Mas Bonnie (voz Madeleine McGraw) não é o Andy e é natural que a garotinha não eleja o cowboy como seu brinquedo favorito. Sem ser o centro das atenções mais uma vez, Woody (Tom Hanks) lida muito melhor com a situação e continua a fazer de tudo para cuidar de sua dona. O que inclui vigiar Garfinho (Tony Hale), um brinquedo feito com um garfo pela própria menina, e que por isso não entende sua existência e teima e fugir. É a busca por ele que move essa nova aventura, que leva a turma toda a novos lugares, e os reúne com antigos amigos.
É Betty (Annie Potts) quem eles reencontram na jornada, não é spoiler está nos trailers. A pastorinha e suas ovelhas não estavam presentes no terceiro filme, e explorar seu desaparecimento é uma escolha certeira. Além de saciar a curiosidade de que sentiu falta do outrora interesse amoroso de Woody. Eu disse "outrora", pois após nove anos desde seu desaparecimento, a moça é muito mais que isso. Após três filmes com medo de perder seu dono, é ela quem finalmente mostra como os "brinquedos perdidos" sobrevivem.
Outros temas tradicionais da franquia, como amizade, lealdade, despedidas, perda e rejeição também estão de volta, sem grandes novidades ou perspectivas diferentes. Olhando em retrospecto, este é o longa menos inovador da franquia. Especialmente quando percebemos que a trama deixou de lado a oportunidade de falar de brinquedos alternativos, que não vieram de lojas, como o Garfinho criado por objetos descartáveis. O que não significa que a produção é ruim, mas menos surpreendente para quem já está familiarizado com seu universo. Vale lembrar, seu principal público alvo ainda não havia nascido quando os longas anteriores foram lançados, em 1995, 1999 e 2010, e podem não ter essa bagagem. O filme inclusive tem consciência disso, e traz um pequeno "recap", para estregar o histórico dos personagens aos novatos.
E por falar em novatos, não faltam brinquedos novos para preencher a tela. Os destaques ficam com a boneca Gabby Gabby (Christina Hendricks), o Duke Caboom (Keanu Reeves), e os hilários bichos de pelúcia Coelhinho e Patinho (Jordan Peele e Keegan-Michael Key, respectivamente). Todos trazendo aquela imprevisibilidade de personalidade em relação à sua aparência ou função.
Infelizmente, com tanta gente tantos objetos animados em tela muitos veteranos ficam em segundo plano. O foco está em Woody, Garfinho e Betty. Buzz, tem um pouco mais de destaque ao substituir o cowboy como líder dos brinquedos em sua ausência, enquanto os demais como Jessie (Joan Cusack), Rex (Wallace Shawn) e os primeiros brinquedos da Bonnie perdem espaço.
Esta aliás é outra grande diferença entre os Toy Story 3 e 4. Enquanto o anterior era uma aventura de grupo, aqui voltamos a jornada de Woody, que apesar de ter começado esta jornada perdendo o protagonismo na vida de Andy lá em 95, sempre fora o grande protagonista da franquia e aqui prova isso. Infinitamente mais maduro do que quando empurrou Buzz pela janela, ele precisa descobrir o próximo passo de sua jornada como brinquedo. É este arco que vai fazer os marmanjos que os acompanham há mais de duas décadas se emocionarem.
Falando em décadas de evolução, a melhora da tecnologia fica gritante quando revemos Betty. A pastorinha fez sua última aparição em 99, e apesar de ainda ser a mesma personagem, é visível o apuro visual e sofisticação pelo qual a moça passou. Este esmero, continua por toda produção, cada vez mais caprichada e realista, desde a bela iluminação na chuva da sequencia inicial, até o realismo na pelúcia, plástico e porcelana de seus personagens.
Há ainda tempo para mostrar um pouco mais da ação dos brinquedos na vida dos humanos, não que eles a percebam. Criando ainda mais situações cômicas. O roteiro inclusive, mantém o estilo de piadas em dois níveis, para entreter crianças e adultos. E traz de volta passagens assustadoras que fazem jus àquelas do quarto do Sid no longa original.
Vale mencionar também a excelente dublagem nacional, que faz uma excelente adaptação para a molecada brasileira. Traz de volta as vozes tradicionais como Marco Ribeiro e Guilherme Briggs (respectivamente Woody e Buzz), e boas novas aquisições, como Antonio Tabet e Marco Luque (Coelhinho e Patinho).
Particularmente, não acho que Toy Story 4 seja um filme necessário, pois anterior encerrava o ciclo da melhor forma possível, cheio de metáforas e nostalgia. Mas também não é dispensável, mal produzido, ou injustificado, muito menos aparenta ser movido por motivos meramente comerciais. Ainda existem histórias a serem exploradas nesse universo, como a de Betty. Se Pixar mantiver o carinho e esmero para contá-las, não apenas as receberemos de bom grado, como vamos adorar voltar a brincar com esse pessoal.
Toy Story 4
EUA - 2019 - 100min
Animação, Aventura, Comédia
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