
Em uma abordagem intimista, o longa apresenta o cotidiano do robô designado para repovoar a terra conhecido como Mãe (Luke Hawker/ voz de Rose Byrne), e sua Filha (Clara Rugaard), uma adolescente criada por ela, sob parâmetros cuidadosamente calculados. A harmonia entre as duas, e talvez o futuro da humanidade, é ameaçado pela chegada de uma Mulher (Hilary Swank), cuja existência e notícias do exterior, fazem a Filha questionar tudo o que conhece.
Maternidade, família, solidão, humanidade, ética, sacrifícios, predestinação e amadurecimento estão entre os vários temas que o roteiro bem construído por Michael Lloyd Green consegue abordar com sutileza, enquanto desenvolve sua trama de sobrevivência. Tal profundidade temático é resultado de um trabalho que não tem receio de usar o tempo necessário para apresentar seus personagens, e desenvolver o contexto em que estão inseridos. E aproveita esse ritmo mais lento, para entregar ao espectador informações necessárias para se interessar pela trama, mas não a compreender completamente. O filme não explica tudo para o público, apenas indica as possibilidades, abrindo espaço para a dúvida que mantém o interesse ao longo do filme, e a reinterpretação de tudo que vimos em seu desfecho.



Entre duas personagens fortes, complexas, dúbias e bem representadas, a Filha fica dividida com relação a tudo que conhece. E nós, a acompanhamos, graças ao roteiro sem pontas soltas e as escolhas inteligentes da direção, que opta por soluções mais econômicas e eficientes, para que o espetáculo do pós-apocalipse não se sobreponha ao tema principal aqui. A maternidade, não apenas de uma pessoa, mas de toda a humanidade. Assim, enquanto as impressões do que pode, ou não, ter acontecido com a humanidade, são passados por registros ou impressões de dentro do bunker/unidade de repovoamento, nós acompanhamos dilemas éticos e desafios morais apresentados à protagonista, como testes ou consequências de seus atos. Abraçamos os questionamentos dela, e criamos nossos, conforme recebemos novas informações e desafios. Apenas para repensar tudo novamente no desfecho, quando finalmente vêmos o quadro completo.
I am Mother faz exatamente o que uma boa ficção científica deve fazer, usa um contexto extraordinário para discutir mazelas da sociedade atual. E o faz de forma inteligente e intrigante, desafiando o espectador à pensar, ao invés de atraí-lo com exageradas sequencias de ação. Escolha muito comum em filmes pós-apocalípticos. Boas atuações, e uma direção competente de Grant Sputore apenas completam o pacote, deste excelente exemplar do catálogo original da Netflix.
I am Mother
2019 - EUA - 113min
Ficção científica
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