
No trabalho Gabriela (Christina Milian) era desvalorizada por ser mulher. Na vida pessoal convivia com um namorado controlador que relutava em avançar a relação. Então, em uma mesma semana, ela perde ambos. Mas ela não fica aliviada com isso? Claro que não. Na fossa ela se inscreve em um misterioso concurso para ganhar uma pousada na Nova Zelândia. E claro, ganha! E o lugar está caindo aos pedaços, mesmo assim vai ajudá-la a mudar de vida.
Inclua aí uma comunidade bucólica tão charmosa quanto peculiar, uma rival no ramo da hotelaria e um "boy magia" que o destino insiste em colocar no caminho da moça, não importa o quanto ela fuja, e você terá uma tradicional comédia romântica escapista previsível. E não há nada de errado com isso, se esta for a proposta. O problema está nas escolhas que o roteio faz a partir deste cenário.
A começar pela personagem principal. Preocupado em se encaixá-la no padrão "protagonistas empoderadas" da moda, o roteiro faz a moça gritar constantemente que é capaz de se virar sozinha, apenas para no momento seguinte mostrá-la falhar, repetidamente. - Não funciona apenas afirmar que a moça é empoderada, empodere-a de fato! - Mas é difícil fazer isso, quando se planeja incluir na história um belo príncipe ao resgate. Jake (Adam Demos) é habilidoso, bonito e com um passado trágico para justificar sua improvável disponibilidade. Ah, ele também é insistente, mas apenas até o roteiro precisar recolocar a mocinha na iniciativa.
Charlotte (Anna Jullienne) é a antagonista, deseja a todo custo comprar a pousada de Gabriela. Mas nem mesmo a mocinha à considera uma ameaça real e seus "planos" tem pouco impacto real na trama. A verdadeira vilã poderia ser a própria pousada, filmes sobre reformas impossíveis já funcionaram antes. Entretanto, a produção não consegue conciliar as dificuldades da reforma, com a apresentação de um novo estilo de vida para a protagonista. Oscilando muito entre torneiras entupidas, descobertas nas paredes e o curioso cotidiano de uma cidadezinha neozelandesa. Esta última com grandes chances de ofender o povo da Nova Zelândia devido à algumas caricaturas.
A esta altura, mesmo o mais despretensioso espectador não pode evitar alguns questionamentos. O que o misterioso dono da pousada ganha com o tal concurso? Vender faria muito mais sentido que apenas dar. Quem ainda tem um celular sem senha, ou bloqueio por digital? Existe alguma história por trás da supra-mencionada dona original da pousada? Quantas piadas de bode eles são capazes de fazer? Será que sabem que entre outras coisas esses animais são associados à submissão e bruxaria?* Perguntas bobas, que este tipo de filme costuma responder, mesmo que de forma pouco crível, apenas para manter o espectador em seu estado de relaxamento cerebral. Proposta principal do gênero.

De volta à Amor em Obras, potencial para uma sessão "good vibes", para relaxar e deixar você feliz existe, e a intenção é boa. É provável que você se divirta no processo, mas logo vai voltar para o mundo real, e esquecer completamente sua estadia momentânea nesta cidadezinha bucólica do outro lado do mundo.
Amor em Obras (Falling Inn Love)
2019 - EUA - 98min
Comédia Romântica
2019 - EUA - 98min
Comédia Romântica
*Descobri que a Netflix bem conhece todo o simbolismo envolvendo bodes, veja aqui.
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