Tolkien

Mesmo quando escrevemos ficção sobre personagens mágicos em reinos distantes, nossas histórias contam muito mais sobre nós mesmos do que pretendemos revelar. Tolkien, biografia do autor de O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion retrata exatamente isso.

Retratando a juventude do autor, o filme apresenta todos os elementos que transformaram o órfão John Ronald (Harry Gilby/Nicholas Hoult) no J.R.R.Tolkien que criou os mundos que amamos. Desde a perda da mãe, passando pela T.C.B.S. (Tea Club, Barrowian Society), pelo romance impossível com Edith (Mimi Keene/Lily Collins), e pela guerra. Todos elementos formadores de sua personalidade e obra.

À começar pelo evento mais evocativo as batalhas épicas de suas aventuras, a "guerra para acabar com todas as guerras". A 1º Guerra Mundial é o ponto de partida da produção, e também de maior virada na vida do autor. A narrativa alterna entre seus instantes mais críticos no conflito, e a formação do protagonista desde a infância. Em ambas as linhas temporais, os mais atentos encontrarão, nomes, elementos, eventos e conceitos que inspiraram o vasto mundo literário de Tolkien. Alguns em sequências que poderiam ter saído das trilogias de Peter Jackson, outros apresentados de forma mais sutil.

O formato, com duas linhas do tempo alternadas, não é revolucionário, mas é eficiente. O vai-e-vem ente a tensão das trincheiras e dos momentos menos explosivos de sua infância se equilibram. Além de permitir que um tempo maior seja gasto em sua formação. O que não significa que a infância de Tolkien tenha sido calma ou simples.

Hoult e Gilby, que vive a versão mais jovem do protagonista, são eficientes em apresentar sua personalidade contida, sem que este se desanimado ou apático. Este Tolkien tem atitudes ponderadas, tanto pela condição precária em que vive, quanto pela genialidade que o destaca dos demais. Mas consegue demonstrar entusiasmo, empatia, paixão e até um certo nível de obsessão por trás de seu comportamento mais "recatado". É claro, o destaque aqui é de Hoult, que encena a maioria dos momentos decisivos e complexos, com bastante verdade em suas escolhas.

Também são coerentes e bastante fluidas, a passagem de tempo que transformam o elenco mirim em jovens adultos. O elenco apresenta um trabalho acertado entre as duas versões de cada personagem, especialmente os membros da T.C.B.S.. O grupo de quatro amigos formado por Tolkien, Christopher Wiseman (Ty Tennant/Tom Glynn-Carney), Robert Gilson (Albie Marber/Patrick Gibson) e Geoffrey Smith (Adam Bregman/Anthony Boyle), onde os jovens começaram a  nutrir e encorajar os trabalhos e ambições uns dos outros.


Há ainda tempo para mostrar um pouco da sociedade britânica da época, já que suas obras também são um reflexo de seu tempo. Mostrando a forma como a sociedade lidava com alguns órfãos, o sistema educacional e de classes em que estavam inseridos. A reconstrução de época bem executada ajuda na criação desta Inglaterra nas primeiras décadas do século XX.

Menos fantasiosa que o mundo que ele criou, a vida de John Ronald Reuel Tolkien não foi pacata ou desprovida de desafios. Essa bagagem é o que fornece os dilemas com os quais facilmente nos relacionamos nas aventuras de Bilbo e companhia. Longe de insinuar que a criação da Terra Média fora um efeito colateral de suas experiências, ou um brilhantismo de momento, Tolkien deixa claro que uma obra tão rica, só poderia ter uma origem igualmente complexa.

Tolkien
2019 - Reino Unido - 112min
Biografia, Drama

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