
Andy (Gabriel Bateman) passa os dias solitário desde que se mudou com a mãe para uma nova cidade. Preocupada com o isolamento do filho, Karen (Aubrey Plaza) presentear o filho com Buddi, uma inteligência artificial no corpo de um boneco, que deve ajudar nas tarefas doméstica e se tornar o melhor companheiro da criança. O problema, é que o equipamento em questão foi adulterado por um funcionário insatisfeito.
Isso mesmo, Chucky (voz de Mark Hamill) não é mais um objeto possuído por um espírito maligno, mas uma inteligência artificial fora de controle. Mas não torça o nariz para as modificações ainda, as escolhas deste remake do clássico de terror (e mais tarde "terrir") são coerentes e trazem frescor à já desgastada franquia, justificando sua existência. Além disso, o espírito da produção continua o mesmo, um terror despretensioso e até divertido.
Apesar de despretensioso, a produção faz algumas críticas à sociedade atual. Desde a exploração de mão de obra na fábrica de Buddy, passando pelo presença invasiva de grandes empresas de tecnologia em nosso cotidiano, na figura da onipresente Kaslan, e claro nossa dependência crescente destes dispositivos. Nada muito aprofundado ou sutil, mas trabalhado em quantidade suficiente para criar uma relação da produção com a época em que foi lançada.
O novo Chuky não é mal por natureza, mas capaz de aprender e sem os filtros que impõem limites. Não tem indestrutibilidade sobrenatural, mas é capaz de se conectar com todos os dispositivos ao seu redor. A construção de como seu comportamento é "desvirtuado" pelos estímulos errados é bem executada. Enquanto a voz de Hamill acerta na transição do tom robótico e ingênuo do início, para a criatura psicótica obcecada pelo garoto Andy.

Não tão bem elaborados são os personagens humanos em cena, atendendo aos estereótipos tradicionais do gênero. Desde as pessoas absurdamente ruins que nos faz torcer para serem pegas pelo brinquedo, até os adultos que demoram a notar coisas estranhas ao seu redor. Dentro desta construção rasa, o elenco entrega um trabalho eficiente o suficiente para que nos preocupemos com o bem estar dos personagens.

Até chegar neste ponto, a produção é bastante criativa na hora de criar os ataques do boneco. E, pasmem, não abusa de jumpscares baratos. Eles até existem, mas estão encaixados na forma de assustar de Chucky. Vale lembrar, ele é um objeto de menos de um metro de altura, furtividade e aparições inesperadas são a melhor forma de assustar nestas circunstâncias. É aqui que a direção se mostra inventiva, ao usar o ângulo baixo do boneco, e sua conexão com outras tecnologias para criar sequencias interessantes. Some aí um pouco de gore, e o resultado é no mínimo divertido.
O novo Brinquedo Assassino poderia ser um episódio de "Black Mirror", talvez um pouco menos profundo e melancólico, mas completamente encaixado no contexto atual. Em meio a uma era de remakes sem justificativas que não a bilheteria, encontrou uma boa razão para trazer Chuck de volta, sem deixar de lado sua aura maligna, assustadora e, principalmente, divertida.
Brinquedo Assassino (Child's Play)
2019 - EUA - 90min
Terror
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