tanto a entidade maligna, quanto aqueles que ela atormenta ao longo de seus oito episódios. Marianne, é mais que um mero personagem, ela segue uma tradicional cartilha de mitologia em torno de bruxas e tem forte influência na vida da protagonista.

E por falar em Emma, a moça é a tradicional escritora solitária e atormentada. Se refugia em suas palavras, até que estas se voltem contra ela, a obrigando a enfrentar os verdadeiros problemas. Aqui a produção adota características das obras de Stephen King, ao abordar os eventos que afastaram a personagem da cidade ainda na infância, acompanhando o grupo de amigos do qual ela fazia parte, especialmente a partir da segunda metade da produção. Até lá, há tempo de mostrar a relação da moça com os pais e com sua assistente Camille (Lucie Boujenah).

Além da protagonista o detetive Raunan (Alban Lenoir) também ganha destaque, ao ser o personagem que busca uma explicação para os eventos. Funciona, mas talvez você se pergunte porque Emma parece saber tão pouco da vilã que supostamente criou. O lapso, ou falta de interesse da autora no entanto, não chega a atrapalhar tanto quanto as atitudes do Padre Xavier (Patrick d'Assumçao). O personagem parece determinado a atrapalhar os personagens enquanto estes buscam solução. Seu comportamento não seria um problema se o roteiro não o apresentasse como conhecedor dos maus agouros da cidade desde o princípio. E mais tarde revelasse, que o personagem foram treinado para combater exatamente aquele mal, mas só se manifesta quando é tarde.

Enquanto estas relações são desenvolvidas, Marianne continua "trabalhando" e permeando este desenvolvimento. Entram aqui as partes assustadoras. Os jump scares estão lá para quem gosta deste tipo de terror. Para os demais imagens desconcertantes e atitudes bizarras, sangue, outros fluidos corporais e violência criam esta atmosfera bizarra, que ainda oscila entre sonho e realidade. Privilegiando efeitos práticos, com poucas sequencias em CGI, a produção apresenta criaturas monstruosas que quase geralmente funcionam, desde silhuetas com olhos brilhantes, até assombrações de olhos esbugalhados. É apenas na batalha clímax, que a produção mostra demais uma destas criaturas, tornando-a mais cômica que assustadora. Entretanto, à esta altura você está tão envolvido que não é difícil relevar o escorregão.

Cortes rápidos, frames escondidos com imagens assustadoras, pontos de vistas diferentes para um mesmo evento, divisão de eventos em capítulos, citações antes de cada episódio, estão entre os detalhes bem pensados que conferem personalidade à produção. Assim como as narração de trechos dos livros de Lizzie Larck, em paralelo com a vida de sua escritora.

Há também transições estilizadas como páginas de livros, que funcionam quase como o "previously" (no episódio anterior...), mas que não deve ser ignorados, já que trazem pontos de vistas e até cenas novas que trazem mais informação para a trama. Fotografia bem aplicada, inclusive nas muitas sequencias noturnas, e ângulos de câmera criativos, completam o pacote técnico bem aplicado.

O elenco dedicado atente bem às necessidades de seus personagens. Os destaques ficam com Lucie Boujenah a assustável, porém determinada, assistente Camille, e Mireille Herbstmeyer, que vive a possuída Madame Daugeron. Já a intérprete da protagonista, Victoire Du Bois não entrega uma atuação excepcional, mas é eficiente o suficiente para carregar o interesse do público ao longo dos episódios.

Marianne não tem a mais original das histórias de bruxa, mas tem uma história bem construída, narrativa e tecnicamente. A produção usa o tempo que precisa para construir uma relação entre público e personagens. Enquanto nos simpatizamos e preocupamos como Emma e companha, os mistérios são desvendados aos poucos, e a narrativa usa de forma acertada diferentes recursos de terror no processo, mantendo expectador incomodado, ou saltando da cadeira, quase todo o tempo.

Embora haja possibilidade de continuação, a história se encerra de forma satisfatória. Particularmente, torço para que a jornada de Marianne se encerre aqui. Não por que não gostei, mas porquê às vezes uma história simples, bem contada e com final eficiente é tudo que precisamos.

Marianne tem oito episódios, todos já disponíveis na Netflix.

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